Capítulo Trinta e Três

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Amanda Linhares

— Ele é o quê? — perguntou franzindo as sobrancelhas.

— Mãe...

— Policial? — me interrompeu — Ele é policial? — perguntou incrédula — Você tá maluca?!

Era disso que eu tanto estava correndo.

— Deixa eu falar, por favor. — juntei as mãos.

— Não! — gritou — Eu não quero escutar! Cala a boca! — disse irredutível — Amanda...

— Mãe! — gritei, a interrompendo e causando um silêncio sepulcral, constrangedor.

Respirei fundo e prossegui, mesmo sentindo um nó na garganta que quase me impedia de engolir saliva.

— Calma, me escuta. — suspirei — Eu sei o que você tá pensando porque tudo o que você tá pensando nesse momento, eu já pensei.

— Pensou? — disse ironicamente — Amanda, ele é um policial e a gente mora na favela! Essa porra toda aqui é cercada pela pior facção do Rio e você... — ela parou de falar, claramente irritada — Você saindo com um policial! — cochichou, mas era perceptível sua rispidez — Ele trouxe a gente na entrada da favela! Imagina se alguém cisma de revistar ele?! A gente ia fazer o quê?

Fiquei em silêncio, eu não tinha o que dizer! Ela estava certa e isso me deixava cada vez mais com um sentimento de culpa, era incessante e estava me corroendo por dentro.

— Você parou pra pensar que se descobrirem de vocês, o que não vai demorar se você não terminar isso tudo logo, você vai morrer? — sua voz pesou — Pior! Tá arriscado ele sair ileso e só você descer à sepultura!

— Mãe, calma. — a única coisa que me veio a mente — Eu só quero que você me escute!

— Eu não quero te escutar, Amanda! Que burrice é essa que você tá fazendo? — gritou — Você tá doida!

— Para! — berrei, a calando — Mãe — minha voz tremulou —, me escuta. Agora! — mas eu prendi o choro — Escuta. Para de passar por cima de mim e me ouve.

Ela respirou, ficando em silêncio e se sentou na cama, fadigada. A mesma passou a mão na testa, secando um suor imaginário e eu pude notar a mesma trêmula. Eu entendia seu nervosismo, não era tão simples assim e eu não a julgaria por isso, mas ela precisava me escutar.

— Eu... — respirei antes de continuar — Sei que a senhora tá nervosa. Sei que é uma situação estreita, mas por favor, a senhora precisa me entender.

— Não dá pra te entender. — disse com a voz trêmula — Não entendo essa vontade de viver assim, correndo risco.

— Não quero deixar de ser feliz por causa do que me cerca, mãe. — meus olhos marejaram — O Diogo, ele... É incrível. Ele não é nada do que ele aparenta ser por causa da profissão. Ele é doce, ele...

— Sabe por que ele é isso tudo? Porque ele quer te... — parou de falar, bufando — Ele é homem! Todo homem se faz de bom moço pra conseguir o que quer!

— Não, mãe! Ele nunca nem cogitou isso! Você viu como ele é, cê conversou com ele!

— A questão não é essa! — exclamou — Isso aí quem tem que saber é você! Eu não tô nem aí! O meu problema com ele é ele ser policial e egoísta a ponto de não ligar pra possíveis represálias que você poder vir a sofrer aqui dentro! É essa a questão!

— Ele pensa nisso tanto quanto eu! Eu que quero continuar porque eu tô feliz, ele me faz bem!

— É ilusório! Ele vai ser o responsável do seu mal!

Entre A Paz E O CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora