Felipe Ribeiro
— Tô muito cheia. — Brenda disse rindo, atravessando o portão da sua casa — Quase que não deu pra sobremesa. — riu.
— Mas você comeu duas vezes. — forcei um riso.
— Óbvio, eu não ia desperdiçar. — zombou.
Era inegável que a Amanda tinha conseguido acabar com a minha noite. Mas a Brenda não tinha culpa, ela nem sequer sabia o que estava acontecendo.
A todo momento eu arquitetava uma forma de abordar a Amanda, botar ela na parede, mas nada vinha em mente. A verdade é que eu queria falar logo com o Bravo o que estava acontecendo. A regra do morro era muito clara, era proibido se envolver romanticamente com bandidos de outras facções, milícia e policiais, que eram basicamente a mesma coisa. Ela tinha escolhido o lado dela e mesmo que ela fosse só amiga de um policial, já era o suficiente pra ela se tornar nossa inimiga.
Fiquei estagnado no portão, não quis entrar em sua casa e a Brenda desfez o sorriso, me olhando com um ar de dúvida.— Não vai entrar? — perguntou com estranheza.
Eu sempre entrava e ficava alguns minutos com ela, era de lei. Mas dessa vez eu estava esgotado mentalmente, perdido e tentando achar uma forma de resolver aquele problema que nem era meu.
— É... — busquei palavras — Sendo sincero, a comida caiu mal. — menti — Mas eu juro que amanhã eu volto e fico o dia inteiro contigo, pode ser? — sorri.
— Ah, pode. — foi perceptível seu sorriso amarelo, ela havia ficado chateada — Até amanhã então. — se aproximou, me beijando.
Seu beijo era calmante pra mim, arrebatador. Só que eu estava tão puto da minha vida que não consegui me concentrar somente ali, nela. Interrompi o beijo segundos após, a vendo me olhar com estranheza, tentando me decifrar.
— Que que você tem? — perguntou com o cenho franzido.
— Nada. — fui curto.
— Não, você tá assim desde quando atendeu aquela ligação no restaurante. — insistiu, ela conseguia me ler como ninguém — Aconteceu alguma coisa, não aconteceu?
— Não aconteceu nada, princesa. — disse calmo, tentando disfarçar — Fica tranquila, tô bem. Amanhã eu volto. — beijei sua testa.
Caminhando até minha moto, escutei ela suspirar. Minha mentira não tinha colado, mas eu não falaria o que estava acontecendo de jeito nenhum. Nem sequer sorri pra ela antes de acelerar em direção à casa do CL.
Estava perdido e cego de raiva, minha vontade era de ir até à casa da Amanda, meter o pé na porta dela e esculachá-la. Mas eu não podia ser inconsequente, ao mesmo tempo que eu estava me coçando pra falar com o Bravo, não queria que aquilo chegasse nele. Eu sabia do que ele era capaz e eu não queria que ele a machucasse apesar de eu estar a ponto de a machucar.— CL! — bati palma três vezes, o vendo aparecer na janela com a feição confusa.
— Que que cê tá fazendo aqui a essa hora, menor? — perguntou da fresta de sua janela — São duas da manhã!
— Abre aqui, rápido! — disse impaciente.
— Calma. — fechou sua janela, saindo de casa segundos depois — Não era pra você tá com a Brenda a essa hora? Que que aconteceu? — perguntou com estranheza — Vocês brigaram?
— Não, a gente tá bem. É a Amanda, ela acabou com a minha noite, mané. — bufei.
— Ah, fala sério! — riu, desacreditado do que havia escutado — Entra aí. — abriu o portão.
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Entre A Paz E O Caos
RomanceUma jovem de dezoito anos, negra, periférica, nascida e criada na favela da Rocinha, localizada na Zona Sul do município do Rio de Janeiro. Com um pai ausente, foi criada sozinha pela sua mãe. Seu maior sonho é ingressar em uma faculdade e sair de o...