15 - A céu aberto

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Depois de deixar a taverna, Mackenzie e Edlyn cavalgaram em Minelal até reduzir o ritmo e parar numa região com árvores mais espaçadas e menos brutas. Eles não podiam arriscar prosseguir para o extremo sul durante a noite. Era um lugar inexplorado, onde as formas de vida mais temidas de Angora se escondiam.

Mackenzie desceu do cavalo; Edlyn fez o mesmo, segurando Minelal pelas rédeas. A menina olhou ao redor e não se sentiu confortável ao ver nada além da mata virgem. Esperava um bom lugar para passar a noite, como ele havia dito. Não aquilo.

— Dormiremos ao chão? — Mackenzie indagou, lembrando-se da madrugada anterior em que acordara ao chão depois de ser contaminada pela Amender.

Edlyn lançou a ela um olhar contundente.

— Não me diga que você estava esperando por uma bela e aconchegante hospedaria no meio de todo esse matagal...

Mackenzie estreitou o olhar, e embora não tivesse se dignado a responde-lo, era exatamente o que ela esperava. "Que fosse ao menos uma cabana." Pensou ela, irritada em ter de balançar os braços para afastar com os mosquitos que sobrevoavam em espirais ao redor dela. No Castelo, nunca teria de lidar com mosquitos, pois os incensos de jasmim faziam o trabalho de afastá-los. A lembrança da fragrância fez sai mente viajar até seu palácio, lembrando-se do teto alto e amplo de seus aposentos e de sua cama confortável. Só que quando despertou para a realidade e deparou-se com a imensidão de verde enegrecida pela noite, apercebeu-se que o céu seria, mais uma vez, o teto sobre sua cabeça e grama seu colchão. Mas não haveria de ser de todo ruim, pois as estrelas estavam lindas e brilhantes no céu, a lua estava cheia, redonda e esplêndida ao parecer que estava mais perto no horizonte do que nunca estivera antes; o clima ameno e agradável não os faria passar frio extremo, nem calor insuportável, mas estava convidativo para uma bela caminhada ao ar livre, não em um lugar tão perigoso quanto Angora. É claro.

Afinal, ela estava começando a enxergar a beleza nos pequenos detalhes.

— Caçarei algum animal para nos alimentar — o druida enunciou — e você, encontre lenha para acender uma fogueira. — Ele determinou; e Mackenzie em resposta, lançou um olhar de pálpebras estreitas, ultrajada com o fato de ter que buscar por lenha.

"Como ele esperava que ela carregasse toda a madeira?", a menina deu de ombros ao perceber que não daria conta de atender ao que o druida havia pedido, e pensou no que ele havia dito sobre caçar:

— Pensei que você fosse o protetor da floresta. — Mackenzie articulou com ávida ironia e língua afiada; o druida soltou as rédeas do cavalo para deixá-lo com Mackenzie, e sequer se deu ao trabalho de parar de caminhar para responder:

— E somos, mas também, temos barriga e fome.

— Pelo visto, temos alguma coisa em comum. — Mackenzie retrucou ao empinar sutilmente o nariz, mas desfez-se da pose ao sentir seu estômago revirar enquanto implorava por um pouquinho que fosse de comida.

— A menos que aceite comer carne crua, vá buscar a lenha... — O druida disse, silenciando Mackenzie e sacando com destreza o arco da aljava, preparando-se para iniciar a caçada.

Tempos depois, Mackenzie surpreendeu-se ao perceber que os pequenos galhos secos de árvores e as pequenas toras perdidas ao chão não eram tão pesadas quanto pareciam. Ela conseguiu formar um pequeno monte, com madeiras uma em cima da outra. Edlyn também teve sucesso na caçada ao retornar, exibindo um belo coelho branco morto, enquanto segurava o bicho pelas patas de trás. Para Mackenzie, que não via orgulho no ato, quando se deparou com o animal morto, pendurado pelos pés, com os pelos cor de neve imaculado pelo vermelho do sangue, sentiu nauseada ao ponto de perder o apetite.

Reino Perdido [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora