A manhã se transformou em tarde e a tarde se transformou em noite na caverna em que Mackenzie fora aprisionada. Ali, no mesmo lugar em que o grifo foi trancafiado, ela se viu do outro lado. O lado mais escuro e apavorante.
No entanto, de todas as coisas, estar presa não era o que mais a fazia estremecer, porque a sensação de que estava prestes a morrer lhe causava muita angustia e aflição. Pensar que sua vida estava por um triz a deixava apavorada. Já havia antecipado a morte infinitas vezes em sua mente, mas nenhuma dela pareceu aproximara-se da realidade. O sono lhe foi roubado, e embora não comesse a algum tempo, também não havia fome, somente o tormento que fazia sua cabeça girar e girar sem chegar a lugar nenhum.
Não muito longe dali, um som de pano se rasgando irrompeu o ar e depois, uma coruja piou um som curto e profundo que levou uma sensação de aflição e mau-agouro ao âmago de Mackenzie. Seria uma noite difícil, já que o vento frio fazia com que seus dentes batessem uns contra os outros e uma onda de arrepios a assolava de tempos em tempos, fazendo com que sua respiração se tornasse pesada. Seus lábios estavam arroxeados e pequenos flocos de neve se formavam sobre seus cílios quando o cansaço bateu em seus ossos e mente. Ela encostou a cabeça na grade e fechou os olhos, com os braços em volta das pernas dobradas, tentando aquecer-se da melhor forma possível. Quando as coisas começaram a se acalmar por dentro, ela se perguntou o que aconteceria com Edlyn. Ele não havia aparecido e não havia sinal de que lhe ajudaria a sair dessa situação, mas alguma coisa dentro dela insistia que isso não era verdade. Ele não a abandonaria, mas antes que qualquer coisa. Ela precisava sobreviver a essa noite extrema.
Naquela noite, em seu sonho, Mackenzie estava diante de seu reflexo no espelho e não gostou do que viu. Ela utilizava uma tiara de pedras de obsidianas, cuja cor contratava sobre o cabelo tão claro quanto a neve. Sua pele perdera o brilho dourado acolhedor. Era como se o calor e a cor de sua pele tivessem esvaído e tudo o que restara era a palidez e a frieza intensa. Com a garganta apertada, ela podia sentir o coração bater sangue insípido num ritmo lento e duro. Era como se tivesse perdido a capacidade de sentir, como se sua humanidade e bondade estivessem aprisionadas em algum canto remoto e inacessível.
Seu manto era grosso e macio como os pelos de um gato felpudo, preto-carvão com detalhes dourados, mas ela sentiu que nem o manto mais quente poderia aquecer aquele corpo tão frio. E ela quis sair de si quando se deparou com seus próprios olhos, o espelho de sua alma estava tomado por um vazio profundo, sombrio e assustador onde ela mesma presumiu que havia se perdido. Um brilho escurecido e acetinado que matizava dor, impiedade e crueldade. Era algo que ela não gostaria de ter visto. Seu coração tão frio e indiferente quanto um dia de inverno extremo.
O sol mal havia nascido quando ela acordou com um resfolegar doloroso na garganta e agitou-se, atormentada com o que acabara de ver, mas não houve tempo para ela refletir sobre aquilo, pois os druidas abriram a cela e avançaram.
O coração dela bateu forte e apavorado nas costelas e ela instintivamente tentou recuar, arrastando o corpo no chão, tentando esquivar-se deles. Mas não adiantou, eles a seguraram pelos braços e a levaram dali.
A poucos passos dali, uma carroça os esperava, e Mackenzie foi colocada na parte de trás. Seus braços foram atados novamente e ela foi instruída a sentar-se na parte de trás, e ela foi amarrada a carroça. Eles saíram por um breve instante, e ela ficou ali, com a cabeça apoiada a lateral da carroça enquanto esperava o seu devir. Passos foram ouvidos novamente e sem se esforçar para se certificar, ela presumiu que eles estavam voltando. O que de fato não era o caso.
— Está tudo bem? — Mackenzie ergueu a cabeça aturdida quando reconheceu a voz de Edlyn e um sentimento de proteção lhe afagasse o coração.
Ele havia voltado. Por ela.
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Reino Perdido [Concluído]
FantasyMackenzie é a legítima Herdeira do Trono de Parga. Coroada desde o berço, cresceu ao lado de seu pai, um Rei extremamente controlador e amargurado, que sempre fez o possível para mantê-la distante dos perigos que sabia que rodeava o exterior do Cast...