Amanda Linhares
— Chegou! — minha mãe exclamou ao me ver atravessar a porta — Eu já ia te ligar, tava preocupada, achei que não fosse voltar hoje. — veio em minha direção mais falante do que quando eu havia saído de casa.
— Eu esqueci de te ligar porque eu tava ajudando o Diogo a fazer um brownie pra trazer pra senhora. — menti, se eu falasse que havia simplesmente esquecido dela, ela pescaria rápido que o meu esquecimento tinha um motivo maior — Aqui — estendi a mão com o brownie —, ele fez pensando em você. — sorri.
Ela sorriu de canto de boca, com os olhos estreitados enquanto pegava o brownie que estava enrolado em papel alumínio, como quem dissesse "duvido!" com os olhos.
— Ele tá tentando me agradar? — perguntou com estranheza, mas descontraída — Amaciar o terreno pra pisar no fofo?
— Também! — ri — Mas ele fez sem esperar nada em troca, de coração. — coloquei a bolsa em cima do sofá enquanto eu a via desembrulhar o doce, dando uma mordida.
— Essa massa é pronta, né? — disse rindo, de boca cheia.
— Dá um desconto, ele é iniciante na cozinha. — disse rindo — Mas apesar de ser massa pronta, tá bom, né?
— É, também não tem como ficar ruim porque é pronta, só se ele for bem ruim na cozinha mesmo. — riu, mordendo outro pedaço — E aí, como foi o dia de vocês? — ela parecia outra pessoa, estava mais comunicativa em relação à gente.
— Foi bom. — ri, me sentando no sofá.
— Bom como? Fizeram o quê?
Quando escutei essa pergunta, só uma imagem invadiu minha cabeça: ele ofegante em cima de mim, me olhando nos olhos enquanto reparava em cada microexpressão de prazer minha. Suspirei involuntariamente, olhando a esmo enquanto eu lembrava. Mas também logo lembrei que minha mãe aguardava uma resposta, então eu omiti um pedaço do nosso dia. Mesmo minha mãe tendo a ciência de que eu não era mais virgem desde os treze anos, eu não gostava de comentar com ela sobre minha vida sexual. Sentia vergonha, desconforto. Sexo pra mim ainda era um tabu e só de pensar em falar disso com a minha mãe sem ser de forma didática, eu me tremia de pavor.
— A gente fez a trilha da Urca...
— É boa? — me interrompeu.
— Horrível! — ri — Pior passeio da minha vida, mas o final... É incrível. A vista é muito linda!
— Que que você acha da gente ir um dia? — propôs.
— Pra trilha? — ri — Só se for de bondinho, por favor! — estava amando conversar com a minha mãe, finalmente tínhamos voltado ao normal.
— Ah, não! A gente vai pra fazer trilha! Com seu namoradinho você vai, né? — riu — Mas continua! Desceram de bondinho que eu vi as fotos... — sentou do meu lado — Que chique. — zombou.
— Sabia que lá tem um heliponto? Mas é pra lá de quatrocentos reais um passeio de helicóptero, isso sim é chique. — ri.
— E depois disso? — perguntou de boca cheia.
Era hora de pôr a mentira em prática.
— Caiu uma chuva que atrasou o passeio de todo mundo, daí a gente preferiu esperar passar um pouco. Aí quando acalmou, fomos pra um restaurante. Já ia dar uma da tarde. Comemos, deu umas cinco e a gente saiu do restaurante e passamos num mercado pra comprar besteiras e aí ele lembrou da senhora e pegou uma massa de brownie. — ri — Aí a gente foi pra casa dele fazer, ficou pronto rápido e agora eu tô aqui.
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Entre A Paz E O Caos
عاطفيةUma jovem de dezoito anos, negra, periférica, nascida e criada na favela da Rocinha, localizada na Zona Sul do município do Rio de Janeiro. Com um pai ausente, foi criada sozinha pela sua mãe. Seu maior sonho é ingressar em uma faculdade e sair de o...