Namorado

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Após o nosso beijo, os olhos de Alfonso ainda estavam em mim, suas mãos me mantinham por perto, como se não quisesse me ver longe. Sentia meus lábios pegarem fogo, e meu coração dar diversas cambalhotas, iguais as que a Billie Jean dava quando via o seu prato de comida cheio.

_ Você está mesmo aqui.

Ele falou, a voz rouca enquanto deixava escapar um suspiro, piscando várias vezes em seguida. A sensação que eu tinha dentro de mim naquele momento era completamente nova, eu nunca havia me sentido assim antes. Com vontade de sorrir, dançar, gritar, chorar, era tudo bom demais para que eu conseguisse acreditar.

_ E-e-eu... huh... você esperou por mim.- Falei em voz baixa, sentindo meu rosto pegar fogo ao deslizar os dedos pelos cachos negros que me fascinaram desde o inicio. Seus olhos gritavam por mim, e seus lábios clamavam estranhamente pelos meus.

Suspirei.

_ Eu esperaria por muito mais tempo, Bella.- Alfonso sorriu, inclinando a cabeça um pouco para o lado. Ele era tão lindo.- Você me beijou.- Um novo sorriso. Sua voz me fez arregalar os olhos e engolir em seco rapidamente.

_ Oh, eu, você...- Gaguejei tentando organizar os pensamentos. Aquilo era ruim certo? Eu havia arruinado as coisas mais uma vez.- Você sabe que... espera.- Fechei os olhos e inspirei profundamente, sentindo o ar encher os meus pulmões. Quando voltei a abrir, o verde ainda estava em mim, mais brilhante do que nunca.- E-eu poderia mesmo dizer que me arrependo, ou que... bem, que eu sinto muito por ter feito essa coisa que você falou agora, e tudo bem, eu vou entender, mas olha, eu gostei, de verdade, gostei mesmo, você tem sabor de menta, eu, hu, eu não quero mentir para você.- Ele me olhou de uma forma que me deixou envergonhada, eu corei, focando os meus olhos no chão, oh céus.

_ Ana...- Sua voz rouca me fez voltar a focar unicamente nele.- Está tudo bem.- Estava? Oh.- Pode me beijar quantas vezes quiser, eu deixo, eu quero, eu gostei.- Ele se aproximou de mim novamente, seu rosto na altura do meu, seus olhos focaram em meus lábios, e em seguida sorriu, como se quisesse fazer comigo coisas das quais se reprimia mentalmente... eu não tinha palavras.

_ Eu quero perguntar algo.- Falei de forma repentina e foquei nele que parecia divertido, eu não saberia dizer o que era aquilo.

_ Vem, senta comigo primeiro.- Alfonso falou, e logo me puxou delicadamente até ao sofá. Nos sentamos perto um do outro, as mãos entrelaçadas.- Dì, ti sto ascoltando.-  A sua voz aveludada me fez sorrir de forma inconsciente.

_ Você falou que durante um tempo andou esbarrando em uma mulher, certo?.- Perguntei, os olhos curiosos na direção dele. Ele maneou a cabeça em concordância, e em seguida depositou um beijo na palma da minha mão.- É curioso porque aconteceu o mesmo comigo a tempos atrás, e apesar dele nunca ter parado para me pedir desculpa, eu gostava de observar os cabelos escuros a distância, o sobretudo e os olhos verdes... Teve até esse dia no shopping, nos esbarramos novamente, e ele deixou cair um papel assinado como "AH".- Comentei dando de ombros.

Ele olhava para mim de forma concentrada, como se uma ideia estivesse se construindo em sua mente.

_ O que estava escrito nesse papel?

_ Algo sobre nunca duvidar dos seus sonhos.- Forcei a minha mente a lembra parcialmente das palavras escritas de forma tão delicada, e encarei as nossas mãos juntas.- Ele assinou do mesmo jeito que você assinou no livro do George Orwell, A.H, quantas pessoas assinam dessa maneira? Devem ser muitas, porque não é possível que eu tenha esbarrado esse todo tempo em você e não ter percebido, até porque...- Lá estava eu, perdida em um milhão de pensamentos que certamente não estavam fazendo sentido nenhum. Eu sentia os olhos dele em mim, e quando ergui a cabeça para finalmente encará-lo, vi a seriedade e uma certeza que era difícil de acreditar estampadas naqueles olhos.

A ArtistaOnde histórias criam vida. Descubra agora