— Mackenzie... — disse ela num sussurro aquecido, depois de encará-lo por um tempo.
Ele virou o rosto, fitando-a com um vinco entre as sobrancelhas.
— O meu nome... — acrescentou ela com um sorriso gentil.
Edlyn parou por um instante, os olhos tomados pela surpresa e pelo entusiasmo. Finalmente estava pisando em um terreno tranquilo.
— É uma pena não poder usá-lo aqui. — Suspirou, fitando-a com bastante profundidade, deslizando o dedo polegar pelo maxilar oval — Mas é um enorme prazer conhece-la finalmente. — Edlyn fez um floreio com a mão, enquanto os olhos entremearam ironia e divertimento. O rosto de Mackenzie corou e ela desviou o olhar para baixo, sorrindo também. — Agora precisamos voltar. — Acrescentou, a garganta se apertando por precisar interromper o momento de tranquilidade que havia conquistado.
Mackenzie sorriu sem mostrar os dentes e assentiu, levantando-se. Ela sacodiu os cabelos a fim de livrar-se das folhas teimosas e passou a mão pelos braços, espanando a terra para voltar a seguir o caminho de volta para o acampamento.
O beijo que Edlyn dera nela nada se assemelhava com o de Nestor, que era morno, delicado e um pouco acetinado. Já o beijo de Edlyn abraçara sua alma de uma forma intensa e inesquecível, com camadas complexas e desconhecidas e ele tentasse desbravá-las e lhe apresentasse a uma nova versão de si. Havia uma pitada de perigo algo que fazia o coração bater mais forte e um frio percorrer a espinha.
Ela ainda estava um pouco sem fôlego quando as primeiras tendas puderam ser vistas ao longe. Os dois franziram a sobrancelha, observando a quantidade de criaturas que se juntava em um aglomerado onde na noite anterior ocorrera a roda de dança. Edlyn deslizou a mão pelo braço macio de Mackenzie e sentiu a mão frio.
Pelo nó que se apertou no estômago de Mackenzie, ela pode pressentiu que o que estava por vir não era bom e com o rosto sem cor e os olhos esbugalhados, ela tentou recuar. Era como se o tempo tivesse fechado e o destino tivesse se voltado contra ela, mas eles já caminhavam em sua direção e nada poderia ser feito.
— A onde pensa que vai? — Sage indagou com muita arrogância — e quanto a você — ela voltou-se para Edlyn, afrontando-o com um olhar mordaz. — Eu disse que descobriria o que estava acontecendo. Mas não imaginava que você seria capaz de entranhar uma humana entre nós. Uma humana da realeza. — Acrescentou ela, olhando Mackenzie de cima abaixo com ar de superioridade. — Vocês estão arruinados.
Passos puderam ser ouvidos por trás da multidão e aos poucos, eles foram abrindo caminho até que estivesse diante de Mackenzie e Edlyn.
Era o pai de Edlyn. Mackenzie nunca o tinha visto, mas a julgar pela forma como ele prendera o ar em seus pulmões, só podia ser.
O velho druida tinha os cabelos negros entremeados por fios prateados que eram presos em um rabo de cabalo e deixavam as orelhas pontiagudas à mostra. Sua pele possuía um viço que nem os anos poderiam ofuscar. Os traços característicos observados em Eirin e Edlyn eram dele, exceto pelos olhos de ardósia de Edlyn. Bonito, mas bastante tempestuoso.
Era como se o tempo tivesse parado e todas as voz calasse quando ele parou diante dos dois, olhando primeiramente para Mackenzie, que sentiu o corpo congelar como se gelo lhe percorresse a pele e depois parou em Edlyn, como se estivesse prestes a engoli-lo. O músculo da mandíbula dele contraia com a raiva crescente.
— Pai... — Edlyn balbuciou com clemência, como se ele pudesse amenizar a situação. Mas Sage já havia estragado tudo e nada poderia ser feito.
Mas tudo o que recebera de volta fora um tapa, cujo estalo pode ser ouvido com bastante clareza e intensidade. A pele guardou a marca avermelhada dos dedos e o olhar de Edlyn se tornou igualmente danoso, demonstrando que seu pai jamais havia erguido a mão para ele antes.
Eu não menti sobre ela poder nos salvar. — Edlyn tentou justificar, engolindo o rancor. O oráculo garantiu. Era o que ele queria dizer, mas o pai o interrompeu.
— Essa foi a última vez que você interferiu. — O pai disse, irascível. — Prendam-na e façam com ela exatamente o que ela faz com a nossa raça.
Asco subiu pelas entranhas de Edlyn quando percebera que Mackenzie estava prestes a ter uma corda no pescoço e os pés acima do chão.
O rosto de Mackenzie perdeu a cor, suas mãos estavam geladas, era como se aranhas tentassem escalar sua garganta. Ela queria respirar, queria gritar, mas estava paralisada ao perceber que estava à beira da morte.
Os druidas que prenderam o grifo na floresta deram passos em direção a ela, e um deles amarrou seus braços, antes de levá-la dali. Mackenzie não oferecera resistência, pois sabia que nada poderia ser feito.
Por um breve momento, ela tentou tragar uma onde fraca de poder, mas nada acontecia. Era como uma chama ao vento, displicente e bruxuleante. Ainda era fraca demais até mesmo para se salvar e a única coisa que conseguiu fazer, foi olhar por cima do ombro para Edlyn, deixando como última lembrança, a dolorosa imagem de um olhar amedrontado, desamparado e sem esperanças que gerou nele a sensação de ter uma flecha irrompendo no coração.
O pai de Edlyn se afastou, voltando para sua cabana e Edlyn foi atrás quando a visão de Mackenzie cercadas pelos druidas se tornou pequena no horizonte.
— Pense um pouco, pai. — Edlyn praticamente implorava. — Você não quer se igualar a eles, não pode matá-la! — Edlyn exclamou quando atravessou a cabana do pai.
— Você teve a sua chance, Edlyn. — O pai disse com a voz endurecida. — Eu assumo daqui.
— Não pode matar a rainha deles. — Edlyn determinou com raiva crescente, batendo a mão na mesa. — As coisas se tornarão muito piores.
O pai parou por um instante, fitando-o como acabasse de levar um choque.
— Ela não queria estar aqui. — Edlyn declarou. — Desesperado para nos salvar, eu a chantageei. Nós não somos como eles. Não matamos por mesquinhez. Devolva-a e encerre o assunto.
O pai exalou uma forte onda de ar enquanto refletia com perspicácia.
— Se matá-la — ele quis dizer pela última vez — isso não acabará nada bem. Eles retalharão.
***
Penúltimo capítulo, amores.
Espero que estejam gostando e gostaria de saber a sua opinião, já que ficou para o final.
Devo postar o capítulo final de hoje para amanhã, junto com o epílogo.
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Reino Perdido [Concluído]
FantasyMackenzie é a legítima Herdeira do Trono de Parga. Coroada desde o berço, cresceu ao lado de seu pai, um Rei extremamente controlador e amargurado, que sempre fez o possível para mantê-la distante dos perigos que sabia que rodeava o exterior do Cast...