Diogo Novais
— E aí, cê tá bem? — enviei.
Parecia que nada que eu escrevia era bom o suficiente pra enviar a ela. E eu só percebia isso depois de enviar a mensagem. Fiquei olhando pro ícone, esperando ele ficar azul, mas ao invés disso acontecer, a campainha tocou.
— Hulk! Abre a porta! — disse ainda focado na mensagem.
Escutei a porta sendo aberta e quando olhei pro portal, vi meus pais. Minha mãe estava cheia de sacolas nas mãos, assim como meu pai.
— Oi, meu amor! — minha mãe falou com o Hulk, que balançava o rabo afoito, enquanto latia e grunhia, ele amava ela.
— Pensei que tivesse vindo pra me ver. — disse desligando o visor do smartphone e levantando do sofá, indo em direção a eles.
— Não quero papo contigo. — disse fingindo estar chateada.
Meu pai se aproximou e me abraçou forte, retribuí.
— Tá doente é, cara? — ele se sentou no sofá com suas sacolas.
— Minha mãe aumenta muito as coisas. — disse rindo.
— Não aumentei, não, senhor! Você tá com anemia! — disse me repreendendo, mas com um tom de descontração.
— Leve. — completei.
— Não interessa, Diogo!
— Tá bom, dona Lavínia. — disse rindo — Que que cês trouxeram? — disse tentando ver uma das sacolas da minha mãe.
— Verdura pra essa tua anemia, cê só come porcaria que eu sei. — disse beijando meu rosto.
Franzi o rosto, não era muito familiarizado com legumes, verduras e vegetais.
— Eu trouxe cerveja pra gente! — meu pai levantou sua sacola.
— Preferi as compras dele. — disse rindo — Me dá, pra eu botar na geladeira. — disse pegando sua sacola com um engradado de latinhas.
— Não muda, né? — minha mãe disse rindo.
— Eu vou comer suas verduras, não precisa ficar chateada. — disse zombando.
Ela me ajudou a fazer o almoço, com tudo o que uma pessoa anêmica precisava. Arroz, feijão, carne assada com agrião refogado. De salada, cenoura ralada, beterraba, alface, cebola e tomate, que aliás eu detestava, mas comeria. Já que eu estava anêmico, faria esse esforço, devia me ajudar em alguma coisa. E para beber, suco de limão batido com inhame, esse era só pra mim.
A parte que eu mais sentia falta de morar com eles era dessa atenção que eu recebia. Filho único, sempre fui muito cuidado. Quando comecei a morar sozinho, assim que passei no concurso da polícia, foi um choque de realidade absurdo. Uma semana só vivendo de miojo e fast-food, consegui desenvolver gastrite por conta da má alimentação, quase nunca atacava, mas volta e meia fazia questão de lembrar que ela estava ali por minha falta de cuidado comigo mesmo.
Comemos na mesa, depois de meses sem eu usá-la. Só usava quando meus pais estavam lá, fora isso, ela servia apenas pra eu entulhar algumas papeladas, contas, etc. Deixei meu smartphone do lado do meu prato, enquanto comia, olhava pro visor a todo momento, mas não acendia nunca, minha mãe estava percebendo minha agonia e pegarreou, fazendo eu e o meu pai a olhar.— Que foi? — disse com a boca cheia.
— Tá esperando alguma ligação importante?
— Mensagem. — disse voltando a comer.
— Hm. — colocou parte de uma fatia de beterraba na boca — E essa mensagem seria de quem? — disse estudando minha feição.
— Uma pessoa aí.
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Entre A Paz E O Caos
RomanceUma jovem de dezoito anos, negra, periférica, nascida e criada na favela da Rocinha, localizada na Zona Sul do município do Rio de Janeiro. Com um pai ausente, foi criada sozinha pela sua mãe. Seu maior sonho é ingressar em uma faculdade e sair de o...