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Alguns dias depois...

Eu: Metralha acorda- falo metendo o pé no Metralha que cai no chão e não acorda, incrível!

Esqueci que ele está dopado, toma remédio para dormir se não tem pesadelos com a irmã falecida! Saio puxando ele pelas pernas desesperada e vejo a Valentina descendo as escadas correndo com o ursinho dela de pelúcia nos braços.

Va: mamãe me chama assustada quando eu dou a volta no pai dela e começo a puxar ele pelos braços escada a baixo
Eu: vai para o cofre Valentina, eu já chego lá- falo e ela confirma com a cabeça descendo para o subsolo da casa.

Desço atrás com o Metralha arrastado e coloco ele no cofre com a Valentina, dou um beijinho na testa da minha filha, um selinho no Metralha e saio trancando o cofre, subo para o meu quarto correndo e calço o meu chinelo enquanto coloco o colete a prova de balas e me armo até os dentes, saio de casa correndo e vejo o Pesadelo descendo de chinelo, cueca e o colete a prova de balas, com cerveja estava dormindo também.

Pesadelo: cadê o Metralha?- pergunta atirando nos moleques que estão subindo o morro
Eu: apagado no cofre com a Valentina, ele tá se dopando para dormir para não ter aqueles pesadelos que eu te falei- falo e ele confirma com a cabeça- quem é que tá invadindo?- pergunto e ele revira os olhos
Pesadelo: Paraisópolis e o Vidigal- fala e eu reviro os olhos
Eu: será que essa porra acaba hoje?- pergunto e ele da de ombros
Pesadelo: espero que sim- fala e eu confirmo com a cabeça.

Seguimos a invasão e logo os nossos aliados foram chegando, bagulho aqui tá foda, é tiro por tiro, bala por bala, homem por homem, matar para não morrer, e se cair? Cai atirando também? Pela rua só se vê vários corpos no chão, alguns envolvidos, outros inocentes, mas é isso, infelizmente esse é o preço que pagamos por viver em comunidade, aí vem político safado que rouba da gente dizer que na favela só tem bandido, não é assim não irmão, eu, meus irmãos e o meu marido somos sim da vida errada, da bandidagem, dessa vida louco, mas aqui também vários inocentes, cidadãos de bem, trabalhadores, que trabalham honestamente em busca do seu, tem gente chegando do trabalho a essa hora da madrugada e tem gente que ta saindo agora porquê trabalha longe e transporte público é pesado, tem gente que não tem opção e mora em comunidade sim! Nem todo mundo é bandido, e eu tenho certeza que se não fossem esses bandidos de terno e gravata roubando da gente, muita gente aqui teria condições de sair da favela e caçar um lugar mais simples para morar.

[...]

Já está amanhecendo, o sol já tá querendo sair e aqui eu tenho certeza que não acaba nem tão cedo, ou acaba, não sei, eu realmente não sei, um já tentou me levar embora e tá no morro em um desses becos dessa favela, o outro? Eu estou apenas procurando, mais um e essa porra toda acaba, essa porra chega ao fim e eu dou início a outro episódio da minha vida, casamento, quem sabe filhos, uma família, enfim... Só Deus sabe o que vai ser.
Já perdi muitos homens assim como os que estão invadindo, eu estou cansada, meu cabelo que quando eu saí de casa se encontrava em uma coque agora estou solto pelas minhas costas com algumas mechas soltas pelo meu rosto, eu estou morta de calor, as minhas pernas doem, os meus braços já estão tremendo por conta do cansaço de carregar armas pesadas para cima e para baixo, eu estou pingando suor, estou ofegando, o meu coração está a mil por hora, a minha cabeça apenas nos irmãos, no meu marido/noivo/namorado e na minha pequena.

Radinho:

- o Magrim caiu, o Magrim caiu, tamo levando ele para o postinho, foi um tiro no braço, tá de boa- fala e eu respiro fundo

Radinho:

Respira fundo Letícia, respira fundo, não perde o foco, é a sua vida que está em jogo aqui, o JH do Vidigal já tá morto, os homens dele chegam meteram o pé, já o RB tá por ainda, só esperando eu fraquejar para atacar, para me levar e fazer sabe o que lá comigo.

Sigo subindo o morro quietinha pelos becos, apenas atirando em quem entra no meu caminho, o Pesadelo está atrás de mim cuidando da minha retaguarda, queremos chegar no topo do morro, lá o movimento é menor e lá a gente pode descansar um pouco, eu estou morta, quase não me aguento em pé mais, a minha garganta está seca pedindo por água, eu estou ofegante, sentindo dor em casa mísera parte do meu corpo, chego no topo do morro e já caio no chão rezando para essa porra acabar logo, me abano e olho para cima esperando um milagre, e parece que consegui, olho para o lado e vejo o RB se preparando para atirar no Pesadelo e eu já saco a Glock do coldre atirando cinco vezes nele, o Pesadelo me olha assustado e eu apenas pego a fuzil atirando para cima, essa porra finalmente acabou, será que eu agora aue eu vou ter paz? Eu não aguento mais essa de acordar com medo de ser capturada e ir dormir se quando eu acordar eu ainda vou estar na minha cama ou em algum cativeiro qualquer por aí. O Pesadelo me levanta com um sorriso no rosto e eu abraço ele.

Eu: essa porra finalmente acabou, vai lá, descansa, aproveita teu filho na barriga da Fernanda porquê eu não sei até quando vai durar essa paz toda- falo e ele confirma com a cabeça
Pesadelo: te cuida filha da puta, tô de olho em tu e naquele arrombado lá que tu já tá chamando de marido- fala e eu dou risada da cara dele.

[...]

Metralha: puta que pariu, que dor nas costas- fala fazendo careta quando levanta e eu reviro os olhos
Eu: oh seu filho da puta, eu tentei te acordar mais que a porra, te joguei no chão, te arrastei pelos braços até o cofre, a porra da invasão ja acabou, a cabeça do JH e do RB estão penduradas lá no topo do morro e o bonito aqui dormindo, vai se foder viu?!- falo boladona e ele me olha confuso- tá tomando o que meu filho? Calmante para elefante? Vai tomar no cu, na próxima vez eu te deixo jogado na cama para tomar rajada de tiro no cu- falo e me viro na cama para dormir.

Meu Glorioso PecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora