Capítulo Quarenta e Nove

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Diogo Novais

— Vai, Diogo! É a regra do batalhão! — Thiago disse descontraidamente.

— Que regra é essa que eu nunca fiquei sabendo? — dei a última garfada no meu almoço.

— A gente acabou de inventar — se referiu aos outros que aguardavam ansiosamente — , mas a partir de hoje, todo mundo que terminar ou começar um namoro precisa estalar um ovo cru na boca.

— E quem noivar? — Murilo perguntou rindo.

— Aí estala dois. — riu.

— Esquece, não vou fazer. — disse convicto.

— Só um ovinho, Diogo, vai! — um Cabo zombou.

— Não vou fazer isso. — disse bebendo água, fazendo a comida descer melhor.

— Ah, para de ser fresco, cara! E além do mais, ovo cru é bom pra anemia! Você não tá anêmico? — Thiago perguntou.

— E você leu isso aonde? — disse levantando, levando meu prato sujo até a pia.

— Minha vó obrigava eu, meus irmãos e meus primos a beber ovo cru pelo menos uma vez por mês. Cresci saudável e nunca tive anemia. — disse convencido — Diferentemente de uns aí... — zombou.

— Não foi você que já contraiu Salmonella quando era criança? — ri, lavando a minha louça e pondo-a no escorredor, deixando a pia limpa como estava.

— Não vem ao caso. — rebateu.

— Tá explicado o porquê. — disse secando as mãos, me virando.

O rancho estava muito mais cheio do que o comum, até os policiais que cozinhavam saíram dos fogões pra assistir o que estava acontecendo.

— Pode dispersar, galera. Eu não vou beber ovo cru.

— Valendo um galo. — um Soldado jogou cinquenta reais na mesa.

— Valendo dois! — um Sargento jogou mais uma cédula de cinquenta na mesa.

Eu estava desacreditado. Aquela comoção inteira era pra me fazer beber um ovo cru. Se fosse o caso de nos reunirmos assim pra uma operação, certeza que não fariam nem metade do esforço.

— Por cem reais eu bebia até cloro. — o respectivo Sargento zombou.

— Desencana, eu não vou beber.

— Valendo duzentos reais. — Thiago disse jogando uma cédula de cem na mesa.

— Se o Coronel entrar aqui e ver isso... — um Cabo disse.

— Aí todo mundo coloca a culpa no Diogo. — Thiago disse rindo.

— Vai logo, Diogo, porra! — Murilo disse — Duzentos reais, parceiro!

Olhei pro ovo na mão do Thiago e bufei, irritado com a decisão que eu havia tomado.

— Me dá essa porra desse ovo! — disse puxando da mão do Thiago.

Voltei à pia, estourei o ovo dentro do copo que eu havia usado no almoço e me virei pros colegas de farda que já estavam até com seus celulares na mão, gravando o que acontecia e ansiosos pra eu virar o copo logo.

— Só pra deixar registrado, todo mundo que é meu subordinado e tá dando força pra essa putaria que o Thiago tá fazendo comigo, tá fodido na minha mão. Gravei a cara de todo mundo. — disse, virando o copo em seguida e sentindo aquele visco descer pela minha garganta quase parando no caminho.

Entre A Paz E O CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora