Amanda Linhares
— Tá pensando em quê? — Diogo quebrou o silêncio enquanto acariciava minhas costas com os dedos.
— Muitas coisas. — disse sentindo seu toque, quase dormindo com a carícia.
— E uma delas é? — me olhou.
— Que eu tô namorando. — ri, alisando seu peitoral.
Não existia nada melhor do que conversar com ele após o nosso sexo. Era bom, era leve e relaxante. Eu me sentia num dia pós praia, sentindo o corpo balançar na cama depois de muito ter ficado no mar. O efeito que o Diogo causava sobre mim se assemelhava a um calmante tarja preta. Eu ficava zen.
— Tá gostando dessa experiência? — perguntou descontraidamente.
— Muito. — o olhei sorrindo — Mas tá engraçado. — ri.
— Engraçado? — franziu o cenho, rindo — Como assim?
— Eu nunca imaginei que eu fosse namorar do nada. Sempre achei que quando acontecesse, seria com uma pessoa do meu convívio. E foi com um completo estranho.
— Cê falando assim parece até que eu continuo um estranho. — riu, me olhando.
— Ah, não foi iss...
— Eu entendi. — me interrompeu, mexendo nos meus cabelos com admiração — Mas sendo sincero, eu também achei que fosse acontecer com alguém do meu convívio. Na verdade, eu achei que eu fosse morrer sozinho.
— Por quê? — levantei meu tronco, o olhando de cima.
— Por várias coisas. — suspirou — A história é longa demais.
— Eu gosto de histórias longas. — disse sorrindo, o fazendo sorrir aberto.
Ele ficou em silêncio alguns segundos, pensando se realmente devesse falar ou não. Após um tempo quieto, ele suspirou e encheu os peitos de ar, se preparando pra falar.
— Tá, só não me julga. — respirou fundo — É que eu sou policial.
Fiz uma grande cara de interrogação, esperando que ele explicasse melhor.
— A cada vez que eu ponho a farda, eu penso que eu não vou mais voltar. — explicou, desfazendo a minha feição de dúvida — É sempre assim. Eu coloco a farda — estalou os dedos —, já penso que eu vou morrer. E por eu pensar isso, achei que eu fosse morrer antes de encontrar alguém que eu realmente gostasse e vice-versa. Só que aí... Cê apareceu. — encolheu os ombros, me olhando.
— Por que você pensa isso? — perguntei calma — Cê não vai morrer porque é policial, Diogo.
— Não sei, ninguém sabe. — ele olhava pro teto enquanto falava — Mas eu me trato psicologicamente porque de qualquer forma é um pensamento involuntário. Já vi tantas coisas que... Penso isso. — suspirou — Já vi colegas estarem bem agora e em um minuto morrerem, tanto de fogo inimigo quanto de emboscada. Eu saio de casa sem saber se eu volto e sempre que eu volto, eu agradeço mas com um pé atrás. Não é porque eu tô em casa que eu tô seguro, sabe? — respirou fundo — É meio que impossível não ser negativo sendo quem eu sou. Me dei conta disso quando... — ele parou de falar — Enfim... — respirou fundo, desfazendo sua feição séria — Pesei o clima sem querer. — riu.
— "Quando" O quê? — insisti, curiosa.
— Nada. Perdi a linha desabafando, não quero estragar o dia que eu tive contigo. — me olhou.
— Mas a gente tá só conversando. — ri — Não vai estragar nada, não é uma discussão.
Ele ficou em silêncio, batucando minhas costas com seus dedos, bem pensativo. Até que levantou-se sem aviso prévio, me deixando deitada na cama, esperando ele dizer algo.
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Entre A Paz E O Caos
RomanceUma jovem de dezoito anos, negra, periférica, nascida e criada na favela da Rocinha, localizada na Zona Sul do município do Rio de Janeiro. Com um pai ausente, foi criada sozinha pela sua mãe. Seu maior sonho é ingressar em uma faculdade e sair de o...