Chocolate

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Era manhã de natal.

Eu olhava atentamente para as luzes coloridas que piscavam envolta da enorme árvore de natal que enfeitava a sala, um dos muitos exageros da Nina. Estava parada perto da janela, os braços cruzados e vez ou outra sentia Billie Jean passar a língua em meus pés descalços. Ela estava a coisa mais fofa do mundo dentro daquele vestido rosa, um presente da Maite.

Ao fundo poderia ouvir as vozes da Lexie e da Dulce vindo da cozinha. Maite estava terminando de arrumar a mesa de jantar, e Nina estava aparentemente escolhendo a roupa de todo mundo. Através da enorme janela, era possível ver Mark e Ian tentando limpar a neve que cobrira praticamente toda entrada da nossa casa de campo.

Apesar do espirito natalino ter tomado conta de todos os meus amigos, eu sentia que aquele seria provavelmente um dos natais mais estranhos e silenciosos para mim. Não que eu fosse uma pessoa de muita agitação, mas especialmente naquele ano eu não teria o meu pai comigo. Ele era o único que embarcava nas minhas excentricidades, sentava comigo perto da árvore, e juntos calculávamos quantos segundos as luzes demoravam para mudar de cor. Perdíamos muito tempo naquilo, e só nos lembrávamos dos outros quando a Maite se jogava no colo dele para me deixar com ciúmes.

Ela era aquele tipo de pessoa irritantemente fofa.

O latido da BJ despertou-me de qualquer pensamento melancólico, e ela foi a primeira a correr até a porta quando batidas foram novamente ouvidas. Sorri com a animação da cachorrinha e caminhei em direção a porta, destranquei a mesma e foi com certa surpresa e alívio que enxerguei os olhos azuis da minha mãe.

Lá estava ela.

Depois de ter voltado dias antes para L.A, com a justificativa de que precisava passar por todo aquele processo de luto sozinha, ela havia finalmente voltado para mim.

Ela sorria para mim... e dessa vez, até os olhos sorriam.

_ Minha boneca...- Envolveu-me em seus braços. Foi como se alguma coisa tivesse se reconstruindo dentro de mim. Ela acariciou delicadamente o meu coro cabeludo, eu fechei os olhos com força, apreciando aquele carinho que só ela poderia me dar.

_ Senti a sua falta cada momento, mamã.- Falei sentindo um bolo em minha garganta e lágrimas invadirem meus olhos.

_ Eu também, filha... Eu também.- Senti seus lábios beijarem meu rosto enquanto soltava o meu corpo, para logo então fixar os olhos em meu rosto.- Você está bem?

_ Agora que você está aqui, sim.- Respondi de forma quase imediata.

_ E quem é esse?.- Minha mãe perguntou curiosa. Baixei a minha cabeça o suficiente para ver Billie Jean abanar a cauda enquanto saltitava ao nosso redor.

_ Ela tem nome, mãe.- Resmunguei. Não era legal tratá-la daquela maneira.- É Billie Jean, e é a minha mais nova melhor amiga.- Falei orgulhosa.

_ Você comprou?.- Seu olhar ainda estava na bonita que agora fungava os pés dela.

_ Não, foi um presente de alguém especial.

Por um momento nos encaramos em silêncio, e eu soube de imediato o que estava se passando em sua cabeça.

_Nós precisamos conversar, e eu prefiro que seja apenas entre nós duas. Vem comigo, vamos sentar na varanda.- Falou já dando as costas para mim.

Eu relutei um pouquinho, pensando seriamente em pedir a Maite que me levasse embora, mas no final caminhei em sua direção. No inicio  apenas falamos sobre o meu trabalho, a exposição e tudo que não fosse constrangedor ou assustador para mim. Mas, no fundo eu sabia que ela só estava preparando o terreno não querendo me deixar assustada.

A ArtistaOnde histórias criam vida. Descubra agora