25 - As Cartas (Ester)

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Eu estava gostando da pizza. Agora meu estômago está embrulhando. O que está acontecendo comigo? Por que de repente Miguel parece mais bonito, só porque eu quero odiá-lo.

Cutuco a pizza com o garfo, mas não consigo colocar mais nada na boca. Há um amargo eterno tomando conta de mim. Eu não quero me arriscar mais, tenho muitos motivos para querer permanecer segura. Só eu sei! Mas ao mesmo tempo, revelar que eu sou Nabi pode acelerar as coisas. Quanto mais rápido solucionarmos nossos problemas e nos livrarmos de todo mistério e ansiedade, melhor.

— Ficou pensativa de repente — diz Miguel. A voz dele soa longe, como se não estivesse tão perto.

Olho para ele e consigo ver apenas aquele menininho. Isso me faz lembrar o baile de máscaras. Eu me lembrei de Do-yun o tempo inteiro e acabou que era ele mesmo! Achei que eu estava enganada, mas aqueles olhos. Ah! Eu queria que não fosse. Dançamos as duas músicas que me faziam lembrar o garoto que foi o primeiro a me abandonar.

— No desfile, eu tive uma ideia maluca. Queria montar um desfile de vestidos inspirados em contos de fadas. Sou muito ridícula? — pergunto tentando mudar de assunto.

— É claro que não. A ideia é ótima. Pode chamar muita atenção nas redes sociais. Você poderia mostrar o processo de produção dos vestidos, desde o desenho até a fabricação. Mostrar alguns para atiçar a curiosidade e tenho a certeza de que será um sucesso.

Que bom que deu certo.

— Você é mesmo um CEO, eu dei a ideia e você formulou um projeto em segundos — elogio.

— Posso te fazer algumas perguntas? Promete não fugir? — pergunta.

Parece que não deu tão certo quanto eu imaginei.

— Você pode tentar — afirmo.

— A música que você dançou é do filme que assistimos juntos, você...

— Não estava pensando em nada quando a escolhi, apenas pensei que daria certo com a apresentação — minto, cortando antes que ele fizesse a pergunta completa.

Clara me disse para escolher uma música que me tocasse emocionalmente porque isso melhoraria meu desempenho, mas eu nunca imaginei que Miguel apareceria para assistir a apresentação.

— Quem era aquele rapaz que estava conduzindo o pessoal? Ele é professor? Diretor? É da administração?

— Fabricio? Não! Ele é um dos sócios, na verdade ele cuida da cede da academia de dança, que é em São Paulo. Parece uma escola pequena, mas não é.

— Entendo — diz Miguel, colocando um pedaço de pizza na boca. — Então vocês nem tem muito contato. Achei que fosse um amigo. Ele estava te tratando como um.

— Faz algumas semanas que ele está aqui, por causa dos ensaios. Ele está conduzindo a peça e é bem exigente.

Miguel engole o pedaço inteiro que colocou na boca e quase engasga. Deixa o garfo bater no prato, o que faz um barulho que ecoa o restaurante vazio.

— Mas se ele está conduzindo a peça, isso quer dizer que vai ficar até o final, tipo alguns meses?

— Sim. Fabricio precisa avaliar os dançarinos e corrigir os erros.

— Corrigir os erros, tipo, dançando com vocês?

O que é isso? Miguel está com ciúmes?

— Quando foi que ficou tão interessado em Balé? — pergunto.

— Estou tentando entender mais sobre o que você gosta — ele disfarça.

— É por que ele é bonito? — provoco.

A Garota da Máscara (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora