(3) - O acordo.

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Ao chegar em M'ellkag, eu me sentia completamente cansada e quase não conseguia me manter de pé.

Amarrei Mahi-in em uma estaca de madeira quando avistei o muro que cercava o clã e sentei em uma das rochas, dando tapas em meu próprio rosto para me manter acordada.

- Vamos, Sadie. - Disse a mim mesma enquanto contava as folhas no chão.

Encostei numa árvore e meu corpo simplesmente obedeceu, ficando completamente descansando e toda tensão se esvaindo.

De repente, sou acordada num súbito quando Mahi-in derruba várias maçãs no chão. Me espreguiço e fico com raiva de mim mesma. Não acredito que quase me deixei levar pelo cansaço.

O cantil estava vazio, então finalmente reuni coragem e levantei.

Minha roupa é diferente, e com certeza estou sendo considerada uma mendiga nesse exato momento. Vestidos vermelhos, rosa, cor salmão, amarelos chamativos e até mesmo brancos podem ser vistos em cada esquina.

Com o nervosismo de reconhecerem que sou do clã inimigo, começo a suar e amarro meu cabelo de uma forma desajeitada. Nunca vi tantas pessoas diferentes em um só lugar. Em Lightcyandawn, todos parecem ter nascido exatamente iguais, vivendo com os mesmos costumes.

Paro em frente ao que parecer ser uma taverna e ao entrar lá, sou encarada por algumas pessoas perto da porta. Cinco moedas de prata era tudo que eu tinha, mas fiquei aliviada ao avistar um aviso em cima dos barris, que dizia para pegarmos água e não precisaria pagar. Mesmo estranhando, enchi meu cantil e bebi tudo de uma só vez.

Estava prestes a sair, mas alguém tocou meu ombro.

- Precisa pagar. - A mulher de cabelos loiros apontou para o cantil.

- Quanto você quer por isso?

Eu não estava no meu lugar de fala. Cheguei aqui há menos de uma hora e discussões não são o que quero.

- Quatro moedas de prata.

Olhei para o pequeno saco amarrado ao meu cinto e entreguei o que me pediu.

- Quatro moedas de prata. - Coloquei em sua mão e a encarei com uma daquelas minhas expressões de quando Mitchell diz ser melhor que eu.

Não era uma expressão boa.

Ao sair de lá, quase fui atropelada por uma carruagem, e para minha sorte, o cocheiro não gritou comigo. Segui pelas calçadas cheias e só então me dei conta: Onde diabos eu estava indo?

Meu braço estava bem protegido, eu não chamava atenção. Mas o que viria agora?

Não tinham lugares altos para que eu pudesse subir e tentar avistar qualquer coisa que indicasse a moradia do líder do clã de M'ellkag e nem nada do tipo.

Cartazes voavam por todos os lados, e quando pisei em um sem querer, me abaixei para pegar e soube que todos estavam agitados por causa de uma tal "festa da lua".

Fui até um jornaleiro e lhe mostrei a notícia.

- Onde? - Perguntei.

- Qualquer informação custa uma moeda.

Reli o cartaz mais uma vez, só que não tinha nada.

- Não é daqui, não é? - Ele perguntou me encarando.

Levantei meu olhar para o jornaleiro e fiz a mesma pergunta.

- Onde?

- Essa informação custa uma moeda, eu já falei. E caso não queira pagar, aqueles guardas vão precisar revistar você e tentar saber o porquê de um braço tão coberto. Está querendo esconder algo?

Joguei a moeda em cima dos jornais e então ele sorriu vitorioso.

- Toda noite de lua cheia, o clã de M'ellkag dá uma festa em comemoração aos céus pela boa colheita - Ele aponta para a nossa esquerda. - Por ali.

Uma rua longa se revelou e precisei continuar minha caminhada se não quisesse acabar muito ferrada. Guardas passavam entre a aglomeração de pessoas no meio da rua e muitos comentavam sobre a ansiedade de ver o líder do clã presente na festa.

Acelerei meus passos no meio da multidão e quando a quantidade de guardas pareceu ter aumentado, percebi que estava perto.

Uma carruagem parou em frente a uma grande estrutura de madeira, cogitei a possibilidade de ser o líder do clã. Aplausos, gritos, e, em seguida, um homem saindo lá de dentro enquanto acenava.

Ao tentar me aproximar, dois guardas impediram que isso acontecesse.

- Preciso falar com seu líder. - Falei, engolindo em seco.

- De onde você é?

Eu deveria ter aprendido um pouco mais antes dessa viagem. Estou completamente diferente, é óbvio que não sou daqui.

- A festa começa quando o sol se põe. Por que não espera até lá?

- Não são exatamente assuntos festivos que preciso tratar com ele.

Os guardas se entreolharam e fizeram menção a pegar suas espadas.

Larguei meu arco e as flechas no chão, em seguida levantei minhas mãos e sinal de rendição.

- Eu vim em paz.

Meus braços foram segurados brutalmente e eles começaram a me levar para algum lugar. Olhei para meu arco caído e uma mulher de vestido azul se abaixando ao lado dele para pegar. Seu olhar veio de relance até mim, revelando metade do seu rosto e que ela usava brincos e tinha os lábios vermelhos.

Pensei em me soltar, mas fiquei recesosa com o fato de não conseguir falar com o líder. Onde quer que ele esteja, eu vou procurar. Nem que precise ser a vida toda.

Olhei para frente e fui solta no chão como um monte de lixo.

- Essa estrangeira diz que precisa tratar assuntos com o senhor. - O guarda dá passos para trás.

O líder se vira e então dá um comando para os guardas. Fiquei sem entender, até que levaram uma adaga até a manga do meu vestido e revelaram minha marca.

- Por que o clã de Lightcyandawn mandaria uma espiã? - Ele me analisa. - Hoje é um dia de festa, não quero tomar atitudes severas, então diga o que faz aqui.

"Atitudes severas" Você sequer me deixou falar.

Respirei fundo e comecei:

- Estou disposta a fazer um acordo de paz com o seu reino. Eu sou... A próxima líder do meu clã e não suporto ver meu povo morrendo de fome todos os dias.

- E o que pretende? Levar os grãos do meu povo? Do trabalho deles?

- Podemos pagar. Faremos o que for possível e impossível - Olhei em seu rosto. - Só peço que considere a possibilidade de uma trégua. A nossa terra está se recuperando em sua própria velocidade e...

- Por favor, não continue - Ele se vira. - Não farei um acordo com o clã de Lightcyandawn nem sob ameaça de morte. E quando for a próxima líder, saiba que se voltar aqui novamente, será sentenciada à morte.

Os guardas me levantaram da mesma forma brutal e fui escoltada até o portão da sua cidade. Fiquei em silêncio e de cabeça abaixada, mas ao nós afastarmos da multidão, tirei o punhal da minha bota e tentei reagir, com a intenção de entrar em M'ellkag novamente.

Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, fui acertada com uma flecha em meu peito, e só então vi os guardas em cima do muro que protegia a cidade.

Senti uma dor intensa e soltei o punhal, caindo de joelhos no chão. Olhei para o céu claro e então a dor se esvaiu.

Parei de sentir qualquer coisa.

My Girlfriend Is a Witch • SillieOnde histórias criam vida. Descubra agora