Friends

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_ Hey.- É só fingir que não escutou, prossiga. Fechei os olhos por breves segundos, e logo voltei a fixá-los na televisão, embora não estivesse realmente interessada no programa que passava naquele momento. A minha mente estava uma bagunça desde que deixei a biblioteca, e eu precisava entender o porquê de tudo aquilo.- Anahí, eu estou falando com você!.- Droga! Eu só..eu...ela tocou o meu ombro, e logo o meu queixo erguendo o meu rosto para cima.- Está tudo bem?

A voz da Maite soou preocupada, e eu mordi o lábio inferior antes de respirar de forma quase sofrida. Os olhos dela estavam fixos no meu, e era possível ver a preocupação e curiosidade passando por eles de forma rápida.

_ Você está muito bonita.- Falei, desviando o olhar do rosto dela, e passei a apreciar o modo como aquele conjunto social na cor cinza ficava perfeito em seu corpo. Os fios negros estavam soltos e ela ainda tinha a bolsa branca pendurada no ombro.

_ Não está preparada para falar ainda?.- Eu assenti. Ela me conhecia melhor que nenhuma outra pessoa.- Tudo bem, amor.- A morena depositou um beijo delicado em meu rosto e logo voltou a afastar-se.- Vou tomar um banho e já volto para preparar o nosso jantar, tudo bem?

Eu não respondi....não me movi...sequer pisquei, e não é por querer ignorá-la, apenas... a imagem daqueles olhos me fitando com tanto interesse e curiosidade não saia da minha cabeça.

Por que Alfonso me tratava daquela maneira?

Suspirei.

Aquele pensamento me atormentou desde o caminho feito da biblioteca até aqui. Eu não estava acostumada a receber tanta compreensão, carinho e até bondade de pessoas desconhecidas, e o Alfonso era...hipnotizante. Eu sentia a minha alma pegar fogo toda vez que ele sorria, exibindo aqueles dentes brancos perfeitamente alinhados, e a sensação de que alguma coisa estava muito errada com o meu corpo me assustava em proporções que sequer conseguia controlar.

Passos no corredor despertaram-me dos meus pensamentos incoerentes, e pude ver a Maite já de banho tomado e com uma roupa mais leve caminhar até a cozinha. Ela não disse mais nada, sequer perguntou se eu já estava preparada para expor a minha vida, apenas prendeu o cabelo em um rabo de cavalo, cobriu a parte frontal do corpo com um avental vermelho, e começou a mover-se pela cozinha com uma habilidade impressionante.

10 minutos se passaram e ela ainda não tinha me dirigido a palavra, sequer olhou para mim, e bom...eu precisava expor o que tanto me incomodava.

Vamos lá!

_ Precisa de ajuda?.- Perguntei conforme me aproximava lentamente da cozinha. Ela me fitou por alguns segundos antes de sorrir e apontar para as cenouras que estavam por cima do balcão. Ela faria um prato com cenouras, carne assada e legumes cozidos a vapor. A Maite era uma boa cozinheira, e eu amava comer o que ela cozinhava.

Com todo cuidado, lavei as cenouras em água corrente, casquei todas muito direitinho e no final ralei cada uma delas em um recipiente de alumínio.

_ Terminou?.- Assenti, apontando para a tigela com as cenouras por cima do balcão.- Certo, obrigada Anahí.- Murmurou em voz baixa, e logo voltou toda sua atenção no preparo do nosso jantar.

Ela estava me ignorando?

_ Não vai perguntar nada?.- A minha voz ecoou baixa, ao mesmo tempo que os meus olhos se fixaram em meus dedos sujos com cenoura. Não queria olhar diretamente para aquela expressão concentrada dela.

_ Já está preparada para falar?.- Maite perguntou sem deixar de cortar os legumes, eu poderia ouvir o barulho da faca colidindo com a pequena tábua de madeira.- Muito bem, olha para mim.- Não foi uma ordem. Ela estava pedindo, com aquela voz terrivelmente doce, que eu olhasse para ela, e eu assim o fiz. Olho no olho.- Tudo isso, esse silêncio, ainda é sobre aquela pessoa que deixa a sua alma pegando fogo?

A ArtistaOnde histórias criam vida. Descubra agora