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O castelo de Parga era enorme. Repleto de entradas e saídas secretas; com paredes eram feitas de tijolos, mas ao longe, eles pareciam apenas minúsculas pedras uma sobre a outra. As várias torres arredondas agigantavam-se rumo ao céu de outono e davam vista para boa parte do território. Construído sobre uma extensa planície rochosa, a frente e nos lados, era cercado por finitas árvores com folhas em tom alaranjado pela estação do outono. Mas atrás ficava toda a riqueza do reino, a água potável; banhados pelo rio Silver que circundava a floresta densa.

Dentro do castelo, Mackenzie descia as escadas. A princesa parou por um instante, vasculhando ao redor e levando despretensiosamente a mão sobre o corrimão de ouro, tão deslumbrante em seu vestido verde imperial confeccionado em linho. A gola era alta e ajustava-se ao redor do pescoço. Ele tinha sido feito sob medida como todas as roupas em seu guarda-roupas, com a parte superior se ajustando perfeitamente ao corpo e se alargava na cintura delgada para abrir em grandes dobras que lhe cobria os pés, fazendo com que a barra farfalhasse pelo chão de ardósia ao rumar em direção ao corredor principal, onde tinha certeza que encontraria o que estava procurando. Nestor.

Foi nessa pressa que ela o encontrou. O mensageiro do castelo. Seu amigo de infância, com o elmo embaixo do braço, apoiado entre as costelas. Ele, tão estimado em seu grande casaco de pele comprido e escuro. O sorriso no rosto da Princesa se iluminou antes dela puxar e suspender a barra do vestido a fim de correr em direção ao rapaz.

Na adolescência, Nestor era um pouco estranho e não atraia a atenção de muitas pessoas por sua beleza. Um menino magricela, com cabelos vermelhos cor de cobre tão acentuados e volumosos, olhos com de âmbar e o rosto tomado por sardas que pareciam mais com a ferrugem. Só que Nestor era filho do general do exército de Parga e não crescera para ser um homem fraco. Seu pai não permitiria que isso acontecesse, e não bastou alguns anos para se tornar o homem que estava de frente para Mackenzie. Belas costas largas, braços fortes o bastante para ajustarem-se as mangas de seu casaco.

— Como foi em Bargan? — Ela perguntou, ansiando em saber tudo o que Nestor tinha visto enquanto viajava.

Durante todos os seus dezessete anos, Mackenzie nunca tinha saído do castelo. Não que ela pudesse dizer que levava uma vida de aprisionamento, mas o Rei insistia que através das muralhas não era seguro. Então, todas as suas experiencias além da corte tinham acontecido aos olhos de outras pessoas; principalmente aos de Nestor. Mas ela sabia, apenas pela postura mais rija de seu amigo e pelo sonho desta madrugada — talvez um pesadelo. Ela não sabia dizer, porque não era capaz de se lembrar — que as notícias não eram boas.

O sorriso de Nestor se desmanchou como um pequeno amontoado de areia no vendaval e tudo ficou tão claro quanto o dia: sua sensação estava certa.

— O problema não está em Bargan, Princesa — Nestor soltou a informou com a voz tensa. — Ele está aqui.

Mackenzie concordou como se os dois confidenciassem um segredo, e então, seguiram em direção ao jardim para que pudessem conversar mais reservadamente.

Para chegar ao jardim de inverno, eles precisavam subir alguns degraus de pedra e atravessar o portal arredondado coberto de heras da entrada. A fonte de pedra, cuja estátua da Santa Brigith, de braços abertos, emanava água pela palma das mãos.

A Santa era enorme, maior que Mackenzie ou Nestor, e tinha sido um presente dos deuses a muito tempo concedido, porque eles eram abençoados pela água que banhava as costas do Castelo.

— Diga-me, Nestor, o que está acontecendo. Qual é o problema? — Mackenzie perguntou e não fez questão nenhuma de esconder a apreensão.

— O príncipe Dorian de Mikvar está na corte, ele está falando com seu pai neste exato momento. — Nestor disse, fazendo com que o sangue no rosto de Mackenzie esfriasse.

Reino Perdido [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora