KitKat

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Anahí Portilla Point Of View

Dois meses depois

Eu estava enlouquecendo.

Literalmente.

Em todos aqueles anos de vivência, embora tivesse acontecido o pior comigo em alguns momentos, eu nunca parei para pensar no que significa ser uma "mãe". Era uma palavra com complexos significados, e muitos deles deixavam-me assustada.

Enquanto algumas mulheres sonhavam em ter uma casa grande e uma família igualmente grande com um monte de criança correndo por toda casa, outras como eu viviam com medo disso. Vejamos, no normal já era extremamente difícil cuidarmos de nós mesmas, agora imagina ser responsável por outro ser humano?

Loucura.

Depois da primeira consulta com a médica que tinha uns olhos bonitos, eu soube que a minha vida não mais seria a mesma. Ter um filho significava dizer adeus a minha calma, paz e solidão, algo que sempre prezei muito. Significava atender a determinadas funções sociais como eventos escolares e até reuniões de pais. Significava que as outras pessoas esperariam que eu me tornasse cuidadora, adulta e madura o suficiente para tomar decisões igualmente maduras, coisas que eu obviamente tinha muita dificuldade.

Era mais do que óbvio que eu nunca, em hipótese alguma me pareceria com a maioria das outras mães, não agiria como a maioria delas e não me sentiria particularmente "maternal". Mas ainda assim, apesar de todas as dúvidas, medos e anseios, eu estava conseguindo segurar a "barra". Não era de todo uma tarefa fácil acordar com uma vontade absurda de colocar o organismo para fora, ter dificuldades em sair da cama, ter que lidar com o meu humor um tanto quanto "ácido" e sem falar do meu vicío infinito por tudo que levava açúcar.

E naquela manhã, que o céu estava praticamente desabando lá fora, eu não estava muito diferente dos dias anteriores. Assim que abri os olhos, precisei caminhar rapidamente para dentro do banheiro. Apenas tive tempo de ajoelhar no piso frio até que uma onda nova de enjoos me fez inclinar a cabeça para dentro do vaso, sentindo cada tecido do meu organismo se revirar a medida que colocava todo o jantar de ontem para fora. Sem sombra de dúvidas a pior parte de estar nos primeiros meses de gravidez eram os enjoos matinais e a vontade de fazer xixi de trinta em trinta minutos.

E sim, eu surtei em muitos momentos.

_ Mais um?.- Em todas as manhãs, logo depois de eu colocar o estômago para fora, ela entrava em meu quarto com a mesma carinha preocupada e fazia aquela mesma pergunta, os olhos correndo por todo meu corpo.

_ Estou pensando seriamente em viver aqui dentro.- Maite sorriu fraco, caminhou até mim e com uma habilidade impressionante prendeu o meu cabelo no alto, enquanto me esperava passar por aquela tortura mais uma vez.- Você não passou por tudo isso.- Lembrei com certo desgosto.

_ Cada mulher reage de forma diferente, meu bem. Mas é só questão de tempo, logo as coisas irão melhorar.- Disse, a voz sempre delicada.- As meninas ligaram avisando que já estão a caminho.

E tinha aquilo ainda.

A noticia que eu estava esperando um filho de Alfonso se espalhou de forma assustadora, tudo porque a minha melhor amiga não conseguiu conter a emoção e um dia depois da consulta com a obstetra criou um grupo com todas as pessoas próximas a mim, sem esquecer de absolutamente ninguém, e contou a novidade. Depois dali, eu recebi várias mensagens e ligações em cada trinta minutos. Cada um querendo saber como eu estava lidando com aquela informação e se não estava precisando de absolutamente nada. E no meio de tantas reações excêntricas, a que ficara em primeiro lugar foi a de Sophia.

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