No sonho, Mackenzie corria num ritmo frenético o bastante para fazerem seus pulmões urrarem e suas pernas queimarem. A barra do manto agarrava nos galhos e vez ou outra atrapalhava a fuga à medida que ela adentrava mata a densa. Ela não sabia o que estava fazendo, mas havia um sentimento errante de desespero no interior de seu peito. O coração palpitava com a sensação de perigo.
Tudo era real demais, e não se parecia com um sonho, porque de fato, Mackenzie não sabia se estava acordada ou dormindo, ela não fazia ideia de como havia chegado ali, ou do quem e do porquê precisava fugir, mas o frio era verdadeiro, predominante e nocivo, e mesmo que a corrida desenfreada esquentasse o seu sangue, ela ainda podia sentir o enrijecer e a dormência de seus membros periféricos fora da capa, no entanto seu cérebro estava alerta, e seu corpo tentava obedecê-lo sem fraquejar, correndo e correndo sem parar.
Mas para onde estava indo?
Que lugar era esse?
Mackenzie não tinha respostas. Ela mal podia olhar de um lado para outro, porque sentia que não podia perder tempo, ou então seria pega. Precisava olhar apenas para a frente.
Sua salvação só poderia estar ali no fim da relva.
Pés descalços sobre o limo de um solo úmido e escorregadio. As folhas já não estalavam mais sob suas solas, elas já estavam em outro estágio da floresta e conforme avançava, mais as folhas se tornavam decompostas e o solo pantanoso.
O orvalho tinha um cheiro terroso; o clima era assombroso e muito escuro.
Tudo estava negro e por mais que procurasse o céu sobre sua cabeça, escuridão era a única coisa que ela podia enxergar, porque a floresta formava um dossel alto e denso demais com as copas das árvores mais longas e as folhas não permitiam que a luz ultrapassasse por entre elas.
— Ela foi por ali. — Mackenzie parou de súbito quando ouviu uma voz que fez um arrepio de pânico percorrer as suas costas.
Eles ainda estavam no seu encalço, e depois disso, Mackenzie tentou se adiantar. Um buraco minúsculo na copa fez com uma fresta de luz adentrasse na floresta, iluminando a sua dianteira, e ela se estarreceu com o que dava para ver: uma floresta que não parecia se findar.
Ela estava presa por árvores que pareciam não estar presas no chão, mas ela não se renderia, por isso continuou a andar mesmo com o estômago se revirando de apreensão.
Alguns passos depois e o caminho se fechou com uma espaça moita adiante, e ela precisou erguer o braço para fora da capa afim de empurrar as folhas, o braço ferido pela mata violentas, e a luz incidindo diretamente por ali. Ela deu o passo que precisava para começar a atravessá-la e um estalido abaixo de seus pés a fez olhar para o chão.
Ela tinha pisado em um galho fino que se rompeu com o peso de meio corpo, e o barulho foi o suficiente para situar os seus perseguidores que se juntaram para segui-la, agora com uma vantagem: sua localização.
Quando Mackenzie ergueu o olhar do chão para a frente, surpreendeu-se ao perder o fôlego assim que encontrou olhos prateados bem diante de si. Aqueles olhos cor de gelo seco. Ela conhecia aqueles olhos profundos, misteriosos e quase profanos que mais se pareciam com portais para algum lugar obscuramente frio.
Foi então que Mackenzie abriu os olhos, inclinando o corpo para a frente no sofá da sala de mulheres, buscando ar como se estivesse sufocada.
"Oh meu Deus!" Ela pensou ao resfolegar exageradamente forte, chamando a atenção de todas as mulheres que estavam no salão, mas ela ainda estava assustada e incrédula demais para se dar conta de onde estava.
Era o mesmo sonho e isso a desconsertava.
"Quem era ele, e que tipo de pessoa sonhava o mesmo sonho noites seguidas?" Mackenzie se perguntou estarrecida, procurando os ferimentos do sonho nos braços, só que eles já não estavam mais ali.
— Mackenzie! — Anne exclamou, precipitando-se em direção à menina.
— Você teve outro pesadelo, minha criança? — Anne perguntou, compadecendo-se da situação da garota ao abaixar-se na frente dela. Mackenzie que era muito pequena, ainda sobre o sofá ficava pouca coisa maior que sua babá.
As damas de companhia se aproximaram também.
Ela estava em pânico, isso estava mais do que evidente para Anne, porque o peito dela subia e descia num ritmo desenfreado, como se ainda estivesse sem ar; o rosto não tinha cor, e os olhos estavam completamente ausentes. Os cabelos que antes estavam arrumados em um coque esplêndido no topo da cabeça já estavam meio soltos e com mechas perdidas pelo pescoço.
— O mesmo pesadelo. — Mackenzie esclareceu baixinho olhando fixamente para o rosto gentil de Anne, como se ainda tivesse tentando identificar se estava acordada ou sonhando.
O rosto de Anne esmoreceu e ela pegou a mão da Princesa, tentando fazer com que toda aquela sensação ruim no coração da garota passasse para ela, porque era assustador ver a menina naquele estado: confusa e atordoada.
"Sem uma mãe para acalmá-la." Anne pensava sobre isso toda vez que a via após sonhos como esse.
— Talvez devêssemos procurar ajuda... — Anne ponderou.
— Talvez devêssemos mesmo. — Esmae concordou e as outras damas também concordaram.
— Não é normal que uma pessoa tenha o mesmo sonho noites seguidas. — Aylee comentou ao sentar-se do lado de Mackenzie.
A mente de Kenna tinha uma resposta mais plausível para tudo aquilo:
— Talvez, nossa Princesa esteja pensando demais nesse sonho antes de pegar no sono, e então, ela o sonha novamente.
Mackenzie teve que concordar com Kenna, muito embora antes de dormir tivesse ao menos se lembrado desse detalhe. Fazia alguns meses que não sonhava com aquele rapaz, mas como diria a alguém que prestes a ser coroada estava tendo problemas de saúde?
Isso não poderia acontecer.
— Então, não vamos contar nada a ninguém. — Foi o que Mackenzie pediu; mais uma vez.
Ela sempre pedia segredo, pois tinha medo do que poderia acontecer se não descobrissem nada a respeito disso. O reino tinha medo de coisas estranhas e Mackenzie se considerava esquisita demais para levar isso a público. No entanto, as quatro mulheres levariam isso ao túmulo se Mackenzie pedisse, porque elas eram fieis demais à sua Princesa, até mesmo Esmae.
Anne a abraçou como uma verdadeira mãe protetora, mas não foi na cautela que Mackenzie se dedicou.
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Reino Perdido [Concluído]
FantasyMackenzie é a legítima Herdeira do Trono de Parga. Coroada desde o berço, cresceu ao lado de seu pai, um Rei extremamente controlador e amargurado, que sempre fez o possível para mantê-la distante dos perigos que sabia que rodeava o exterior do Cast...