Amanda Linhares
Cheguei em casa sorrateiramente, abrindo a porta devagar e encontrando minha mãe no sofá, cochilando enquanto um filme rodava na televisão. Sentei na beira do sofá, a acordando com calma e carícias leves até que a mesma abrisse os olhos.
— Chegou... — disse sonolenta.
— Cheguei. — sorri, acariciando sua cabeça.
— Tava vendo um filme, acabei dormindo. — bocejou — Mas o filme é bom, assiste depois.
— Mais tarde nós assistimos juntas, pode ser?
— Pode. — disse se sentando lentamente, se espreguiçando — E aí? — pôs a mão na minha coxa — Como foi o passeio?
— Ah, foi ótimo! — disse animada.
— Castelo de Itaipava... — zombou, bocejando mais uma vez — Lá é caro, não é qualquer um que pode pagar.
— Mas a gente ficou lá de um dia pro outro, talvez se fosse mais tempo... Aí sim.
— Continua sendo caro. — disse enquanto estalava sua coluna — Que PM é esse que ganha bem? — perguntou estreitando os olhos, me fazendo rir — Estranho. Procura saber direitinho pra ver se ele não tá metido com coisa errada, Amanda.
— Tipo milícia? — sugeri, rindo — Não, o Diogo... Ele não é corrupto. É que ele é Oficial e também é do Choque, então soma tudo isso e...
— Ele é do Choque?! — me interrompeu, perguntando surpresa — E você não me contou antes por quê?
— Sei lá, esqueci. — fui sincera, não sabia que aquilo importava pra ela.
— Mas a sua situação só piora, né? Namora policial que ainda é militar e não bastando isso tudo, ainda é do Choque. — maneou a cabeça negativamente — Estuda mesmo, porque se esse namoro vingar, não dá pra ficar aqui, não. Pega o dinheirinho de professora e vaza da Rocinha!
— Ai, mãe... — disse descontraidamente, revirando os olhos e recebendo um tapa amigável no braço.
— "Ai, mãe" nada! Esse pessoal sente cheiro de policial de longe, e agora essa menina aí do seu pai deu um jeito de se meter com esse pessoal daqui, tem que tomar cuidado, hein.
— Eu tomo, mãe. — disse tirando os tênis.
— Hum. — torceu os lábios — E como foi lá? Foi maneiro?
— Foi tudo! A gente precisa ir um dia!
— E rolou alguma coisa? — perguntou sorrindo sem mostrar os dentes.
Ao lembrar, ri involuntária e genuinamente, desejando mais do que tudo que o tempo corresse pra que pudéssemos nos encontrar de novo. Pra que pudéssemos nos... Amar. Era simplesmente mágico.
— Ih, já vi que sim, pela reação. — riu — Fala, aconteceu?
— Sim. — ri.
— Me fala como foi então! — disse animada — Foi bom, foi ruim...
— Foi ótimo, né? Não poderia ter sido melhor! — tentava conter meu entusiasmo ao máximo, mas estava quase impossível — Ai, mãe... Eu tô amando ele. — suspirei — De verdade.
— Ah, amor. — sorriu — Vem cá. — abriu os braços, me abraçando com ternura — Que bom! Amar é tão bom... — afagou meus cabelos — Mas vocês usaram camisinha, né? — perguntou descontraidamente.
— Sim. — ri.
Ela suspirou, parecia ter se dado conta de que agora eu já era uma mulher formada e que estava prestes a me jogar em um relacionamento.
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Entre A Paz E O Caos
RomanceUma jovem de dezoito anos, negra, periférica, nascida e criada na favela da Rocinha, localizada na Zona Sul do município do Rio de Janeiro. Com um pai ausente, foi criada sozinha pela sua mãe. Seu maior sonho é ingressar em uma faculdade e sair de o...