Capítulo Vinte e Sete

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Amanda Linhares

Nosso domingo se resumiu a pegar mais sol, ver filmes e comer besteiras. E claro, fazer o nosso teatro pra minha mãe não desconfiar, mesmo ela já estando minimamente desconfiada da nossa fuga ao baile. Ela viu a xuxinha da Rebeca, a mesma sabia pra que servia uma xuxinha daquele tamanho dentro da favela. Perguntou se a Rebeca tinha trago a mesma e a Rebeca disse que havia comprado na loja de biquíni. Com essa resposta, minha mãe deu uma trégua mínima.

— Bom dia. — sorri ao responder a mensagem do Diogo — Dormiu bem? — rolei na cama de felicidade, fazendo a Rebeca acordar.

— Para de se mexer. — disse sonolenta, roubando a coberta toda de mim.

Levantei da cama e liguei a luz do quarto, escutando várias reclamações.

— Que horas são? — sentou-se na cama, irritada.

— Quatro, já tá na hora. — fui até o ar-condicionado e o desliguei.

— Ai, amiga... — voltou a deitar — Tô morrendo de cansaço. — resmungou.

— Levanta logo! — puxei sua coberta.

Ela me olhou com os olhos apertados, mas visivelmente brava. Bufou e depois de eu insistir mais duas vezes, finalmente levantou. Nosso dia havia começado.

— Tranca tudo quando saírem, beijos! Amo vocês! — minha mãe disse abrindo a porta.

— Beijos, tia! Também te amo! — disse de boca cheia, sorrindo.

— Beijos, mãe! Chegar no trabalho, me fala! — gritei.

— Pode deixar. — disse fechando a porta e acenando pra nós.

— Te amo. — gritei, escutando ela falar que também me amava.

— Me passa a manteiga? — a Rebeca pediu de boca cheia.

— Come rápido que o caminho é longo. — disse a entregando o pote de margarina.

Ela assentiu e eu subi pra pegar minha mochila, a única coisa que faltava pra nós sairmos.
O dia estava nublado e frio, parecia que viria chuva mais tarde. Tranquei a casa e descemos a viela, uma descida curta, já que eu morava na metade da mesma.

— Amiga, não tem perigo? — disse preocupada, me fazendo lembrar de sábado à noite.

A rua estava deserta, só alguns estudantes e trabalhadores acordados. Os traficantes também deviam estar, mas por enquanto eu ainda não tinha os visto.

— Não — na verdade, eu não sabia —, pode ficar tranquila. — disse mesmo estando insegura.

— Será que eles tão por aqui? — ela estava realmente amedrontada.

— Não sei. Tem dias que sim, outros não. Mas tá tudo bem. — a tranquilizei novamente — E a sua mãe? — mudei de assunto.

— Não me ligou desde sexta, nem mandou mensagem.

Não consegui disfarçar minha feição de surpresa com uma pitada de choque. Eu não conseguia imaginar como uma mãe deixava uma filha de lado daquele jeito, não se preocupava em saber se estava bem, não dizia estar com saudades. Não estava acostumada com aquilo, minha mãe sempre dava um jeito de manter contato comigo, independente de onde ela tenha ido. Rebeca reparou minha cara e riu, já que eu fiquei boquiaberta.

— Eu sei que é estranho, mas eu me acostumei. Então tá tudo certo. — disse sorrindo — Não sinto falta.

— Ainda bem que pelo menos você sabe lidar.

Entre A Paz E O CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora