Capítulo Trinta e Cinco

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Felipe Ribeiro

— Preparado pra ser meu por duas semanas? — Johny disse assim que me viu atravessar a porta da sala do QG.

— Sempre. — disse impassível, visivelmente desanimado.

— Coé, o Ti Neném disse que te viu lá no Vidigal com uma garota! — Mauzão riu.

— Faltou plantão por causa de rabo de saia? — o Johny riu — Pensei que cê tava cortando pro outro lado, não quis comer a puta outro dia. Tá só apaixonado, né? — perguntou rindo.

— Eterno apaixonado. — Gordo disse rindo — Ele não para, mané! Gosta de sofrer.

— Dá logo o papo, Johny. É pra fazer o quê? — cortei o assunto.

— Como é o nome da outra mesmo? — Johny continuou — Que ele chorava e tudo por ela, eu esqueci. — riu.

— Amanda. — CL zombou — Tomou um sacode no baile do Nonato. — riu.

— A que ele tava no Vidigal já era outra, né? — perguntou concentrado na sua pistola, a limpando.

— Ti Neném disse que era branca e de cabelo liso curtinho. — Baratão entrou no assunto.

— Ih... Já até sei quem é. — o Gordo gargalhou.

— Quem? — o CL o olhou atento.

— Aquela que ele defendeu! Lembra não? Ela foi se queixar do tio pra gente lá em cima.

— Ah, eu lembro. Lpê capou ele. — disse fazendo cara de dor ao se lembrar da cena.

— Eu ainda te perguntei se tu tava querendo ela e tu negou, safado! A cara nem ardeu! — Mauzão me deu um tapa no rosto amigável.

— Sai, porra! Me deixa! — empurrei sua mão, irritado — Me fala logo o que é pra fazer nesse caralho, Johny!

— O de sempre. — disse como se fosse óbvio — Cobrar quem tá devendo, me passar a visão do morro. Cuidar de tudo. - me olhou.

— Já é. — assenti impassível, passando pelos outros como um tornado.

— Tá putinho? — gritaram enquanto eu descia as escadas.

Se tinha uma coisa que eu odiava, era quando minha vida virava pauta entre eles. Eu me sentia invadido, por mais que fosse brincadeira. Só não me via em posição de reclamar porque quando eu tinha chance, eu fazia isso com os outros também, admito.
Subi na moto, irritado por eles saberem tanto sobre mim e Brenda. Não deu quinze segundos, eles apareceram lá embaixo, ainda zombeteiros.

— Ficar preso duas semanas por causa de mulher... — o Gordo zombou — É querer muito.

— Troca o disco. — virei a chave na ignição.

— Tá puto? — empurrou meu ombro — Fica puto, não!

— Deixa o garoto! — Mauzão zombou — Daqui a pouco ele dá um tiro na gente, não mexe com bandido!

— Bandido romântico que chora pelos cantos quando toma toco! — Baratão riu.

— Vocês são muito chato, papo reto. — disse sério.

— Me espera! — o CL apareceu, subindo na minha garupa.

— Segura! — alertei o CL, acelerando.

Os outros me seguiram enquanto eu pilotava rumo à Rua Nova, indo buscar o primeiro devedor.
O dia em si foi monótono porque eu fiz as mesmas coisas até o anoitecer. Cobrei quem devia, vi o andamento das bocas de fumo que eu gerenciava enquanto o CL fazia os cálculos que só ele era capaz de fazer, negociando com os corruptos o arrego do mês. E nada de ver a Brenda. Queria dar uma desviada disso tudo, mas com o Johny no meu cangote era impossível. Se eu parava míseros minutos em qualquer lugar do morro, já recebia ligações dele perguntando o motivo de eu estar sem fazer nada. Ele tinha diversos olhos e ouvidos espalhados pela comunidade.

Entre A Paz E O CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora