Capítulo Cinquenta e Dois

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Diogo Novais

— Vou estourar um champanhe quando a gente chegar em casa! — Thiago disse animado — O Rodrigo pediu baixa do batalhão, caralho! — bateu no volante, comemorando — Eu não tô nem acreditando que ele abriu mão disso tudo assim! — estalou os dedos.

— A verdade é que ele nunca nem precisou do batalhão. — disse pondo o cinto de segurança — A família dele tem dinheiro, o pai é sei lá o que de não sei lá das quantas...

— Diplomata. — me interrompeu.

— Isso aí! O cara vive fora do Brasil, a mãe dele eu acho que é engenheira civil. Nem combina com ele ser PM, ele entrou nisso aqui por diversão, porque a vida dele era muito parada.

— Entrou porque a vida era parada, aí tomou um tirinho no ombro e desistiu de tudo. — riu — Que palhaçada!

— Um tirinho que esfarelou o ombro dele, né? — frisei rindo — Tem certeza que vai deixar sua moto aqui no batalhão? — perguntei, mudando de assunto.

— Tenho. Tá aqui, tá em casa! Daqui a pouco eu volto. O negócio é eu te levar pra sua casa em segurança. — ligou meu carro — Na moto eu não vou conseguir reagir rápido se alguma coisa acontecer com você. — olhou pra trás, dando ré — Coé, Hulk, deita! Tá atrapalhando minha visão! — riu, empurrando o mesmo com sutileza.

— Valeu, irmão. — encostei a cabeça no banco, suspirando aliviado.

Ainda não entendia o motivo daquela perseguição. Eu era um policial tranquilo, não dava motivos pra ninguém criar inimizade comigo. O que poderia ter motivado aquilo? Será que só o fato de eu ser PM foi o suficiente? Quer dizer, eu sabia que isso era motivo o suficiente pra me matarem, mas não sabia que isso aconteceria tão cedo assim. Eu ainda esperava dar pelo menos dez anos de carreira pra que isso acontecesse.

— Inclusive, vamos querer também, né, Diogo? — Thiago saiu do batalhão, pegando a pista e começando nosso trajeto.

— Querer o quê? — o olhei.

— Andar armado, meu parceiro! Porra! — exclamou — Sete anos de polícia, atira bem, é rápido, é atento e ainda anda sem arma?! Por favor, né! — disse indignado.

— E lá vamos nós de novo! — disse descontraidamente — Você realmente acha que a arma te protege?

— Óbvio! Já me livrei de... — pensou — É, foi só de um assalto, mas eu me livrei. — riu.

— Sim, mas você sabe que toda vítima de assalto que tá armada tem muito mais chance de morrer, não sabe?

— Eu tô vivão.

— Exceção. — rebati — Sem contar que você só reagiu uma única vez. Eu não vou me arriscar de jeito nenhum nunca! Já não basta o perigo que eu corro fardado, você quer que eu corra sem farda também? — o olhei.

— Mas você é policial, meu parceiro! Quando você passou no concurso, já começou a correr perigo. Tá no contrato do policial correr risco com e sem farda. — rebateu — É o ócio do ofício, fazer o quê?

— Não, é diferente, Thiago. Prefiro continuar não usando arma fora do meu horário de serviço. Se vier me assaltar, vai levar tudo. Se vier me matar, vai me matar sem esforço nenhum.

— Aí quem que precisa usar arma pra te proteger? É isso aí, o Thiago! — disse descontraidamente — Eu mereço mesmo.

Mas no fundo eu sabia que ele me entendia apesar das brincadeiras implicantes dele. Jamais me arriscaria dessa forma, era burrice. Em anos de Polícia Militar, o que eu mais já havia visto eram casos de assaltos que terminaram com as respectivas vítimas mortas porque elas portavam arma de fogo no momento do ocorrido. Às vezes elas nem chegavam a reagir, só de estarem armadas era motivo pra elas morrerem.
Muitas das vezes os assaltantes iam destrinchados, completamente separados pra fazer o assalto. O que acontecia era que enquanto você estava reagindo com um, tinham mais três na escolta que você nem sequer desconfiava fazer parte da quadrilha. Aí você reagia, matava um, mas logo em seguida era morto pelos outros. Qual era a lógica de reagir afinal? Era isso que eu pensava e eu jamais mudaria.
O Thiago era um amigo fiel, mais do que fiel, sei que por mim ele era capaz de tomar um tiro. Com ele não era diferente, por ele eu faria de tudo também, inclusive tomar um tiro. Mas ele não se importava em pôr sua vida em risco e disso eu não concordava, só não o impedia ou tentava mudar seu costume, afinal, ele já tinha quase vinte e oito anos, sabia bem o que fazia e se fazia, era por vontade própria.
Já em casa, ele não quis ficar, precisava voltar ao batalhão pra buscar a moto e pra, após, ir até à Lorena. Eles iam sair juntos ainda naquela noite e ele não podia atrasar.
Apesar do susto e do rápido desespero, o meu dia havia sido pra lá de perfeito, curti com a minha família, vi meus primos que eu não via há anos e passei o dia com a garota que se Deus quisesse, logo mais, teria "Novais Mancini" no seu nome. Como era bom amar, sentir que fazia a diferença na vida de alguém. Ao lado da Amanda eu me sentia rei, poderoso, capaz de conseguir tudo o que eu almejava, me sentia o mais sortudo do Mundo.

Entre A Paz E O CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora