lennon.
— Você realmente fez isso, Lennon?
Beatriz gargalhava depois deu contar um historia de quando eu era mais jovem. Pela primeira vez a gente tava conversando sobre nós, das últimas vezes os assuntos eram girados em torno da Nicole ou o básico.
— Eu era cara de pau, mano.
Ela continuou rindo.
— Não tive adolescência. Eu tava namorando o bosta do Felipe ou sendo mãe. Mas teve uma vez, eu tinha dezesseis anos. Pulei a janela pra ir pro baile com a minha amiga. Cheguei no baile e fui atropelada por uma moto. Minha amiga me levou pra UPA, passei a madrugada toda lá, a médica disse que só tinha sido um impacto muito forte. Fui pra casa e acordei mancando. Falei pra minha mãe que tinha dormido de mal jeito. — Ela riu nostálgica. — Provavelmente ela não sabe dessa história até hoje.
— Você viveu de tanta historia, Beatriz. Pelo amor de Cristo. — Ri junto com ela.
— Verdade. Mas nada se compara em ter tido um filho com dezessete anos.
Eu sempre quis saber disso dela. Sobre não ter o apoio do Felipe, isso é óbvio. Mas me pergunto como uma menina de dezessete anos conseguiu ser tão madura pra criar uma criança da forma que ela criou a Nicole. Ela teve ajuda, não é possível. Com dezessete anos eu tava todo arrebentado andando de skate, sem noção nenhuma do que era realmente ser responsável.
— Tu teve o apoio da sua família, sei lá?
Ela riu com ironia.
— Um ponto. Meu pai também abandonou minha mãe quando ela tava grávida. E meu avô também abandonou minha avó quando tava grávida da minha mãe. A gente vive num ciclo. — Ela riu fraco. Isso claramente era um ponto delicado pra ela. — Então assim. Minha avó e minha mãe sempre foram pessoas amarguradas por causa disso. Eu não tive muita referência de homens na minha vida, e o que eu tive foram péssimas. Só que aí eu conheci o Felipe, ele trampava de atendente de um mercadinho que tinha ali perto. O lugar era da família dele e pá. Ele me prometeu mundos e fundos, e eu como não estava acostumada com homens que me tratassem com o mínimo cai no papo mais idiota. — Ela mordeu o canto da boca. — "Eu nunca vou te machucar, confia em mim". Eu confiei, confiei tanto que engravidei. Descobri em um exame de rotina que tava tendo em um projeto na comunidade. Aí eu descobri que tava grávida já no quinto mês mês e tals. E eu não fiquei mal, pelo contrário, eu vi a luz no fim do túnel pra nossa relação. A gente brigava tanto, achei que um filho faria a gente se reaproximar. Mal sabia que seria o motivo de acabar com tudo.
Toquei o ombro dela.
— Se não quiser continuar não precisa, Bia! — Falei vendo que não era um assunto que deixava ela confortável.
— Não, deixa eu falar. Por favor! Tá sendo bom desabafar. — Assenti. — Eu fiz tudo uma surpresa. Comprei um macacão, sapatinhos. Cheguei em casa e contei pra ele. Na hora ele riu na minha cara e disse que não era otario, sabia que aquele filho não era dele. Aí a gente brigou mais uma vez e eu corri pra minha mãe. Ela quase me bateu, e pediu pra eu tirar. Eu falei que não iria tirar, aí ela falou: Não vai tirar? Tá bom, mas você sai da minha casa. Aí eu tive que ir recorrer ajuda da minha amiga Fernanda que me abrigou por uns dois meses, mas eu sentia que incomodava muito a família dela. Aí como a minha mãe tinha me expulsado ela ficou sem o dinheiro de um auxílio que eu recebia na época por ser menor. Pediu pra eu voltar, e eu voltei. Passei a gravidez toda dentro de casa numa depressão horrível, mas quando a Nicole nasceu... Tudo mudou, sabe? Eu quis melhorar. Quis ser a melhor coisa pra ela.
Se eu admirava o que eu via dela, agora triplicou por saber o que ela foi. Beatriz sempre pareceu ser uma mina forte, mas saber que essa foi uma das muitas histórias que ela já viveu me faz ver que ela era mais que uma mina forte. Ela precisou se tornar uma mulher sozinha. Criou uma criança sozinha. Saiu de uma depressão sem um apoio emocional. É muito além do que ela mostra.
— Caralho. — Murmurei. — E o mais bonito disso tudo é, sua avó e sua mãe passaram pela mesma coisa que você. Mas olha pra você. — Dei uma pausa. — Você tinha tudo pra ser como elas, uma pessoa ruim. Amarga. Mas tu consegue amar sua filha e tratar ela com todo carinho do mundo. Você rompeu um ciclo. E o mais inexplicável é que depois de tudo isso você ainda brilha. Tanta gente se apaga por tão pouco, e nem é um julgamento porque cada um sabe suas dores. Mas é admirável a mulher que você se fez.
Beatriz sorriu pra mim com os olhos marejados. Acabei puxando ela pra um abraço apertado. Provavelmente pela emoção do momento eu quis voltar no tempo e ser o Felipe. Pela primeira vez na vida eu tive inveja de alguém. Eu não só seria o pai da Nicole como também pouparia a Beatriz de ter passado por tudo isso. Eu queria ter cuidado dela, mesmo na época não tendo a mínima noção de quem ela era.
— Por favor, não tenha pena de mim. Eu odeio que sintam pena. — Ela se afastou fechando os olhos e passando as mãos neles evitando que as lágrimas caíssem.
— Que pena o que garota. Eu te admiro ainda mais. Eu odeio é ter te conhecido na época errada da minha vida. Se você chegasse há dois anos atrás eu me casaria com você. — Brinquei pra quebrar aquele ar tenso. Mas não deixava de ser uma verdade. Eu não aguentava mais amar ninguém, me relacionar... Tava saturado.
— E quem disse que eu casaria contigo? — Ela brincou também. — Brincadeira, você é da hora. Se fosse há cinco anos atrás eu toparia, mas hoje é algo que eu não sinto falta. Eu tô muito bem assim também.
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vcs broxando. weeeee
mas calmaaaaa calma que os dois são teimosos
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precipício. | l7
Fanfictiono amor é como um precipício. as vezes a gente pensa que esta voando, mas na verdade esta caindo.