Capítulo Trinta e Um

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Diogo Novais

Cheguei ao batalhão irradiante. Feliz e falando com todos que cruzavam o meu caminho. Sem que ninguém me alertasse, como sempre, me equipei a fim de ir pra mais uma ronda rotineira.
O Thiago surgiu no vestiário, ainda se equipando e quando me viu, veio na minha direção como se eu segurasse um milhão de reais, pronto pra dar a ele. Após o encontro com a Amanda, eu não falei com ele, arrumei tantas coisas pra fazer que eu simplesmente esqueci, e ele também não havia me chamado pra perguntar, o motivo era óbvio: Lorena, que ficava no cangote dele vinte e quatro horas.

— E aí, transou? — perguntou irradiante.

Gargalhei alto, amarrando o cadarço do meu coturno.

— Bom dia pra você também. — disse indo até meu armário.

— Fala, porra! — empurrou meu ombro.

— Não. — ri — Cê sabe que não. Foi o primeiro encontro.

— E que que tem?!

— O que tem é que foi o primeiro encontro. — disse indo em direção a saída do vestiário.

— Mas não aconteceu nada? — me seguiu, mesmo ainda não estando completamente equipado.

— Não. — ri — Vai acabar de se equipar, as viaturas já vão sair. — disse indo até o pátio.

— Vou, mas você vai me contar depois! — disse se afastando, descontraído.

As viaturas saíram e depois de muito tempo o Thiago me chamou pra ficar na caçamba, queria saber detalhadamente o que havia acontecido entre mim e Amanda já que eu disse que tinha a levado até minha casa.

— Filme? Só filme? — perguntou como quem não acreditasse em mim — Tá escondendo que transou por quê?

— Eu não transei, Thiago. — disse pela milésima vez — A gente assistiu o filme que ela queria e pronto.

Ele estreitou os olhos, olhando dentro dos meus, me fazendo rir.

— Você tá mentindo. Rolou alguma coisa. — disse convicto.

— Caramba. — ri, cansado repetir a mesma coisa — Tá. A gente ia transar, mas a amiga dela ligou e ela teve que ir.

— Eu sabia! — disse animado — Escondeu de mim por quê?

— Porque não chegou a acontecer nada. Quando ia — dei ênfase à palavra — acontecer, o celular tocou, acabou o clima.

— Nem um... — estalou a língua, me fazendo rir — Mãozinha no peitinho, nada?

— Num fode, Thiago. — ri, o dando um tapa no braço.

— Deu mole, filho. — maneou a cabeça negativamente — E quando cê vai tentar fazer o gol de novo?

— Sei lá, tô pensando nisso não. — e eu dizia aquilo com convicção.

— A cara nem arde. — riu — Escutou, Murilo? Tá com uma menina e não tá pensando em sexo.

— Hum! — Murilo, que estava sentado na beira da caçamba, olhou pra mim com a boca contraída, ironicamente — Mentindo com um monte de mentiroso em volta? — perguntou rindo.

Mas eu realmente não estava focado nisso. Sem hipocrisia, com ela eu enxergava um mundo de possibilidades. Sair com ela, por exemplo, já era muito prazeroso pra mim. A escutar falando, vendo o quão inteligente ela era, já era tudo pra mim. Óbvio, um dia aconteceria da gente transar, mas não era algo que eu ansiava desesperadamente. Não a cobraria nunca e eu deixaria tudo acontecer de forma natural, sem forçar ela a nada.
O resto do plantão eu tive que escutar o Thiago zombando de mim, juntamente dos outros, por sorte eu não era do tipo que me importava com brincadeiras. No batalhão, quanto mais percebiam que você havia ficado ofendido, mais eles zombavam pra te irritar. Então eu apenas entrei na pilha deles, até o plantão chegar ao fim e eu finalmente poder ir pra casa ficar no meu silêncio.

Entre A Paz E O CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora