5 - Traidor

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Magnus

-Onde você estava com a cabeça, seu idiota?! - O sol já havia raiado através das janelas de sua casa em Madrid quando eles chegaram. Antes mesmo que pudesse se estabilizar da viagem, Ragnor já resmungava em seus ouvidos. Acabou tropeçando em direção ao chão tentando segurar o caçador de sombras - Você não tem noção do que fez?!

-Acalme-se, Ragnor. Tenho tudo sob controle - Respondeu calmamente, apoiando o corpo desacordado. O menino não suportou a pressão daquele portal. Talvez não se alimentasse há algum tempo. Talvez estivesse ferido demais.

Ali mesmo, no chão da sala, desfez o feitiço que prendia as mãos juntas e começou a trabalhar, deslizando a mão através das roupas, tentando identificar algum ferimento mais grave.

-Óbvio que sim! Você... - ele respirou fundo, conseguindo continuar, dessa vez com mais calma - você sabe onde está se metendo, mas ainda assim cai no mesmo truque duas vezes, Magnus. Parece que não aprende com os erros do passado.

Magnus respirou fundo, imitando o gesto de Ragnor, ignorando-o só um pouco. Havia arranhões no abdômen do caçador, mas não eram profundos o suficiente para ser uma ameaça. Transferiu sua magia para aquela região, observando até que a pele cicatrizou em tom de rosa saudável. Então se dedicou ao rosto dele, curando os hematomas com um pouco mais de calma.

Curar nunca tinha sido sua principal habilidade. Catarina sempre foi melhor do que ele. Ela reclamaria sem parar sobre seu trabalho mal feito, o empurraria e ocuparia seu lugar em segundos.

-Não caí em truque nenhum. Mas não podia deixar que fizesse com esse garoto o que fez com William. Eu não me perdoaria. E você sabe que ele faria.

O rosto do caçador estava completamente curado agora. Ainda estava sujo, mas não tinha mais aquela palidez assustadora. As bochechas estavam começando a ficar rosadas, assim como os lábios.

Olhando assim de perto, ele parecia ainda mais frágil, mesmo que soubesse que se havia alguma coisa que aquele caçador não era, era frágil.

-Porque você se arrisca tanto por humanos? - Ragnor perguntou, dessa vez mais cansado do que enfurecido - Primeiro William, depois aquele casal e a menina. Agora esse.

Era uma pergunta que não conseguia responder. Ele olhava para aquelas criaturas, tão humanas, e imaginava quem ele poderia ser se sua mãe não tivesse sido abusada por um demônio.

Às vezes pensava que seria bom ter nascido como um humano. Ter morrido como um humano. 800 anos era tempo demais para qualquer um estar vivo. Se sentia um pouco desanimado às vezes, com suas emoções sendo sufocadas sob o peso de tanto tempo de vida. Tanto tempo de alegrias que se perdiam sob os anos de dores e tragédias.

Admirava aquelas criaturas que mesmo sendo tão mais frágeis, ainda foram capazes de resistir e sobreviver diante do caos que os sobrenaturais haviam causado, fossem esses submundanos ou caçadores de sombras.

Encantou o corpo do garoto com um feitiço anti gravidade para que ele flutuasse, e o levou nos braços até seu quarto de hóspedes com Ragnor atrás.

-Você vai ficar? - perguntou a ele - Se for, vai ter que me deixar tomar minhas próprias decisões. Sei o que estou fazendo.

Ragnor bufou mais uma vez.

-Vou ficar só até me certificar de que está tudo bem, que você não vai deixar o caçador te matar, e que Aldous não vai tentar chegar até você. Ele deve estar te odiando um pouco mais agora - Ragnor dessa vez soltou um sorrisinho.

-Ele deve ter ficado irritado por ter acabado com a diversão dele.

-Nem tanto - Ragnor respondeu - Ele está distraído demais tentando enturmar o feiticeiro novo. Não vai dar atenção a isso se ninguém lembrá-lo. Eu certamente não farei isso. Talvez amanhã a bebida faça o papel de apagar a cena de hoje da memória dele.

Stand Up - MalecOnde histórias criam vida. Descubra agora