Somebody Else

Sugarcoat

Gabriela estava tirando o celular do bolso das calças de moletom e discando o número de Sheilla antes que ela pudesse pensar mais, antes mesmo de verificar a hora.

— Oi — Sheilla disse, atendendo o telefone no terceiro toque.

— Oi de volta — respondeu Gabi, com a garganta um pouco grossa.

— Que bom que você ligou. O que você está fazendo? — Sheilla perguntou, ainda sem palavras que pudesse dizer para melhorar as coisas. Em algum lugar entre deixar Gabi na arena e preparar o jantar para Alex, ela finalmente decidiu que não havia palavras que pudesse dizer para tirar a dor que Gabriela estava sentindo.

— Eu estava... Eu estava pensando — disse Gabriela suavemente, mexendo sua pulseira entre a ponta dos dedos.

— Sobre o quê? — Sheilla perguntou, olhando para a sala onde Alex estava enrolada no sofá, com a cabeça balançando com sono.

— Alex e como ela nunca tem medo de pedir ajuda. Não importa se é com o cabelo ou pra amarrar os tênis dela. Ela só... pede — murmurou Gabriela.

— Sim, e às vezes insiste que pode fazer tudo sozinha — cantarolou Sheilla, sorrindo para Alex enquanto ela teimosamente tentava ficar acordada até o final de Toy Story.

Gabriela balançou a cabeça, recuando um pouco na cama e cruzando as pernas abaixo dela. — Sinto que estou fazendo essa segunda coisa há muito tempo... e tentei fazer novamente nos últimos dias — respondeu Gabriela, com os olhos fixos nos fios roxo, laranja e amarelo entrelaçados da pulseira.

— Não há problema em querer fazer as coisas por conta própria — murmurou Sheilla, não querendo que Gabriela se sentisse mal por pedir espaço.

— Mas tudo bem se eu não quiser hoje à noite? — Gabi perguntou, sua voz suave, quase fraca. A pergunta ficou no ar entre eles por alguns segundos, até que Sheilla finalmente falou.

— Tudo bem também — sussurrou Sheilla.

Gabriela soltou um pequeno suspiro de alívio. — Eu sei que não são tranças ou cadarços, mas estou... Estou pedindo ajuda.

— Que tipo de ajuda? — Sheilla perguntou suavemente. — Posso conseguir algo para você ou deixar Alex com Fabi e-

— Eu estava pensando mais nas linhas de ficar abraçada com vocês no sofá? — respondeu, fazendo caretas. — O que é pedir muito, eu sei. Especialmente depois de como eu agi hoje, mas...

— Você nos abraça quando estamos sofrendo. Não está pedindo muito para precisar do mesmo em troca — murmurou Sheilla. — Podemos ir aí.

— Tem certeza de que não é demais? — Gabriela perguntou insegura.

— Acho que você nem sempre percebe o quanto nos importamos com você — respondeu Sheilla com um sorriso. — Sentimos sua falta. Mesmo que você só queira que venhamos e deixemos o jantar ou assistir TV um pouco e depois irmos para casa, não seria pedir demais.

Gabriela balançou a cabeça por um momento e depois percebeu que Sheilla não podia vê-la fazendo isso, não podia vê-la respondendo.

— Então vocês vêm? — esclareceu, sentindo o peso em seu peito, aquele que estava tornando quase impossível respirar, clareasse apenas um pouco.