14 - Novo norte (continuação)

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O spriggan colocou curiosos óculos arredondados na cara grotesca para enxergar melhor, e isso fez Mackenzie se lembrar das pequenas estatuetas de gnomos que havia no jardim do Castelo, que agora parecia tão remoto em suas lembranças quanto em geografia, e quando percebeu, já estava distraída, afogada em lembranças de sua casa.

— Se existe alguma possibilidade deste templo existir — Vastia considerou, apontando com a enorme unha pontiaguda em direção ao mapa aberto sobre o balcão.

Edlyn analisou o mapa e sua garganta deglutiu em seco antes de dizer:

— Mas não está mapeado, Vastia.

O springgan ajeitou sua postura e fitou Edlyn com curiosidade quando disse:

— Ora, é exatamente por isso.

Era intrigante olhar para o mapa, ele era tão rico em detalhes, rico o bastante para perceber o quanto o local indicado por Vastia se aproximava dos domínios de Europa.

— Vai ser arriscado. — O spriggan acrescentou, parecendo saber exatamente o que se passava na cabeça do jovem general druida.

— Estou disposto a assumir os riscos. — Edlyn afirmou com confiança e bastante pressa. — Posso ficar com ele? — Indagou, e quando Vastia concordou ao gesticular com a cabeça, Edlyn enrolou o papel para que se tornasse apenas um rolinho. — E o que você quer em troca?

Os olhos do spriggan cintilaram de um jeito malicio, como acabasse de fazer a pergunta mais interessante da noite, mas antes que ele pudesse dizer o preço pelo mapa, Mackenzie chamou a atenção deles, no momento em esbarrou com a capa grossa em uma das caixas de cartas de tarô e elas se abriram pelo chão.

Mackenzie se encolheu, receosa ao ver que Vastia resmungava e praguejava em forma de ruídos enquanto fazia a volta pela mesa e se aproximava mais dela.

— Olha o que você fez... — Vastia reclamou antes de ver as cartas de perto, e quando se aproximou mais, parou por um instante.

A disposição das cartas no chão realmente eram, para dizer no mínimo, para lá de inusitada, e tinham chamado a tenção de Vastia, porque exceto as três cartas viradas para cima, espalhadas sem pouco cuidado devido à queda, as restantes estavam voltadas para baixo, e elas pareciam querer dizer algo que Vastia não ousaria dizer, não em voz alta. A criatura encarou Mackenzie com um olhar significativo, o que fez com que ela assumisse uma postura defensiva e temerosa.

A temperança;

A torre;

A roda da fortuna.

Vastia fitou aquela combinação alarmante por um momento, e embora sua intuição de spriggan tentasse lhe alertar sobre aquilo, ele simplesmente decidiu que só poderia ser mera coincidência.

— Sinto muito! — Ela disse rapidamente, abaixando-se para pegar as cartas, esperando que pudesse amenizaria a situação.

Ela estava começando a ganhar a atenção de Vastia e Edlyn começou a se contorcer desconfortavelmente do outro lado.

— Deixe, deixe, deixe! — O springgan rosnou, tomando da mão dela as cartas que já havia pegado do chão e Mackenzie sobressaltou-se com as unhas pontudas que arranharam sua palma.

Foi então que cabelos dela se movimentavam ao correr dos ombros para frente do corpo, e o spriggan fungou duas vezes com suas largas narinas grotescas, e isso foi o bastante para que ele se agitasse e corresse para cima da garota.

— Uma humana. — Ele bradou com uma voz gutural e assustadora, instantes antes de saltar no ar e pular sobre a garota, derrubando-a de costas no chão com ele por cima.

Reino Perdido [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora