voltando, mas por enquanto

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Os dois dias se passaram voando e lá estava eu esperando o portão abrir pra ganhar minha liberdade novamente. Partir de agora eu sou maior de idade e respondo pelas merdas que faço. Tenho que tentar andar na linha porque agora pode ser cadeia valendo.

O barulho do metal enferrujado que se afastava pra esquerda da parede de cor verde revelou uma bela paisagem. Meus olhos doeram ao ter a luz em contato a eles. O ar puro que adentraram os pulmões me deixavam cada vez mais ansioso. Minha mãe poderia estar ali pra poder me dar um abraço e  me dizer feliz aniversário mas não estava. Ninguém veio me buscar. Não é pra menos quem se importaria!

Com pressa saí dali sendo cumprimentado pelos guardas. Com Poucos deles fiz amizade o que era raro alguém me engolir com toda essa tralha de problemas emocionais.

O ponto de ônibus ficava a quinhentos metros dali fui andando com minha mochila até lá. Percebi um carro encostando a minha frente.

-Yuri!

- só pode estar brincando_ balbuciei apressando o passo.

- Entra no carro!

- não perdi nada aí. Sem tempo pra sua palhaçada Wagner!

- O mesmo pivete birrento!

- o mesmo traira de sempre, não fala comigo seu estrume de rato!

- Entra na porra do carro muleque. Seu irmão pediu pra vir te buscar nem que seja na marra.

- então tenta! Eu dou um doce pra você! Por tua causa eu passei quase um ano naquele inferno e vc acha que aparecendo aqui vai estar tudo resolvido?

- Eu não tenho culpa se você é muito criança pra resolver seu b.o sozinho armaram aquela merda pra nós dois.

- mas não foi ninguém que me deu de bandeija prós homens! Foi você seu duas caras! Faz o favor de ir pro inferno e diz pro meu irmão ir junto!

Naquele momento já havia chegado no ponto de ônibus. Joguei minha mochila no banco de metal e acendi um cigarro, Wagner apenas estacionou perto e ficou me olhando como se tivesse perdido o cu na minha cara. O busão chegou próximo mas Wagner apontou sua arma pra cima atirando pro céu. O ônibus saiu a todo vapor.

- olha aqui seu desgraçado!_ pisei no cigarro e fui pra cima peitando ele.

- eu comi o pão que o diabo amassou naquela merda. Não me faça querer voltar pra lá, se não quiser sua cara toda fudida sai do meu pé!

- Eu tentei da forma fácil mas tu não colabora porra! _Rapidamente ele me imobilizou pondo  meus braços pras costas me amarrando com uma bandana. E por fim jogando no banco de trás do carro dele.

- Agora fecha o bico antes que te meta uma bala na fuça!

Que merda de aniversário!

Depois de uns minutos consegui soltar o nó que me segurava esfregando os pulsos. Wagner não falou nada apenas olhava de vez em quando pelo retrovisor.

- mas calmo?

.....

- pode ao menos falar comigo?

.....

- Você sabe que eu não tinha como assumir aquela parada! Se eu me entregasse eu estaria na cadeia.

- sempre livrando seu rabo, e colocando o dos outros na reta!

- só me deixa quetinho aqui! Nem meu tarja preta tomei hj

- Seu irmão vai se casar?

- E quem é a doida?

- agente não sabe! Sua mãe tá preparando um almoço pra comemorar e conhecer ela.

-tanto faz! Em um mês ele enjoa dela e arruma outra!

- Acha que traficante não pode amar?

- Me diz você! Pode?

- você não sabe de nada muleque!

- Que se dane!

Havíamos chegado no morro onde minha família mora! Nada mudou homens armados pra todo lado, umas piriguete de roupa curta. Os camelôs vendendo no meio da rua.... E minha casa! Na minha rua era bem calma por mais que isso pareça estranho. Minha mãe é uma nordestina que veio tentar a sorte no Rio. Conheceu um cara se apaixonou. Mas só veio descobrir que o cara é um traficante depois do segundo filho. Mas ela já estava enterrada até o pescoço pra poder voltar. Hj eles moram em casas separadas. Mas meu pai sempre está por perto! A contra gosto da minha mãe mas ele tenta se aproximar.

- Não vai entrar ?

- Sendo sincero?

- Entra logo antes que teu irmão venha e faça o show dele.

Eu não tava pronto pra ver todo mundo estava nervoso quanto a reação da minha mãe, se ela iria me tratar diferente ela ia me visitar na reabilitação mas não tinha coragem de vê-la, ela lutou tanto pra nós criar e acabei realizando o pior pesadelo dela.

Respira fundo cara você consegue!

Chegando na porta de casa toquei a imagem da Virgem e fui pros fundos onde todo mundo estava se acomodando.

- Tia Maria eu trouxe ele!

- minha mãe virou pra porta me olhou ela riu com um olhar de saudades não havia julgamento ela me abraçou forte, com seu velho  lenço no cabelo o mesmo de quando era menino.

- meu filho que saudade sua! Feliz aniversário que Deus te ilumine e te dê juízo. Venha... Vamos comer...Eu tava quase chorando com aquele monte de gente me olhando. Meu irmão sentado na ponta da mesa! Me olhava com cara de tanto faz eu igualmente.

Fui apresentado a algumas pessoas que estavam ali. Elas não sabiam o que havia acontecido de verdade nem minha mãe sabia. Na verdade se ela soubesse que o Wagner era o culpado e me fez levar a culpa ela teria o matado. Ele foi criado com meus irmãos eu não faria isso com ele pois sei que seria seu fim. Depois de falar com todo mundo meu irmão se levantou trazendo uma morena junto dele.

Intragável  •  Apenas Respirar Não Basta                         Onde histórias criam vida. Descubra agora