Amanda Linhares
Acordei assustada por volta das seis da manhã com um som de tiro, me sentei na cama e fiquei atenta, tentando escutar mais algum disparo que me alertasse, mas não escutei nada, me deitei lentamente na cama com o coração acelerado, minha cabeça chegou a latejar por conta do susto. O meu medo de haver confrontos era constante, eu estava sempre atenta a minha volta, mas pelo jeito me pareceu só um tiro pra testar a arma ou algo parecido.
O sono novamente foi chegando e eu adormeci, acordando às onze horas com a minha mãe entrando no meu quarto com um monte de roupas lavadas, dobradas e passadas.
— Bom dia. — disse com a voz sonolenta.
— Bom dia! Achei que não fosse acordar! — disse guardando as minhas roupas no armário.
— Fui dormir tarde, na verdade eu ainda tô com sono.
— Mas daqui a pouco dá meio-dia e você vai levantar pra não perder o domingo na cama.
— E hoje tem o que pra fazer? — levantei e me espreguicei, vendo meu cabelo mais cheio que o comum e bem bagunçado.
— Nada, mas a gente arruma alguma coisa. — disse sorrindo.
Sorri junto e levantei da cama, o dia estava nublado, um clima agradável, a minha vontade era ficar o dia dormindo, mas minha mãe gostava de aproveitar cada segundo do final de semana, assim eu nunca tinha tempo pra dormir até tarde.
— E ontem? — ela estava animada.
— Ontem? Que que tem? — tentava lembrar mas nada vinha a minha mente.
— O cachorro que a gente achou!
— Ah! — havia esquecido completamente, ao acordar minha mente nem funcionava direito, só uma hora após — Quase que eu não devolvo! — disse rindo. — E se fosse outra pessoa que tivesse achado, com certeza não devolveria.
— Ah, mas ainda bem que foi a gente que achou, o dono tava desesperado, cê não viu porque tava na água. Essas coisas só acontecem com a gente, né?
O dono... Me peguei imaginando ele, com o mesmo sorriso e leveza do dia anterior, nem parecia ser a mesma pessoa que eu vi dentro daquele uniforme pesado, com aquela feição pesada e energia igualmente. Minha mãe estalou os dedos perto do meu rosto, me fazendo a olhar.
— Tá sorrindo por quê, hein? — disse rindo.
— Não sei.
Ela apertou os olhos descontraidamente, sempre fazia isso quando estava pra tentar adivinhar o que eu estava pensando.
— Hm, sei. Tem haver com algum garoto? — parou do meu lado e me olhou com a mesma expressão.
— Só lembrei da Nicole ontem.
Por que eu estava escondendo a minha opinião sobre ele? Minha mãe só não sabia que eu já o tinha visto antes e nem que ele era policial, mas tirando isso, não tinha nada demais eu falar a verdade.
— O dono do cachorro era bonito, né? — disse rindo.
— Sabia! Eu te conheço, Amanda! — disse rindo — Mas eu ainda preferi o outro.
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Entre A Paz E O Caos
RomanceUma jovem de dezoito anos, negra, periférica, nascida e criada na favela da Rocinha, localizada na Zona Sul do município do Rio de Janeiro. Com um pai ausente, foi criada sozinha pela sua mãe. Seu maior sonho é ingressar em uma faculdade e sair de o...