20 - Nada normal

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Alec sentou na beira do telhado da mansão Lightwood torcendo para que a brisa suave o fizesse sentir um pouco mais livre. Um pouco mais ele mesmo.

A verdade era que se sentia hesitante e inquieto com Isabelle, com Jace, ou com seus colegas. Ele precisava evitar estar sozinho na presença deles, mas em qualquer lugar que estivesse, olhares nervosos e temerosos o seguiam e ele se via obrigado a se refugiar no telhado todas as noites.

Não era qualquer pessoa que passava mais de um mês na companhia de um submundano e simplesmente voltava em perfeito estado, como se nada tivesse acontecido.

Só seus irmãos e Jéssica o tratavam normalmente, mas novamente, ele se sentia invadido. Sua mãe não ficava em casa por tempo suficiente e ele sabia que tudo estava um caos e ela estava substituindo Valentim no posto de inquisidor. Valentim, atacado na fronteira de Idris a ponto de ser carregado quase morto pelos parceiros. Dearborn e Aldertree mais feridos do que qualquer outra vez que Alec tinha visto.

Ninguém sabia o que tinha atacado porque eles simplesmente não diziam.

Ele suspirou frustrado enquanto balançava os pés no vazio. À frente e acima... igualmente vazio. Escuridão vazia e inquietante que não o deixava em paz.

Ele precisava respirar, mas algo sufocava seu peito e o impedia.

Ele sentia dor.

Não uma dor lancinante ou incapacitante, mas uma dor surda no fundo de sua mente que não o deixava esquecer. Ele buscava identificar o que poderia ser aquilo, mas nada era convincente o suficiente. Ele desenhou runas e fez o que lhe pediram: descansou e descansou por quase uma semana e quase ficou louco. Ele precisava fazer algo. Qualquer coisa. Caçar, lutar, treinar até a exaustão. Quem sabe assim ele fosse capaz de dormir mais uma vez.

No fim, ele chegou à conclusão que aquela sensação não era física. Era puramente psicológica. Em algum momento ela desapareceria. Ele torcia que acontecesse rápido, antes que enlouquecesse de vez.

-Aí está você, seu idiota - Amigável como sempre, Jace pulou a janela do sotão, aproximando-se com cuidado pela beira do telhado até sentar ao seu lado, perto o bastante para que um pouco do calor irradiasse. Jace era como um sol, todo dourado e iluminado.

Jace sorriu e ele podia ver que seu parabatai sabia que algo não estava certo com ele, mas também não queria pressionar. Ele cederia logo, Jace não era conhecido por ser paciente.

-Muito obrigado. Me sinto muito feliz por ser tão bem tratado em minha volta para casa - Ele retrucou. Talvez se fingisse bom humor Jace pudesse deixá-lo um pouco.

Droga, Alec! Repreendeu a si mesmo.

Nunca houve companhia melhor do que a de Jace e de Isabelle e ainda que eles estivessem se esforçando para tornar as coisas normais mais uma vez, ele simplesmente dificultava tudo. Ele só nunca foi bom em ser gentil, ainda menos quando se sentia tão mal.

-Sempre à disposição - Jace brincou.

O silêncio desconfortável se instalou com força.

Nunca antes tinha sido assim. A conexão deles sempre foi natural, completamente espontânea. Não conseguia entender o que tinha se perdido.

Ele costumava adorar o chão que Jace pisava... no bom sentido. Eles eram parabatai, mais próximos que irmãos, e mesmo que Alec tivesse confundido as coisas em algum momento, ele sabia que aquilo não deveria acontecer. Nem mesmo sua paixão platônica deixou as coisas tão estranhas.

-Jessica foi embora - Graças aos céus - os Hawkblue estão percebendo que você não parece se importar.

-Eu nem me lembrava que deveria, na verdade - Ele sabia que em algum lugar de Idris uma boa moça estava esperando o momento em que ele chegaria para pedi-la em casamento, mas aquilo nunca lhe pareceu tão idiota - Nossos pais não casaram por amor. Mas os pais deles sim. As histórias que nos contaram sobre a beleza e a pureza do amor dos caçadores de sombras simplesmente se perdeu - ele resmungou.

Stand Up - MalecOnde histórias criam vida. Descubra agora