Capítulo Quatro

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Diogo Novais

Quinta-feira acordei cedo pra mais um dia de serviço. Meu trabalho era escalado, vinte e quatro por setenta e duas horas, que significava um dia inteiro trabalhando e três dias de folga.

Cheguei no batalhão e fui em direção ao vestiário, me uniformizei e logo me encontrei com o Thiago.

— Equipa, a gente tá indo pra CDD.

— Comecei o dia bem, mal cheguei e já vou sair. — disse desanimado.

— Só não deixa o Rodrigo escutar, senão ele vai vir te dar lição de moral. — ele havia se referido ao Paiva.

— Se eu escutar mais qualquer desaforo vindo dele, eu surto, cara. — disse rindo e caminhando junto a ele até o vestiário, novamente.

Coloquei meu colete pesado e fiquei me encarando no espelho. Era estranho saber que eu poderia morrer a qualquer momento de uma forma trágica, mas mesmo assim gostar de exercer o que eu exercia.

Com o meu fuzil apontado pra baixo, fui até a viatura e subi na caçamba, como de costume e logo a mesma deu a partida.

Eu amava o vento tocando meu rosto, amava olhar as paisagens livremente e olhar as pessoas passando, as mesmas me olhavam e eu gostava dessa troca de olhares involuntários com desconhecidos, gostava mais ainda quando acontecia com uma criança, que me olhava e sorria acenando, aquela pureza me revitalizava de uma forma instantânea.

Já o Thiago odiava ficar na caçamba por motivos válidos, ele tinha medo de que, ao chegar próximo a uma favela, algum traficante atirasse na nossa direção e o tiro atingisse fatalmente um de nós, mas eu o convencia a ir comigo sempre que dava.

O tráfico na Cidade de Deus era extremamente presente, sempre que íamos, era cem por cento de chance de haver um confronto. Mas mesmo estando a caminho de um possível tiroteio, a minha mente não estava focada na missão, estava focada em outra coisa completamente oposta a guerra, uma coisa que me parecia ser pura paz.

— Será que vai ter outra ocorrência na Rocinha por esses dias? — olhei pro Thiago que estava olhando a paisagem, mas logo me olhou quando escutou minha voz.

— Ainda tá com aquela criança na cabeça? — disse descontraidamente.

— Ah, para! Ela não era criança, só era pequena.

— Ela deve ter quinze anos, é uma criança pra você.

— Sai dessa, Thiago! — disse rindo.

— Sai dessa você, velho velho querendo uma garotinha! — disse rindo.

— Cê viu ela no dia?

— Eu não lembro o que eu comi hoje de manhã, Diogo, cê acha que eu vou lembrar de uma criança favelada aleatória? — ele deu ênfase no "criança", de uma forma irônica, me fazendo rir.

— Por isso que cê tá falando isso! Ela não era criança, dava pra perceber, ela era linda, cara, é sério, não tem como esquecer ela.

— A gente indo fazer uma operação e você falando dessa garota que deve ser muito mais nova que você, que provavelmente já tem um namorado, e que possivelmente esse namorado é traficante. Se envolve mesmo nisso!

Entre A Paz E O CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora