Utrassom

201 20 54
                                    

ATENÇÃO: O capítulo contém gatilhos para quem já passou por uma situação parecida com a que será descrita aqui. E para você, mulher que já sentiu uma parte de si ser arrancada sem aviso prévio, saiba que não está sozinha. Desejo que Deus a encha de força e coragem para enfrentar cada dia com determinação.  Tenha fé e nunca DESISTA.

Boa leitura.

....

Narradora Point Of View

Flash Back

Era um dia chuvoso aquele, e embora o seu coração martelasse dentro do peito clamando por liberdidade, precisava fazer aquilo. Não era a pessoa mais segura do mundo, as mãos fechadas em punhos e os lábios presos entre os dentes demonstravam o tamanho nervosismo que sentia.

Atravessou o pequeno portão de madeira sentindo o vento gelado daquela manhã chuvosa se chocar contra o seu rosto vermelho, as gotas da chuva colidindo contra a superfície do guarda-chuva que protegia o seu corpo frágil.

Tinha apenas dezanove anos.

Após soltar um longo suspiro, ela ergueu o braço, tocando a campainha logo em seguida. Vinte segundos depois a porta foi aberta, revelando uma figura alta, olhos castanhos profundos, cabelos de um loiro escuro, braços fortes e o rosto amassado, como se tivesse acabado de sair de um sono profundo.

Rodrigo era o nome dele.

_ O que faz aqui?.- Ele perguntou, a voz soando levemente irritada. 

_ E-eu... Eu preciso contar algo.- Ela respondeu em voz baixa, o olhar fixo no chão. Não tinha coragem de encará-lo de frente, não quando estava prestes a desmoronar.- Posso entrar?.-Perguntou por fim, a pequena bolsa presa em seu braço.

_ Tudo bem.- Assentiu depois de vários minutos encarando o corpo dela de cima abaixo.

Ela deu alguns passos para dentro da pequena casa, largando o guarda-chuva em um canto da sala. O lugar não era o mais organizado, mas poderia se considerar aconchegante. Havia um sofá médio de coloração clara, aonde ela rapidamente foi se sentar, as mãos dobradas encima do colo.

_ Quer alguma coisa para beber?.- Perguntou, sentando-se do lado dela que negou com a cabeça, o corpo encolhido na outra ponta do sofá.-Então o quer comigo a essa hora da manhã? Eu estava dormindo e você meio que atrapalhou isso.- Lembrou, o semblante fechado.

_ Eu...hu... Eu estou grávida.- Disse de uma vez, o lábio preso entre os dentes, sentindo um bolo se formar em sua garganta. Sentia tudo a sua volta girar, como se estivesse prestes a desmaiar, mas não havia voltas a dar. Ela estava ali porque quis, recusou a ajuda da melhor amiga deliberadamente por que precisava fazer aquilo sozinha, mas isso não mudava a sensação ruim que tomava conta do seu corpo.

_ Que porra é essa, Anahí?.- Ele perguntou, erguendo o corpo do sofá e levando-lhe junto. Anahí sentiu o cabelo balançar no ar, uma lágrima solitária escorrer por seu rosto e então fechou os olhos brevemente, engolindo em seco.- Você está maluca? Acha que pode vir aqui dizer que está grávida e tudo bem?

_ E-eu... eu não estou mentindo.- Anahí murmurou, a voz embargada pelo choro recente. A cabeça dela latejava fortemente.- O exame... o exame está na minha bolsa.- Disse, fazendo força para se soltar do aperto da mão dele.- Por favor... está me machucando.

_ Eu não engravidei você!.- Rodrigo silvou, os olhos faíscando.-Nós transamos apenas uma única vez, foi bom e ponto final. O que é, tudo isso é porque eu disse que não queria mais nada com você?.- Silêncio.- Foi apenas sexo Anahí. Você sempre foi muito quietinha, e eu só quis saber se por baixo dessa toda tranquilidade existia uma mulher capaz de satisfazer um homem, e infelizmente você não é.-Sorriu, contornando os lábios com a língua.

A ArtistaOnde histórias criam vida. Descubra agora