Sabe o que aconteceu depois que eu fui embora da festa de aniversário da Nina?
A Maite não falou mais comigo, e hoje já era Segunda-feira.
Ela disse que eu poderia pelo menos ter lhe procurado e explicado que não estava confortável com o ambiente, ao invés de ir embora como se estivesse fugindo de alguém. Eu até pensei em dizer que realmente estava fugindo de toda aquela moldura humana, mas me concentrei porque era bem capaz dela dar um tapa em minha cabeça.
Mas, apesar de achar um pouquinho exagerada a atitude dela para comigo, eu não conseguia culpá-la, porque se fosse eu em seu lugar, também teria ficado um pouquinho preocupada. Então, eu faria de tudo para que ela me perdoasse.
E até já tinha uma ideia.
Após o meu banho, em que lavei o meu cabelo com todo cuidado e várias vezes seguidas para garantir que estava mesmo limpo, fui praticamente correndo para preparar o café da manhã. Ainda eram 6h, e mesmo sendo o meu dia de folga, eu não conseguia sair da cama depois disso, parecia que o meu cérebro já possuía um despertador.
Separei uma vasilha de alumínio, algumas frutas, ovos, leite, café, e tudo mais que fosse necessário para fazer o café da manhã e também a sobremesa favorita da Maite. Ela amava bolo de cenoura com cobertura de chocolate. Casquei três cenouras, somente depois de tê-las lavado cinco vezes em água corrente, e as cortei em cubos bem pequenos antes de colocá-las no liquidificador. Conforme ia puxando pela memória a receita do bolo, para não correr o risco de errar uma única coisa, lembrei da Ruth, e um aperto tomou conta do meu coração, por saber que não mais a veria atrás daquele enorme balcão da biblioteca.
Por anos seguidos, ela fora a alma daquele lugar, recebia todos com o mesmo sorriso simpático, a mesma alegria, a mesma leveza na alma, o que tornava todas as estadias lá bem mais interessantes. Mas, ela garantiu que o tal filho, Alfonso Herrera, cuidaria bem do lugar, e eu estava realmente contando com aquilo.
Assim que a massa ficou pronta, coloquei na forma e logo à levei até ao forno. Aproveitei o tempo para preparar o chocolate, fiz panquecas com cobertura de mel para a Maite, a minha salada de frutas e coloquei tudo na mesa com café, os pães de queijo e no final o bolo já decorado.
Estava tudo muito bonito.
Lavei a louça que sujei enquanto cozinhava, limpei o fogão e logo ouvi o barulho de passos vindo do corredor. Rapidamente limpei as mãos com o pano branco que estava pendurado no ferro, e virei o corpo para encará-la. Maite caminhava de cabeça baixa, enquanto mexia nervosamente em sua bolsa preta. Usava um vestido preto muito justo para o meu gosto, um sobretudo branco, saltos pretos, e um par de brincos de diamante. Os fios negros do cabelo estavam presos em um rabo de cavalo, e quando ela finalmente levantou o rosto, vi os lábios cobertos por um batom escuro, e os olhos bem delineados com qualquer coisa escura.
Então sorri com todos os dentes.
Ela franziu ligeiramente a testa, e revirou os olhos antes de encarar a mesa.
_ Acha mesmo que vai conseguir o meu perdão com bolo de chocolate?.- Perguntou sem desviar os seus olhos dos meus.
Ela estava parecendo um cachorrinho bravo com aquela ruguinha na testa.
_ É bolo de cenoura com coberrrrrtura de chocolate.- Corrigi, fazendo questão de carregar muito bem a letra "r".- Tem até panquecas com mel, as suas favoritas, huh? Você não vai fazer essa desfeita para mim, vai?.- Perguntei em um tom relativamente baixo. Eu sabia que a única forma de fazê-la voltar a falar comigo direito, era agir como se estivesse realmente arrependida por ter ido embora, se bem que...eu faria tudo igual caso a situação se repetisse.
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A Artista
FanfictionA Artista, é sobre ser o que se é mesmo convivendo com a ignorância e falta de senso dos outros. Anahí tem a sua própria galeria de arte. É uma mulher que apesar de todas as dificuldades em que sempre se viu, consegue pensar em um milhão e meio de c...