Diogo Novais
— Vai, Diogo! É a regra do batalhão! — Thiago disse descontraidamente.
— Que regra é essa que eu nunca fiquei sabendo? — dei a última garfada no meu almoço.
— A gente acabou de inventar — se referiu aos outros que aguardavam ansiosamente — , mas a partir de hoje, todo mundo que terminar ou começar um namoro precisa estalar um ovo cru na boca.
— E quem noivar? — Murilo perguntou rindo.
— Aí estala dois. — riu.
— Esquece, não vou fazer. — disse convicto.
— Só um ovinho, Diogo, vai! — um Cabo zombou.
— Não vou fazer isso. — disse bebendo água, fazendo a comida descer melhor.
— Ah, para de ser fresco, cara! E além do mais, ovo cru é bom pra anemia! Você não tá anêmico? — Thiago perguntou.
— E você leu isso aonde? — disse levantando, levando meu prato sujo até a pia.
— Minha vó obrigava eu, meus irmãos e meus primos a beber ovo cru pelo menos uma vez por mês. Cresci saudável e nunca tive anemia. — disse convencido — Diferentemente de uns aí... — zombou.
— Não foi você que já contraiu Salmonella quando era criança? — ri, lavando a minha louça e pondo-a no escorredor, deixando a pia limpa como estava.
— Não vem ao caso. — rebateu.
— Tá explicado o porquê. — disse secando as mãos, me virando.
O rancho estava muito mais cheio do que o comum, até os policiais que cozinhavam saíram dos fogões pra assistir o que estava acontecendo.
— Pode dispersar, galera. Eu não vou beber ovo cru.
— Valendo um galo. — um Soldado jogou cinquenta reais na mesa.
— Valendo dois! — um Sargento jogou mais uma cédula de cinquenta na mesa.
Eu estava desacreditado. Aquela comoção inteira era pra me fazer beber um ovo cru. Se fosse o caso de nos reunirmos assim pra uma operação, certeza que não fariam nem metade do esforço.
— Por cem reais eu bebia até cloro. — o respectivo Sargento zombou.
— Desencana, eu não vou beber.
— Valendo duzentos reais. — Thiago disse jogando uma cédula de cem na mesa.
— Se o Coronel entrar aqui e ver isso... — um Cabo disse.
— Aí todo mundo coloca a culpa no Diogo. — Thiago disse rindo.
— Vai logo, Diogo, porra! — Murilo disse — Duzentos reais, parceiro!
Olhei pro ovo na mão do Thiago e bufei, irritado com a decisão que eu havia tomado.
— Me dá essa porra desse ovo! — disse puxando da mão do Thiago.
Voltei à pia, estourei o ovo dentro do copo que eu havia usado no almoço e me virei pros colegas de farda que já estavam até com seus celulares na mão, gravando o que acontecia e ansiosos pra eu virar o copo logo.
— Só pra deixar registrado, todo mundo que é meu subordinado e tá dando força pra essa putaria que o Thiago tá fazendo comigo, tá fodido na minha mão. Gravei a cara de todo mundo. — disse, virando o copo em seguida e sentindo aquele visco descer pela minha garganta quase parando no caminho.
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Entre A Paz E O Caos
RomanceUma jovem de dezoito anos, negra, periférica, nascida e criada na favela da Rocinha, localizada na Zona Sul do município do Rio de Janeiro. Com um pai ausente, foi criada sozinha pela sua mãe. Seu maior sonho é ingressar em uma faculdade e sair de o...