Somebody Else

Apology Coffee

⋆·˚ ༘ *

Gabriela jogou a última sacola de bolas dentro do galpão de equipamentos, sentindo o cansaço tomar conta de dela.

— É isso? — ela perguntou, olhando para Brait e Natalia.

— Aham. Você querem ir jantar? — Natália perguntou, intercalando seu olhar entre suas duas co-coaches.

— Eu vou malhar, — Gabriela respondeu inclinando a cabeça. Ela ainda estava lutando com aquele sentimento de culpa e raiva, e mais algo que ela não havia sido capaz de esclarecer, algo que estava lá por causa daquela mulher. Ela precisava trabalhar com isso é o melhor jeito que ela conhecia era uma boa e longa corrida.

— Oookay, — Natália disse, girando a chave para fechar o galpão de equipamentos e passando seu braço pelos ombros de Brait. — Acho que seremos só nós então, companheira!

— Ótimo, — Brait disse. — Avisa a gente se acabar antes e quiser nos encontrar. A gente se vê no treino amanhã de manhã.

Gabriela acenou com a cabeça para Natália e Brait e e arrastou pela quadra até chegar ao vestiário oficial do time. Ela pegou um dos vários conjuntos da Nike que tinha em seu armário e o vestiu, trocou seus tênis também para os de usar no exterior, queria correr pelo clube e sentir o vento bater contra seu corpo.

Ela decidiu ir até os gramados presentes no clube e dar algumas voltas ao redor do campo, correndo pelas linhas laterais e andando para se recuperar nas linhas de fundo. Mas assim que começou a correr, o brasão do Gotham FC em seu peito se sentia mais pesado do que era normalmente, e os sentimentos de culpa e raiva que ela estava carregando daquela interação com a mãe de Alex apenas acrescentou ao problema.

Gabriela não era nenhuma estranha para a culpa ou a raiva, elas haviam sido sua companhia constante por um tempo agora. Ela estava acostumada a nunca sentir coisas desse tipo, sempre preferindo ficar na paz e na gratidão, mas então a vida foi cruel com ela.

Seus pais haviam sempre apoiado sua decisão se jogar para o Gotham. Mesmo com times como o Portland ou o Utah sendo mais próximos de casa, Gabriela queria experimentar um lugar novo depois de sua graduação em Stanford. Então, cruzou oceanos. Seus seis meses na Turquia pós-graduação acabaram com uma oferta de retornar aos EUA e jogar para o mais novo time da liga, Gotham FC, e Gabriela agarrou-se na oportunidade.

Seis anos atrás ela recebeu a chance de fazer parte do primeiríssimo grupo a vestir as camisetas do Gotham, ao lado de companheiras de seleção como Fabi e muitas outras. Por seis anos, ela a vestiu com orgulho. Por seis anos ela liderou o time e a liga em pontos. Por seis anos seus pais não perderam uma partida sequer, a assistindo pela TV lá da Califórnia ou viajando para assistir a ela pessoalmente... até que um dia eles perderam.

Seis anos atrás Gabriela entrou para o Gotham. Seis meses atrás seus pais foram mortos em um acidente de carro. E sessenta minutos atrás ela havia sido grossa com uma completa estranha, e aparentemente sua filha, duas coisas que definitivamente deixariam seus pais desapontados.

Deixando escalar um grunhido de frustração, Gabriela parou de correr, levando as mãos aos joelhos em busca de sustentação enquanto respirava pesadamente. Ela pode estar quebrada além de conserto, ser apenas alguns pedaços de quem ela costumava ser, mas isso não lhe dava desculpa para fazer uma criança chorar. Especialmente a criança que havia sido a única coisa boa de seu dia.