beatriz
— E aí!? — Falei entrando no jaguar preto dele.
Olhei pelo vidro dele a dona Elida, ela sempre fofoca tudo. Amanhã eu vou ser o assunto do dia, certeza. E também não duvido que ela disse pra Fernanda que o Felipe veio aqui esses dias.
Lennon se debruçou me dando um selinho.
— Como você tá, preta? — Ele perguntou arrancando com o carro.
— Afim de esquecer os problemas pelas próximas horas. E você?
Abri o porta luvas dele atrás de algum chiclete. Já estava tão acostumada a sair com ele nesse carro que peguei intimidade.
— Abusada! — Ele brincou. — Eu tô com a mesma meta que tu. Essa semana foi pesada.
Concordei.
— Não tá fácil pra ninguém. — Respirei fundo. — E o Léo? Milagre que ele não tá grudado em você.
Lennon riu mascando o chiclete de menta. Consegui sentir a refrescância quando ele me deu um selinho.
— Foi na frente com os outros. Mas aí, eu nem sabia que tu morava aqui em Duque, sempre pensei ser mais longe.
Eu e ele ficávamos há meses, mas nunca soubemos muito um do outro. Ele sabia que eu tinha uma filha e só. Nunca trouxe ele pra minha casa e nunca dormi com ele. O máximo de intimidade que tínhamos era na cama.
Lennon é um cara legal, me divirto com ele. Mas pra que ter algo a mais do que já temos?
[...]
— Soltando a voz eu to melhor agora. Prosperidade pra nós que vivaz decola!
Cantava junto com o Ret e algumas centenas de pessoas. Outro cara foda que eu já poderia zerar a vida por conhecer.
— Bia, acho que seu celular tá tocando. — Lennon falou no meu ouvido e eu desesperadamente peguei o celular em cima da mesinha do nosso camarote quando pensei que poderia ser alguma coisa com a Nicole.
A Fernanda tava me ligando por chamada de vídeo. Me afastei um pouco da bagunça e fiquei num cantinho mais isolado.
— Oi? Aconteceu alguma coisa? — Perguntei quando o rosto dela apareceu na câmera.
— Ele deixou a gente aqui no shopping. Sério, Bia. Eu te amo, mas eu não faço mais esse tipo de coisa.
Eu não tava entendendo absolutamente nada.
— Que? Como assim?
— Ele trouxe a gente pro shopping, atendeu o celular e falou que ia ter que ir. Nem o ingresso esse... Olha, agora eu tô tentando chamar um Uber, mas cancela. Vê se tu consegue pra mim!?
Eu não tava acreditando que esse filho de uma puta fez isso.
— Tá bom, vou chamar pra mim também.
— Que? Não senhora. Você vai ficar com o l7 e se divertir.
Neguei. Eu queria ir pra casa dar colo pra minha filha, pra compensar o pai horrível que ela tinha.
— Eu quero ficar com a Nicole, amiga. Inclusive, cadê ela?
Fernanda virou a câmera do celular e ela tava sentada num banco do shopping com a cara de marrento enquanto tomava um sorvete. Graças a deus ela nasceu a minha cara, não aguentaria conviver com uma cópia do Felipe.
— Deixa eu falar com ela?
Minha amiga passou o celular pra minha pequena que não disfarçou a cara quando me viu na tela.
— Oi, gatinha? A mãe vai pra casa ficar com você. A gente assiste o filme que você quiser.
— A gente pode assistir Rio de novo mãe? — Vi um pouco de esperança na voz dela.
Assenti, por mais que eu já não aguentava mais assistir esse filme.
— Sim, amor. Agora vai lá pra casa com a Fê que eu já tô indo.
— Tá bom, mãe. — Ela deu um sorriso. — Mãe?
— Oi, amor?
— O papai não gosta de mim?
Pude ouvir o meu coração sendo estraçalhado. Era isso que eu queria evitar.
— Que? Não filha, seu pai te ama.
Eu não tinha tanta certeza disso.
— Ele nunca quer fazer nada comigo.
— Ele trabalha muito, bebê.
— Você também, mamãe, mas você sempre brinca comigo e me faz carinho.
Eu não sei se chorava ou sorria, só queria ir abraçar minha filha até esse sentimento de rejeição sumir do coraçãozinho dela.
— Ele não mora aqui, amor. Seu papai não tem muito tempo.
Ela cruzou os braços.
— Ele não gosta de mim! — Ela afirmou de novo.
— Amiga, eu vou tentar conversar aqui com ela. Pede aí o Uber que eu tenho apaziguar aqui. — Fernanda apareceu na tela.
— Eu vou matar o Felipe! — Murmurei com ódio.
— Fiquei com vontade também. Só não fiz isso porque a Nicole tava junto.
— Obrigada, amiga. Leva ela lá pra casa, nem passa na casa da minha mãe.
Fernanda concordou.
Nos despedimos e eu voltei pro camarote. Sentei no sofá e chamei o Uber pra Fernanda primeiro, depois eu veria o meu.
— Que cara fechada é essa? — Lennon beijou meu pescoço.
— Eu vou embora, tá bom? — Falei sem encarar ele. Ainda concentrada em arranjar um carro.
— O que, por quê?
Eu não gostava de dar satisfações pra ele e nem pra ninguém. Mas ele me pegou lá em duque me trouxe até aqui com a maior disposição, então dessa vez ele merecia saber.
— Minha filha, ela tá precisando de mim.
— Mas é problema de saúde?
Neguei, graças a deus.
— Graças a deus não. Mas é importante como se fosse. Ela acha que o pai dela não gosta dela.
Parecia até mimo da minha parte, dramático. Mas eu já me senti assim. Sei a sensação de crescer se sentindo rejeitada, menos amada. E o apoio que eu queria da minha mãe na época eu quero dar pra Nicole.
— E ele gosta?
Porra, Lennon. Não faz pergunta difícil.
— Eu não sei, mas eu só quero abraçar ela. Mostrar que ela não tá sozinha no mundo. — Encarei ele pela primeira vez desde que sentou do meu lado.
Esperava outra pergunta ou algum conselho decorado. Mas ele só me olhou profundamente por quase um minuto. Do nada ele levantou.
— Vamo. Eu te levo!
Neguei.
— Eu peço um Uber, não precisa.
Eu não tinha ideia de como conseguiria um Uber de Nova Iguaçu para Caxias, mas eu não queria que ele fosse. Tem um show todo pela frente, vai gastar todo o tempo me levando e voltando.
— Bia, você deve tá doida pra acolher tua filha. E você não vai conseguir um uber pra caxias esse horário. Por favor, deixa eu te levar?
Negaria de novo se ele não tivesse reforçando o que eu sabia que era verdade.
— Tem certeza, mano?
— Claro que eu tenho. Se eu ficar aqui vou ficar preocupado de ter te deixado ir sozinha esse horário num carro desconhecido. E também tô vendo sua agonia.
Suspirei me rendendo. O que eu não faço pela minha filha?
— Tá bom, mas pode me deixar em qualquer canto que eu me viro!
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precipício. | l7
Fanfictiono amor é como um precipício. as vezes a gente pensa que esta voando, mas na verdade esta caindo.