Mackenzie hesitou fitando o portal de entrada e depois olhando com ressalva para Edlyn. O lugar era escuro e ela tinha, em certa medida, medo de escuro, mas não tinha que fazer isso por Edlyn ou pela floresta. Mesmo que ela não quisesse fazer aquilo, ela precisava, tinha que encontrar a si mesma por ela mesma. Ela não sabia o que estava acontecendo dentro dela. Já não se reconhecia mais. A onda de energia que liberara. Tudo isso precisava de explicação, e sua mãe, que antes sequer o nome podia ser mencionado, agora era o que mais se ouvia falar.
Mackenzie merecia respostas e quando o druida deu dois passos em direção ao interior do templo, ela o interrompeu.
— Eldyn, eu acho que eu quero fazer isso sozinha. — Ela disse com reserva, porque se ele não cumprisse com a vontade dela, as coisas poderiam ficar piores, já que, sabe Deus lá o que este oráculo lhe diria. Se trouxesse à tona seu reinado em Parga e o nome de seu pai fosse mencionado, não sabia o que aconteceria, mas precisava manter seu disfarce a salvo.
Ele suspirou e lançou um olhar relutante, mas em silêncio, recuou.
— Obrigada. — Ela disse com alívio e certa dose de gentileza.
Quando começou a andar mais para dentro da construção, Edlyn perguntou:
— Os seus pais... — Ele soltou no ar, antes de continuar. — Eles são ... ?
— Não! — Ela exclamou com veemência, antes mesmo que pudesse completar a pergunta. "Era evidente que eles não eram bruxos!"
Não podia falar sobre seu pai, mas tinha certeza que ele não seria tão severo se fosse como eles. Ele não mataria os seus e se houvesse algo de estranho com ele, Mackenzie gostaria de acreditar que perceberia, pois, afinal, ele era seu pai. Mas a mãe. A mãe, ela sequer conhecia o rosto e não saber nada sobre ela fazia o peito da jovem Princesa adquirir um peso desmedido. Mas ela queria assumir, a todo custo, que a mãe era humana. Tinha que ser. Não podia macular sagrada imagem dela dessa forma.
— Isso não é possível. — Edlyn garantiu sem muito pensar, ganhando o interesse de Mackenzie que se virou para ficar diante dele. — A magia é transmitida de geração para geração. Você não pode roubar, nem ganhar, nem escolhe-la. Você é parte humana e a outra...
— Eu não sei, Edlyn. — Ela desabafou com a voz embargada. — Meu pai é humano, eu posso garantir, porque se não fosse, gostaria de acreditar que eu saberia. Mas minha mãe... Eu não a conheci, porque...
— Porque ela morreu... — Edlyn completou tão baixo quanto um pensamento.
Ela exalou ruidosamente ao inflar o peito e assentiu com uma tristeza perpassando em seus olhos.
A maioria dos bruxos haviam morrido e ela estava viva porque era jovem demais para ser identificada, mas ele não disse mais nada, e ela se virou de costas para avançar pelo templo.
Druidas não costumavam mentir, mas Edlyn mentiu para Mackenzie. Ele até tentou cumprir com o pedido dela. A garota precisava fazer aquilo sozinha, mas pensamentos e incertezas começaram a importuná-lo.
"E se ela mentisse sobre o que o oráculo viesse a lhe dizer?", foi a primeira coisa que a mente de Edlyn questionou. Ela não queria salvar Angora e havia dito isso várias vezes. Não queria ser bruxa. "Humanos mentem..."
Ele definitivamente não podia confiar. Não podia dar esse espaço para ela. Sua consciência até lhe deu uma fisgadinha, mas isso não foi o bastante para que o druida começasse a entrar no templo.
Mackenzie dava passos cada vez mais inseguros. As mãos estavam úmidas nas palmas, e de seu ventre subia uma sensação de apreensão e angústia que tornavam todos os seus músculos rígidos, mas isso não a impediu de prosseguir. Mas o que a motivava? A vontade de descobrir quem era? A necessidade de conhecer sua história? De garantir que tudo isso não passava de um grande mal-entendido. Mas porque, agora ela estava se questionando quem ela era? Era essa a primeira pergunta que faria ao oráculo, e embora não tivesse tanta certeza assim de que gostaria da resposta, ainda assim, ela a faria.
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Reino Perdido [Concluído]
FantasyMackenzie é a legítima Herdeira do Trono de Parga. Coroada desde o berço, cresceu ao lado de seu pai, um Rei extremamente controlador e amargurado, que sempre fez o possível para mantê-la distante dos perigos que sabia que rodeava o exterior do Cast...