Amor

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" Eu quero lhe convidar para jantar comigo amanhã, você aceita?"

Essas foram as palavras de Alfonso enquanto nos despedíamos no dia anterior, e eu juro que quase não dormi por causa disso. E apesar do meu habitual nervosismo, eu estava feliz por ir encontra-lo novamente em tão pouco tempo.

Era começo de noite naquela cidade tão agitada. O táxi deslizava lentamente pelas ruas, uma música tocava no fundo, fazendo um perfeito contraste com os meus pensamentos. Foi difícil deixar Billie Jean com a Maite, já que elas estavam sempre brigando por qualquer coisa. Mas, eu fiz a cachorrinha prometer que se comportaria, e que não testaria a paciência da grávida mais perfeita do mundo.

O táxi parou na frente do prédio já tão familiar, e eu tomei uma respiração profunda antes de descer e caminhar apressadamente até a recepção.

_ Anahí Portilla?.- Donna perguntou cordialmente. Eu assenti com a cabeça.- Alfonso deixou avisado que viria, pode subir.- Deu-me permissão para entrar.

Acenei rapidamente com a cabeça, e logo caminhei ansiosamente para dentro do elevador. 

Cobertura.

Estava inquieta.

Uma inquietação que só acalmou quando as portas voltaram a abrir-se no lugar certo, e a imagem da sala ampla, e dele, parado perto do sofá, deram-me as boas vindas. Seus olhos verdes me encararam da cabeça aos pés, e eu sequer consegui me mover de tão abobalhada.

Eu não sabia lidar com ele.

Não sabia lidar com aqueles olhos; aqueles lábios sempre se curvando em um sorriso quando eu aparecia.

Usava uma bermuda preta, camisola verde com uma estampa bonita das estrelas, o sorriso no canto da boca, o olhar delicado.

Lindo.

_ É bom olhar para você, Ana.- Eu engoli em seco. Senti o meu corpo esquentar como se tivesse ficado durante muito tempo diante da lareira, quando o seu olhar correu desde os meus olhos até algumas partes mais abaixo. Eu não estava vestindo nada demais, apenas um vestido solto até ao limite dos meus olhos, uma jaqueta branca por cima, saltos, nenhuma maquiagem e cabelos soltos.

_ É bom estar aqui... com você.- Respondi depois que seus braços soltaram o meu corpo. Depois que o seu perfume encontrou a minha alma. Depois que seus lábios tocaram meu rosto.

Eu gostava de estar ali, na casa dele, tendo os seus braços sobre mim, sentindo aquele estranho conforto.

Alfonso me fez sentar em um banco alto da sua cozinha, enquanto ele se movia majestosamente por aí, mexendo nas panelas, cortando legumes, sorrindo para mim, preenchendo-me com a sua leveza.

O jantar ficou pronto pouco tempo depois: legumes cozidos a vapor, carne assada, puré de batata, vinho tinto, música e o olhar dele. Comemos em um silêncio confortável. Eu não falava durante as refeições, e ele respeitou isso e muitas outras coisas, como o facto de eu ter me proibido beber mais do que duas taças de vinho. Eu já me perdia com facilidade, não precisava de mais álcool no meu organismo.

_ Sente-se comigo, Ana.- Sua voz ecoou doce. Nos movemos pela sala, até estarmos sentados em seu sofá. Eu olhei para seus movimentos ansiosos com certa curiosidade.

Ele parecia... Nervoso.

_ Eu quero... eu preciso lhe dizer algo muito importante, você deixa?.- Perguntou, os braços cruzados e lábios presos. Eu assenti, engolindo em seco e tentando me manter consciente. Eu não poderia me perder, não naquele momento.

_ Eu prometo estar aqui completamente para ouvir você.- Eu prometi, eu cumpriria.

Ele então sorriu, trazendo um pouco de calma a minha alma. Parecia então que as minhas palavras eram o que ele precisava para sentir-se livre para falar. Seu olhos viajaram pelo meu rosto, meus ombros livres da jaqueta, e então suas mãos pousaram sobre a minha.

A ArtistaOnde histórias criam vida. Descubra agora