22 PT 2 - Somos todos corajosos (Miguel)

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Entro no local e vejo Alan sentado em uma poltrona. Olhando assim ele parece o "Rei" do lugar.

Ele masca um chiclete. Consigo perceber novamente a tatuagem quase saltando pelo colarinho. Seu semblante exala sarcasmo.

— A que eu devo a honra de receber o príncipe da cidade na minha área? — ele pergunta.

— Pensei bem antes de vir aqui — digo olhando em volta e me sentando.

O local é mal iluminado e obscuro, típico de um clube noturno. Não tem nada a ver com aquele garoto que discutiu comigo na porta da minha casa.

— Ou você tem transtorno de personalidade múltipla, ou eu estou falando com outra pessoa agora.

Ele se inclina um pouco na minha direção. O deboche em seu semblante é muito profundo. Para que a minha teoria esteja errada, Alan precisa ser um ótimo ator.

— E o que te fez chegar nessa conclusão? — pergunta.

— Gosta de tatuagens e bebidas? — retruco.

O cara na minha frente ensaia uma risada, mas a cópia de Alan sabe que ele foi descoberto, então eu sorrio imitando o seu sarcasmo antes de continuar:

— Geralmente enfermeiros, principalmente os que trabalham em sanatórios não podem ter tatuagens, isso pode confundir ou ser um tipo de gatilho para os pacientes. Quem de vocês dois namorou minha esposa?

— E se eu disser pra você que nós dois namoramos Ester? — ele debocha ainda mascando esse chiclete irritante.

— Ela não percebeu? — pergunto.

— Como poderia? Ela sempre se fez de santa, nunca me deixava avançar no nosso relacionamento. A única forma de Ester notar a diferença entre nós dois era nos vendo sem camisa, mas ela insistia em dizer que queria se casar antes de me deixar ultrapassar a linha traçada. Acabei me irritando e terminando com ela — explica sem empatia nenhuma.

— E quão sábia ela foi. Você não parece uma pessoa totalmente livre de certos tipos de doenças ou que assumiria um relacionamento duradouro caso ela ficasse grávida — comento.

— O garoto poderia assumir por mim. Ele não pode ir contra as minhas decisões. Alan me deve a vida e muito mais. — Ele se levanta e eu faço o mesmo.

— Quem é você? — pergunto.

— Eu sou o garoto e ele é o único que existe. Isso é só o que você precisa saber. Imagine que eu sou o Pinóquio e ele o menino de verdade. Pronto! Mistério solucionado.

— Eu não me contento com mentiras. Se eu puder descobrir quem está por detrás do boneco, eu o farei, mesmo que eu tenha que cortar metade do seu nariz — afirmo.

— Você pode tentar, não será tão fácil. Eu sou bom em esconder as pistas e não notou como eu sou um ótimo ator? Enganei a todos.

— Não a mim! Eu sugeriria que escondesse melhor essa tatuagem que salta pelo seu colarinho. — Aponto com os dedos e ele me olha fechando a cara.

— Não vai querer me irritar, Miguel. Você não me conhece o bastante. Eu posso ser pior do que consegue imaginar.

— Então me deixe te contar um segredo, eu também posso ser pior do que você é capaz de imaginar. Fique longe da minha esposa! Se tentar se aproximar novamente de Ester, vai conhecer um lado meu que ainda não viu. E ninguém vai sentir falta de um cara que não existe, não é verdade?

Ele ri debochadamente.

— Alan amava aquela garota, ele era o amigo. Eu avisei pra ele não se apegar demais. Mas quer saber de uma coisa? Ester sempre gostou mais de mim e ainda gosta.

A Garota da Máscara (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora