02 - Correria

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Quando Mackenzie atravessou a porta dupla da entrada do Castelo, muitas pessoas a estavam procurando. Anne, a babá, que queria saber onde ela havia se metido. Emilly, que queria uma opinião sobre as cortinas para o grande dia. De suas três damas de companhia, duas a procuravam, Kenna e Aylee. Esmae que costumava sumir vez ou outra também.

Mackenzie atravessou o salão com todas elas em seu encalço.

— Dourado ou vermelho? — Emilly questionou enquanto andava, passando para a frente de Mackenzie para exibir as amostras dos dois tecidos um do lado do outro.

Mackenzie não gostava desse tipo de ocupação, mas quando pensou em responder, "dourado", Anne falou:

— Onde você estava? Eu estava preocupada.

— Fique tranquila, Anne. Eu não sumi, e não cai em buraco algum, estava no jardim tomando um pouco de ar. — Mackenzie mentiu, virando o rosto para sua babá.

— O Príncipe de Mikvar está na corte. — Kenna soltou com bastante empolgação.

— E trouxe um amigo... — Aylee cantarolou toda saidinha.

As damas estavam na corte para arranjarem casamentos vantajosos para suas famílias, e era o que elas estavam tentando fazer, mas das duas, Aylee era a mais afobada de todas.

As vozes das mulheres se embolavam, uma por cima da outra, todas ao mesmo tempo e voltadas para Mackenzie que em momento algum parou de seguir em direção a seu pai.

— Onde está meu pai? — Mackenzie elevou o tom de voz e todas pararam de falar sobre o que quer que estavam falando ao mesmo tempo.

— Na sala do rei. — Anne respondeu. — Com o Príncipe.

Então, talvez ela finalmente conheceria o Príncipe Amaldiçoado e a ideia causou um reboliço em seu estômago.

O Príncipe Dorian nunca tinha sido visto antes e era por isso que o chamavam de amaldiçoado. Diziam que uma bruxa tinha levado sua irmã gêmea e que ele tinha sido amaldiçoado por ela ainda no dia em que nasceram. Depois o pai o escondia para que ninguém visse o que o Príncipe tinha se tornado. Diziam que ele era corcunda e que as pernas eram fracas demais para suportar o próprio peso, mas isso não fazia o menor sentido se ele estava ali, no castelo de Mackenzie.

— Obrigada, Anne. Eu preciso ir.

Mackenzie subiu as escadas correndo em direção ao seu pai. Era um caminho longo, porque o Castelo era enorme, mas isso não a desanimou e alguns minutos depois, os guardas abriram as portas duplas da sala onde esperava encontrar o pai.

— Papai. — Mackenzie precipitou, respirando aliviada assim que o viu de costas.

Galeth se virou sobre o habitual manto de pele de urso, e de tudo o que Mackenzie pode focar na sala, ela focou em Esmae logo a frente, tão surpresa quanto ela. Mas naquele momento, a princesa ainda não era capaz de compreender o que estava acontecendo entre sua dama de companhia e o Rei, então, Mackenzie simplesmente informou a ela:

— Kenna e Aylee estão procurando por você, Esmae.

Esmae saiu fazendo uma mesura que não deveria ter soado constrangida demais, mas foi, só que Mackenzie só se preocupava com o pai.

— Papai, está tudo bem? — Mackenzie perguntou, aproximando-se mais do Rei e pegando com ternura a mão de seu pai. — Eu soube que o Príncipe está no Castelo.

— Está sim, minha filha. — O Rei respondeu.

— O que ele queria? — Mackenzie indagou com gentileza.

O Rei fitou Mackenzie por um bom tempo, ponderando se deveria ou não poupá-la da realidade, mas optou por não o fazê-lo.

— Casar-se — disse num suspiro tenso — com você... Esse bárbaro insiste em se casar com você.

— E o Senhor não vai permitir que isso aconteça, não é, papai? — Mackenzie choramingou.

Casar-se com o Príncipe de Mikvar seria entregar Parga ao carniceiro do Rei. Ele assumiria tudo por ganância e Deus sabe o que aconteceria a Mackenzie, mas ela seria destruída e Parga arruinada.

— Não, minha filha. Você se casará com um homem bom, o Príncipe Julian do Reino de Bargan.

— Me casar? Um casamento por conveniência, papai... — Mackenzie não gostou da ideia, embora imaginasse que este dia chegaria, imaginar tal coisa fez seu coração tropeçar em algumas batidas.

— Você vai precisar se casar, meu bem. — O Rei informou com mais empatia desta vez. — Se encontrar um lorde a sua altura até o dia de sua coroação, eu o aceitarei.

Mackenzie assentiu concordando, mesmo sabendo que não poderia encontrar ninguém por não sair do Castelo, e os guardas atrás da porta a fizeram se mover, atraindo a atenção dos dois para lá.

— Majestade. — Um dos guardar atravessou a porta fazendo uma mesura antes de se pronunciar de fato.

— Onde ele está? — Mackenzie perguntou, vasculhando ao redor em busca de encontrar o Príncipe.

O Rei estreitou o olhar e avançou para mais perto de sua filha, com a feição que demonstrar que não lhe agradava em nada o repentino interesse no visitante.

— Ele passará a noite em nossa corte, mas partirá com o nascer do sol. — Galeith informou. — Sob nenhuma hipótese, eu quero que os olhares de vocês se cruzem neste Castelo. Não ouse me desobedecer, porque você terá de conter essa curiosidade que está brilhando em seus olhos, minha filha.

Ele sabia que precisaria ser mais ríspido com Mackenzie neste momento, porque talvez, se os dois se encontrassem, tudo poderia mudar. Galeith nunca tinha visto o Príncipe antes e sabia que se Mackenzie o visse também, ele poderia mexer com o coração ingênuo dela e fazê-la acreditar em outras coisas.

Mas em resposta, Mackenzie pensou em dizer algo, no entanto quando de fato abriu a boca para falar, o Rei a interrompeu com um gesto de mão, e em seguida, saiu da sala, acompanhando o guarda que o chamara.

Mackenzie saiu da sala do Rei um pouco depois, e encontrou Anne logo a frente com as três damas de companhia.

— Está na hora de terminar o bordado. — Anne exclamou, pegando a mão de Mackenzie e levando-a para o salão das mulheres.

Mackenzie suspirou com frustração por ter que ser desse jeito, mas a Princesa precisava aprender tarefas de uma dama, mesmo que as odiasse, porque ela gostava mesmo era de cavalgar, correr, ler e não de perder tempo com bordados e tagarelices.

Todo dia, as três da tarde as mulheres se reunião no salão das mulheres, e Anne entregou o seu antigo bastidor com o bordado de flor incompleto e mesmo a contra gosto, ela começou a cruzar a agulha para continuar o trabalho manual, sentada em uma das poltronas mais afastadas do salão.

Esmae pintava em uma tela e Kenna e Aylee tomavam chá enquanto conversavam sobre pretendentes e o baile de coroação de Mackenzie. No entanto, não havia nada mais tedioso do que o bordado e não levou mais do que dez pontos para que o sono aparecesse e aos poucos, o cansaço foi tomando conta de seu corpo até se tornar difícil sustentar o peso do próprio bastidos e encontrar o buraquinho no tecido se transformar em uma missão completamente impossível. As pálpebras foram ficando pesadas, até que a cabeça dela pendesse um pouco para o lado, e repousasse confortavelmente sobre o estofado do assento entalhado a ouro.

Pouco antes de Mackenzie mergulhar em um estado de sono profundo, a primeira coisa que veio a sua mente foi Nestor. Ele se declarou para ela, e agora, Mackenzie precisava fazer alguma coisa a respeito, porque ele esperava por uma resposta. No entanto, seu pai esperava que ela se cassasse um Lorde, e não com o filho do General do exército.

Havia honra em Nestor, e Mackenzie nunca o desprezaria, porque ela o amava, até então, como amigo. Será que algo havia mudado?

Mackenzie sentia que sim, porém, ela não sabia dizer o quê.

Reino Perdido [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora