16 - Frio

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-Magnus, ei... Magnus!

Magnus abriu os olhos preguiçosamente, sentindo seu corpo relaxado e... balançado por mãos firmes demais para ser alguém além de Alexander. E se não fosse o suficiente, ele reconheceria a voz ainda rouca logo depois de acordar.

-Certo, Alexander. Eu entendi. Só me deixe descansar um pouco - Ele resmungou com a voz arrastada. Fez-se silêncio por algum tempo, onde ele só podia ouvir a respiração de ambos. Mas logo Alexander o sacudiu mais uma vez, agora com mais delicadeza.

-Já é manhã. Precisamos ir.

Magnus abriu uma fresta entre os olhos pesados. Embora soubesse que Alexander estava certo, ele não tinha descansado o bastante para superar as diferenças de fuso horário entre Madrid e Nova York e levantar com energia.

Sentado na borda da cama, Alec estava completamente vestido com as roupas pretas tão parecida com o uniforme de caçadores. Ele tinha feito aquilo de propósito, para que Alec se sentisse mais confortável e confiante dentro de trajes que o faziam lembrar quem ele era: um caçador forte e experiente.

-Tudo bem. Você tem razão. Precisamos ir rápido - Ele concordou a despeito da própria inquietação.

Era muito estranho levantar e ter os olhos de outra pessoa sobre ele em um momento de fragilidade, onde ele ainda estava vulnerável, se recompondo pela noite anterior, e Magnus percebeu que há muito tempo isso não acontecia. Era enervante e de uma intimidade que ele não queria voltar a ter. Não quanto tudo poderia ser destruído em um piscar de olhos.

E Alec tinha preparado café da manhã para eles.

Ou talvez "preparar" não fosse a palavra certa. Ele tinha separado coisas que não tinham estragado. Ou que não tinham estragado a muito tempo. Não era a melhor refeição que tinha feito na vida. Também não era a pior. Então comeu de bom grado esperando que Alec não fizesse perguntas sobre o futuro.

Ele não fez.

Quando já estavam alimentados e Magnus se sentia um pouco mais desperto, eles apenas afastaram a louça usada e se apoiaram no pequeno sofá.

-Alexander - ele chamou com suavidade, mantendo sua expressão neutra. Ele não perguntaria se Alec confiava nele, não quando o caçador não poderia decidir isso por contra própria - Você tem certeza que quer fazer isso?

Alec compreendeu imediatamente.

-Compartilhar minha energia com você é a única coisa que pode nos tirar daqui. A única outra alternativa é andar até o instituto para atravessar o portal. Mas é perigoso demais andar por aí assim. Você pode ser reconhecido. E você não poderia atravessar sem permissão da Clave de qualquer forma. Seria inútil - Um calor acendeu em seu coração, junto com a centelha insistente da culpa. Ele não queria Alec preocupado com ele.

-Eu sei cuidar de mim mesmo, Alexander - Respondeu, deixando o rapaz meio desconcertado.

-Eu sei que sabe. É só que... deve ser difícil não poder confiar no próprio povo. Eu não confiaria depois do que aconteceu ontem - Magnus se preparou para protestar, mesmo sabendo que Alec tinha razão - Ragnor foi ótimo, e ele é seu amigo, eu sei. Mas os outros...

-Não são muito diferentes de pessoas normais. E as coisas têm estado complicadas demais para confiar em quer que seja. Não os culpo.

-Eu os culpo. Ragnor nos ajudou. E teve ajuda para ajudar você. Eu vi. Nem todos foram imbecis. Eles não precisavam tratar você daquela forma.

Magnus não protestou. Ele não queria ter aquele tipo de conversa com Alexander naquele momento. Era tudo mais complicado do que ele poderia entender. O mundo já não era o mesmo, ainda que Alexander tivesse contato o suficiente para compreender como os submundanos agiam. Tudo tinha mudado, até mesmo para caçadores de sombras, e por mais que eles estivessem tentando, ele temia que uma reconstrução completa com relações descomplicadas fosse impossível, considerando tudo.

Stand Up - MalecOnde histórias criam vida. Descubra agora