Druidas são criaturas pagãs que respeitam e preservam qualquer tipo de vida; são inteligentes e estrategistas para política e para as guerras, embora não as fizessem, era abnegados e benevolentes ao que acreditavam. No entanto, são novos tempos. Uma guerra se instaurava nos cantos da floresta, e Edlyn precisava retornar com a bruxa, que ele mesmo acabara de cravar uma flecha no peito.
A cena era bastante dramática e um pouco comovente, até mesmo para uma mulher como a que estava nos braços de Mackenzie.
— Everilde! — O druida exclamou afoito, guardando o arco em um único movimento na aljava para depois se aproximando das duas que estavam caídas próximo à janela.
— Filha de Malise... — A bruxa sussurrou de vagar, erguendo a cabeça para fitá-la. — A inveja me fez fazer coisas imperdoáveis. Mas sua mãe, mesmo de tudo o que fiz, foi capaz de me perdoar antes de morrer. — Ela resfolegou, levando a mão à flecha atravessada.
— Eu não sei o que aconteceu. — Mackenzie confessou, sacodindo a cabeça, ainda assombrada com o que vira refletido nos olhos da mulher. — Ela me atacou, e de repente os olhos dela... Os olhos dela... — Ela fitou os olhos da mulher, tentando ver se havia vestígios do que havia se passado ali.
— Pobre Edlyn... — Everild disse, olhando com ternura para o druida.
Edlyn tentava não se preocupar com o fato de que havia passado pó de amender na ponta das flechas, e que uma delas agora havia cruzado o coração da bruxa, mas mesmo assim, ele segurou no corpo da fecha, um pouco abaixo da pena vermelha e passou a mão por baixo do corpo dela, quebrando a ponta.
— Isso vai doer. — O druida informou, olhando de relance para conferir se Everild ainda se mantinha acordada.
Ele se sentou sobre os joelhos e segurou a respiração no momento em que puxou a flecha toda, de uma só vez para fora dela.
O grito da bruxa reverberou nas paredes, o mesmo grito agonizado que Mackenzie ouvira nas lembranças da bruxa.
— Ela vai morrer? — Mackenzie indagou com a voz trêmula, levando a mão sobre o ferimento que verteu sangue.
— Eu não sei. — Edlyn lamentou, aflito. — Tinha veneno de amender na flecha.
O veneno de amender agia como um sonífero letal no organismo de suas vítimas e havia começado a entrar na corrente sanguínea da bruxa.
Everild não podia morrer. Ela tinha que acabar com a guerra, caso isso não acontecesse, Europa os transformaria em pó. Ela destruiria tudo e o tudo por aqui não passaria de cinzas.
Edlyn ergueu a mão sobre a ferida aberta da mulher e começou a sibilar palavras que aos ouvidos de Mackenzie não podiam ser reconhecidas. Da palma da mão dele, pequenos raios de sol incidiram diretamente sobre o ferimento latente, esperando que pudesse fazer uso da ligação que possuíam que havia com a natureza. Mas não era tão simples. A intuição dele clamava à medida que ele insistia em usar aquela magia.
"Se você mesmo causou tudo isso, a bruxa não poderá ser curada."
O druida insistiu com mais intensidade; a luz brilhou mais forte e Mackenzie ficou observando atentamente os sussurros persistentes do druida, mas por mais que teimasse, por mais que ele dependesse dela; que seu povo dependesse dela, nada acontecia, porque existia uma regra que regia sua conexão com a floresta, e isso, ele não poderia quebrar.
Everild ergueu a mão, olhando fixamente nos olhos do druida.
— Não sou eu quem você procura... — ela balbuciou entre resfôlegos e tosse. — Essa garota... — A voz dela foi morrendo, conforme a vida dissipava de seu corpo. — Ela tem o poder para salvar o seu povo...
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Reino Perdido [Concluído]
FantasíaMackenzie é a legítima Herdeira do Trono de Parga. Coroada desde o berço, cresceu ao lado de seu pai, um Rei extremamente controlador e amargurado, que sempre fez o possível para mantê-la distante dos perigos que sabia que rodeava o exterior do Cast...