Silêncio

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Aqui estava eu. Depois de um final de sexta-feira intenso, eu ainda estava viva, em um domingo. Não conseguia tirar essa pessoa da minha cabeça, mesmo que os pensamentos conturbados tivessem voltado de forma alucinante na madrugada de sábado para domingo.

Naquela manhã caminhei pela praia, a Maite foi comigo, com a justificativa de que eu estava aérea demais para andar sozinha pelas ruas dessa cidade. Vale ressaltar que ela quase surtou quando contei tudo à ela, e ao contrário do que eu pensei, a Maite não me bateu quando eu contei que praticamente saí correndo do apartamento de Alfonso. Ela apenas ofereceu-me um potinho de iogurte com granola e dormiu comigo.

Eu poderia jurar que senti o bebê dela me cutucando.

E bem, agora?

Eu estava deitada em minha cama, os olhos fixos no teto, tentando inutilmente não pensar em Alfonso quando o meu celular tocou. 

Era o número da minha mãe.

_ Anahí...?.- A tonalidade em sua voz era estranha para mim. Movi o meu corpo, obrigando-me a ficar sentada, os olhos fixos no porta-retratos por cima da minha comoda.- Está me ouvindo querida?

_ Estou, mãe, eu estou. Está tudo bem?

_ Você está em casa?.- Uma das nossas regras básicas de convivência, era nunca responder uma pergunta com outra, então eu soube imediatamente que algo havia acontecido.

_ Estou em minha cama, o que aconteceu?.- Perguntei, e poderia garantir com toda certeza que ouvi um soluçar baixinho.- Não minta para mim, mãe. Aonde está o papai?

Silêncio.

Um silêncio que quebrou o meu coração em milhares de pedaços.

_ Eu sinto muito, querida.- O choro dela agora era audível, sofrido, angustiado.- Você precisa vir.

Então eu entendi. Ele havia me deixado. Apertei os lábios, confusa. Confusa sobre o que estava acontecendo. Olhei novamente para o porta-retratos. Tremula. A imagem dele sorrindo como se a vida fosse leve a todo momento, quase me sufocando por dentro.

Soltei o celular de qualquer maneira, e fixei o olhar em minhas mãos. Meu coração martelando no peito, meus olhos marejados.

Isso...

_ Anahí?.- Aquela voz.- Está tudo bem?.- Maite se aproximou de mim, os olhos negros me analisando da cabeça aos pés. Ela soube logo que alguma coisa havia se quebrado em mim, e eu só percebi que estava sangrando por dentro quando um grito escapou dos meus lábios.

Vazio.

Silêncio.

Dor.

Narradora Point Of View

Anahí respirou fundo, deslizou os dedos frágeis pelo nariz e cruzou as mãos na frente do corpo, pensando.

Maite passava as mãos nas costas dela em um carinho suave. Nina estava encostada na porta entre a sala de jantar e o amplo corredor, uma taça de vinho branco entre os dedos finos. Lexie e Dulce estavam sentadas no tapete negro, na frente delas Marishelo, e logo atrás Ian e Allysson. Todos encaravam a artista tentando entender qual seria a próxima atitude.

Ela sentiu seus olhos se encherem de lágrimas e então olhou a foto de seu pai encima de uma mesa, diversas flores e algumas velas ao redor dela. Uma melodia suave ecoava baixinho pelo lugar, e de onde estavam, era possível ver algumas pessoas conversando no quintal, todas perfeitamente alinhados em seus ternos e vestidos pretos.

Sua alma doía naquele momento.

Seu peito sangrava.

Seus olhos não enxergavam nada além da escuridão.

A ArtistaOnde histórias criam vida. Descubra agora