10 - Suspeitos

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7 anos antes - Madrid - Espanha

Ele saiu de casa sabendo que não seria incomodado.

Era um ser do submundo.

Era livre agora.

Desceu as escadas do loft que seu amigo Ragnor tinha "alugado" por alguns dias usando a capa preta que o deixava magnífico, mas que ao mesmo tempo deixava oculta sua característica mais marcante. Seus belos olhos felinos.

Ele não gostava de se esconder, nem de se preocupar demais com regras. Gostava de ser livre. Livre para fazer o que quisesse. Gostava de poder escolher entre ter a companhia de pessoas que estimava, assim como gostava de ficar sozinho, lendo um bom livro na companhia de seu gato. Presidente Miau adorava deitar em suas pernas quando ele se estirava para relaxar no sofá.

E também gostava de poder tomar decisões mais sérias, como por exemplo, a de não ser um prisioneiro. Ele realmente não gostava de ser um. Não nasceu para ser aprisionado. Sempre foi um insubordinado, e aquilo irritava algumas pessoas. Às vezes incomodava até seu próprio povo.

Mas ele queria ter o direito de escolher o que fazer com seus poderes, então não se opôs quando seu povo se rebelou. Estava na linha de frente lutando com os feiticeiros e os demais submundanos quando a guerra começou. Viu pessoas que amava morrendo, e viu outras que não gostava tanto assim encontrarem um destino parecido.

Viu outros, de outras espécies, agonizando em meio ao caos e destroços, sem consolo, sem a garantia de que suas memórias permaneceriam vivas naqueles que ficaram, porque quase não restaram pessoas que pudessem testemunhar sobre aquele cenário aterrador.

Catarina foi uma dessas pessoas. Uma de suas amigas de longa data, que conhecia desde que era um rebelde e imaturo - e poderoso - feiticeiro adolescente. Ela morreu tentando salvar o humano que amava e ambos ficaram presos no fogo cruzado que era a disputa de poderes entre caçadores de sombras abusivos e criaturas do submundo insurgentes.

Magnus, assim como Catarina, tinha seu próprio segredo "sujo".

Tudo bem que não era tão secreto assim, mas era segredo o que ele pretendia fazer com aquilo.

Esperava ver as consequências quando chegasse em casa, que o aguardava do outro lado da rua, escondido à vista de todos. Era isso que tornava o esconderijo tão bom.

O submundo fervilhava, celebrando a recém-adquirida liberdade. Vampiros, lobisomens, feiticeiros... todos estavam distraídos demais para prestar atenção nele enquanto caçavam, conversavam, ou apenas ficavam ali, sem fazer nada, observando as outras criaturas, para que não saíssem do controle.

Atravessou a calçada que agora era palco para um grupo de fadas vestidas com folhas e adornadas com flores, ignorando propositalmente quando uma delas se aproximou, acompanhando-o enquanto dançava rodeando-o ao som da música que suas companheiras produziam, para chegar ao seu próprio apartamento.

Deixou a fadinha desapontada na rua, dando-lhe uma piscadela, e fechou o portão. Elas eram mal educadas, mas não invadiam a privacidade de ninguém. Eram criaturas demoníacas, não bárbaras.

Se esforçou para caminhar devagar até a porta de entrada de sua casa. Sabia que não adiantaria muita coisa, já que o barulho da madeira gasta anunciaria para o seu mais novo "inquilino" que estava chegando. Só podia esperar que ele não estivesse mais lá. Fechou os olhos com força e respirou fundo, a mão na maçaneta, e todos os seus pensamentos direcionados para o desejo de que ele não estivesse mais lá, desejando que sua vontade se tornasse realidade.

Stand Up - MalecOnde histórias criam vida. Descubra agora