— Você o soltou, e ele não partiu? — Perguntou ela quando o grifo aterrissou com imponência, batendo as quatro patas à beira do penhasco, recolhendo as enormes asas e andou até Mackenzie. Parando diante de si.
A fera fitava-a diretamente com os olhos cor de mel e ela se manteve prostrada, insignificante em sua miniatura, sem sentir a necessidade de fugir ou se esconder, porque ao contrário das criaturas predatórias, Mackenzie não sentia que o grifo desejava caçá-la. Ela podia ver isso nos olhos dele.
Mackenzie ergueu a mão com gentileza, passando a mão pela omoplata coberta de penas ásperas.
— Ele não partirá — exclamou com muita convicção, provocando uma sensação de confusão na cabeça de Mackenzie que reagiu franzindo as sobrancelhas — porque escolheu você...
— O que? — Indagou em resposta, olhando do animal para ele.
— Dizem que alguns animais são capazes de desenvolver uma conexão muito forte com outras criaturas, e o grifo, o grifo parece que fez isso com você.
Assim como Mackenzie, Edlyn nunca tinha vivenciado tal coisa e ele não podia garantir se de fato estava acontecendo. A questão era que o animal não permitia de bom grado que qualquer outra criatura se aproximasse.
— Isso não faz sentido... — Mackenzie soltou, passando as costas das mãos pelo flanco da criatura, como se o grifo fosse um filhotinho de gato.
O druida ergueu as sobrancelhas para dizer:
— Veja por si só... — Apontou, aproximando-se de Mackenzie. — Você poderia tentar montar — sugeriu ele muito casualmente, e os olhos de Mackenzie esbugalharam-se antes dela determinar sem muito pensar:
— Nem pensar.
Ele ergueu a sobrancelha antes dizer:
— Por quê?
Ela suspirou, girando o rosto e deslizando a mão pela penugem do animal. A simples ideia de voar a fazia estremecer e sentir que pedras de gelo instalavam em seu estômago. Ela gostava da sensação de ter os pés bem firmes ao chão e preferia deixar essas aventuras para quem realmente deseja vivenciá-las.
— Prefiro não fazer isso. — Ela limitou-se a responder o mais indiferente possível com um balançar de cabeça. — Mas você poderia tentar. — Acrescentou, fitando-o.
Mais tarde, depois que Edlyn montou no cavalo e içou voo por alguns minutos, Mackenzie esperou ao pé da árvore de cerejeira, experimentando de uma sensação apavorante de ver que não havia nada além da borda do precipício. Uma queda. Bastava um passo para ser engolida pelo vazio infinito. A ideia fez os pelos do corpo dela se arrepiarem e desviar olhar para o céu, onde Edlyn e o grifo não passavam de meros borrões dourados ao céu.
Eles andavam lado a lado enquanto seguiam o caminho de volta para o acampamento. O sol já havia se instalado e irradiava um calor intenso, espantando a neblina matinal.
— Bem. — Mackenzie disse pela primeira vez depois de um tempo. — Então, o grifo poderá ficar a solto? — ela estalou a pergunta com bastante entusiasmos.
Edlyn fitou-a de relance, apenas para conferir a felicidade que a fazia praticamente brilhar e tentou conter o sorriso que o contagiava quando ela o fitou.
— Desde que ele não ataque ninguém. — Edlyn fez questão de reiterar. — Não faz mais sentido mantê-lo prezo.
O coração de Mackenzie vibrou de exortação, e ela avançou alguns passos na frente dele, sorrindo como uma criança inocente e descuidada, mas quando abriu a boca para agradecer, foi interrompida pela queda precedida pelo pé que se enroscou em uma raiz proeminente, embolando-se em plantas rasteiras e galhos quebrados. Ela se sentiu ridícula com toda a sua gratidão imprudente e soltou um muxoxo ao se ver atabalhoada.
— Você não devia fazer isso... — Edlyn a repreendeu suavemente, deixando-a ainda mais frustrada. — Em uma floresta como essa, você deve olhar para a frente sempre. — Ela o fitou de cima e repreendeu-se por ter gostado tanto do que estava vendo.
— Essa é uma das suas regras de sobrevivência? — Mackenzie provocou-o, enfatizando a ironia com um arquear de sobrancelhas.
Edlyn fitou-a de olhos estreitados e ela suspirou profundamente.
— Que tal tentar me ajudar ao invés de ficar aí em pé, só observando... — resmungou.
Ele esticou o braço para ela, oferecendo-lhe a mão enquanto dizia:
— Talvez, se a princesa utilizasse tais regras de sobre...
Aposto que as regras de sobrevivência dele não contavam com o que ela acabara de fazer. Ela gargalhou quando para se vingar, pegou a mão dele e o puxou contra o chão. Ele caiu por cima dela e sua risada ia morrendo à medida que percebia o quão próximo ele estava.
Dali, Mackenzie podia sentir o calor e os músculos duros e rijos de Edlyn sobre seu corpo e embora não a tivesse esmagando, ela sentiu uma repentina necessidade de puxar ar para os seus pulmões.
Os olhos dela repousaram sobre os dele e ela pode observar os fios de prata que cingiam as íris de topázio azul misteriosas. Algo obscuro e quase inapropriado relanceava ali e sobrepujava a expressão encantadora, fazendo com que uma onda de sensação e sentimentos inflamasse de dentro dela e estendesse até ele.
— Achei que não devesse falar sobre minha vida no castelo aqui... — Mackenzie provocou-o com uma intensidade no olhar que parecia que o engoliria.
Com o coração batendo forte nas costelas e lufadas de ar profundas e irregulares contra a bochecha de Mackenzie ficava evidente o quanto aquilo também o afetava. Ele a desejava de uma forma intensa e quase desesperada. Era uma coisa instintiva, que vinha de dentro, quase primitiva, e de um jeito errado, mas muito certo, ele sentiu que eles se pertenciam, que se encaixavam como peças feitas uma para a outra.
— E não deveria — disse ele, com a voz rouca e necessidade reprimida. — É muito arriscado. Se os outros descobrirem...
Ela sentiu necessidade de lhe perguntar o que poderia acontecer, mas ela só conseguia olhar para os lábios entreabertos enquanto ele se aproximou, enchendo seu campo de visão e tudo ao redor foi esquecido escureceu. Era como se até o tempo tivesse parado. Mackenzie ia comedidamente fechando os olhos, rendendo-se e envolvendo-se pelo formigamento aveludado de curiosidade e necessidade que se propagar por todos os seus sentidos.
Sem saber exatamente em que momento ela havia se apaixonado por ele, imaginou que amá-lo era o mesmo que atirar-se de um penhasco, perigoso, assustador e inevitável, mas absolutamente libertador e arrebatador, como se pudesse adquirir asas ao longo da queda e voar até tocar o céu.
Uma das mãos de Edlyn pouso sobre a pele macia do pescoço dela, deslizando e encaixando-a abaixo da mandíbula, pouco antes de seus lábios se tocaram suavemente e ele a beijar como se sua própria vida dependesse daquele momento.
Mackenzie arfou sem perceber. Ela não queria que acabasse e não percebia que estava tão sedenta daquilo até realmente prova-lo. Todos os sentimentos contraditórios e inseguranças minaram quando ele a reivindicou.
***
Finalmente aconteceu! O beijo saiu e eu to aqui babando o meu casal.
Vocês não sabiam o quento eu estava ansiosa para escrever esse momento e compartilhá-lo com vocês.
Infelizmente, se preparem, porque a história desse primeiro livro está chegando ao fim. Espero que vocês estejam gostando.
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Reino Perdido [Concluído]
FantasyMackenzie é a legítima Herdeira do Trono de Parga. Coroada desde o berço, cresceu ao lado de seu pai, um Rei extremamente controlador e amargurado, que sempre fez o possível para mantê-la distante dos perigos que sabia que rodeava o exterior do Cast...