27 - A aprediz

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            Os dias no acampamento druida passavam mais rápido do que Mackenzie poderia se lembrar. Seu dia era dividido entre praticar magia, arte de combate e aprender usar o arco e flecha. Das três atividades, a única que Mackenzie se destacava era em acertar a flecha no alvo. Sua mira havia se desenvolvido bastante ao longo do treinamento e isso a deixava bastante animada. Em contra partida, a magia havia se tornado um trágico pesadelo para ela, que não parecia saber minimamente o que estava fazendo todas às vezes que lia alguma coisa no livro de feitiços. Sua pronúncia era péssima e ela se sentia cada vez mais frustrada à medida que tentava. Quando terminava suas atividades, Eirin a levava em segredo até a caverna do grifo e a deixava ali sentada à beira da caverna com a companhia de uma criatura que ao menos saiam das sombras para saudá-la. Ali, sentada e sozinha, ela falava muito abertamente sobre sua vida no castelo, suas expectativas e frustrações.

Ao longo dos dias, Mackenzie havia estabelecido uma estranha ligação com o grifo. Não pelo fato dele jamais poder contar seus segredos, mas sim, por compartilharem da mesma situação de aprisionamento.

— Na noite em que fui sequestrada, eu tive mais uma daquelas visões muito assustadoras com Edlyn na floresta. Mas não é esse o ponto. — Ela acrescentou voltando o rosto para o interior da caverna, com um sorriso infeliz. — Com mau pressentimento, corri aos aposentos de meu pai e para a minha surpresa, ele estava na cama com Esmae... — contava de olhos arregalados. — Você deveria ter visto. Na verdade, não deveria, não. Foi aterrorizante e muito constrangedor vê-los naquela situação. Meu próprio pai com a minha dama mais estimada. — Divagava com o olhar distante e o coração apreensivo. — Eu daria tudo para saber como eles estão se comportando diante do meu sumiço. Será que ainda me procuram? Meu pai não é o tipo de homem que desiste tão facilmente, mas eu já teria perdido as esperanças depois de tanto tempo. — Confidenciou ela num suspiro. — No entanto, agora não sei se me sinto segura para voltar para casa. Tenho muito medo de não conseguir manter esse segredo e imaginem o que poderiam fazer comigo? — indagou ela, apavoradíssima ao pensar em enforcamento, carrasco ou fogueira.

Mackenzie parou de falar de repente, olhando de um lado para o outro com cautela e assumindo uma postura tensa quando teve a sensação de estar sendo observada, mas ela não viu nada e já não era a primeira vez que isso acontecia, temendo que pudesse ser algum animal perigoso, ela se levantou e apressou-se em voltar para o acampamento.

No outro dia, a brisa noturna umidificava o ar ao passo que o dia se findava. O vento serpenteava no ar e levava os fios de cabelos de Mackenzie ao rosto. Sentada ao pé de um frondoso cedro de folhas alaranjadas, Mackenzie ainda encarava a Magnólia lilás que repousava sobre o livro de feitiços abertos em seu colo, maneando a mão erguida, ela desempenhava máxima concentração em tentar erguer a flor com magia, mas chateou-se por não obter resultado algum. Ela jogou a cabeça para trás, tomada pelo descontentamento, revoltando-se com o universo ao fechar os olhos e associar seu êxito ao seu regresso.

Imagens de sua vida no castelo lhe vieram à mente, no entanto conforme o tempo passava, mais ela sentia que estava se distanciando de tudo aquilo, como se cada dia fosse um passo para mais longe.

Ela fechou as mãos em punhos e os nós de seus dedos se tornaram brancos quando as lembranças fizeram uma raiva violenta fervilhar no peito de Mackenzie e enraizar-se pelo corpo. Dessa vez, ela não fez questão de abafá-la, direcionando-a a toda a floresta, quando concluiu que poderia nunca mais voltaria para casa.

Essas eram consequências da guerra. Caráter corrompido, princípios violados e impiedosa cede de poder. Se quisessem vencer Europa, eles teriam de ser igualmente vis, porque não se vence uma guerra com amor.

Mackenzie abriu os olhos e espantou-se ao se deparar com a flor que levitava diante de seu rosto. Ela ergueu a mão, passando para lá e para cá no espaço que a afastava da superfície do livro e de lábios entre abertos, maravilhada, ela ergueu a mão e tocou a flor para ter certeza de que realmente estava acontecendo, ela tinha conseguido.

Reino Perdido [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora