33 PT 1 - Promessa de dedinho (Ester)

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Poucas horas antes:

— Achei que você ficaria decepcionada comigo — comenta Sophia, antes de entrarmos na cafeteria.

— Eu fiquei assustada quando te vi armada, mas você disse que foi designada para me proteger, achei isso legal. Já sabia qual seria a sua tarefa antes de aceitar a proposta, não é verdade? Gostei de descobrir que fez tudo isso por saber que eu precisaria de proteção. Como eu poderia ficar decepcionada com você?

Meus olhos ficam embaçados de repente e me sinto tonta.

— Sim, eu sabia. Você está certa. Queria poder te proteger. Você é a única família que eu tenho.

Sinto algumas lágrimas se acumulando em meus olhos e queria muito curtir esse momento. Sophia dizendo que sou sua única família é algo importante para mim, mas tudo o que consigo é levar as mãos até a cabeça. Parece que algo está explodindo em meu cérebro.

— Ester, você está bem? — A voz de Sophia está distante. Encaro minha amiga, que logo percebe meu desespero.

Imagens aleatórias começam a passar por minha mente, mas não fazem sentido algum. Algumas pessoas se aproximam perguntando o que houve e escuto uma delas se oferecer para chamar uma ambulância.

— Sophia, não precisa. Só me leva pra sua casa, por favor — peço.

Ela consente e me conduz até o carro. Eu me sento e fecho os olhos tentando me acalmar. A imagem de Ricardo com as mãos em volta do meu pescoço é reprisada em minha mente, mas não sou eu quem ele enforca, é Nabi, a garotinha de cinco anos que um dia eu fui. O que está acontecendo? — Paregrita um garotinho acertando as costas do homem com alguma coisa. Da imagem dos olhos assustados do garoto, eu me vejo com nove anos correndo em meio às árvores. Memórias! Elas estão voltando. Eu não as queria, mas agora preciso delas. Respiro e inspiro profundamente deixando-as retornar aos poucos.

— Será melhor te levar para o hospital — afirma Sophia.

— Não precisa. Estou me lembrando.

— O quê?

— Recuperei a memória — explico e deixo as lágrimas caírem. — Eu me lembro. De tudo.

Sophia arregala os olhos e dirige até a sua casa.

— Posso tomar um banho? — pergunto e ela meneia a cabeça confirmando.

Sou grata por Sophia não perguntar nada ainda.

Deixo a água escorrer por meu rosto e corpo. Aos poucos as imagens vão se encaixando e fazendo sentindo. Libero todas as lágrimas sofridas que guardei dentro de mim tentando reprimir essas memórias. Deixo que meu choro ressoe como realmente é, desespero puro. A dor em meu peito é tão forte que não tento abafar meus soluços e gemidos.

[***]

Faz alguns minutos que estou sentada encarando minha amiga sem dizer nada.

— Quer falar sobre o que você se lembrou? — pergunta Sophia.

— Quero, só não sei se consigo.

— Estou aqui por você.

— Acho que bater com a cabeça não foi bem o motivo da minha perda de memória. Eu provavelmente reprimi todas as lembranças que me causaram dor — conto. — Eu deixei Miguel se aproximar de mim no orfanato por uma razão, mas eu havia me esquecido.

— E por que deixou aquele garoto se aproximar de você?

— Porque eu já o conhecia, eu o reconheci — afirmo, deixando Sophia surpresa. — O nome que eu dei a ele, Do-yun. Esse era realmente o nome dele. Eu troquei o sobrenome porque fiquei com medo de que ele também estivesse se escondendo. Eu o chamei de Chang Do-yun, mas o seu nome era Kim Do-yun. O pai dele era policial. Kim Yeong-gi, ele nos salvou.

A Garota da Máscara (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora