40| eu tô apaixonado por você

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beatriz.

E agora, vai fazer o que? — Fernanda perguntou sentando do meu lado no sofá.

Tínhamos chegado do postinho há uma hora e eu ainda não conseguia acreditar.

— Eu não tenho a mínima ideia. — Passei a mão no rosto agoniada.

Quando eu engravidei da Nicole eu tive a certeza que eu teria ela, mas agora... Eu não quero. E eu me sinto tão culpada por isso.

— Você não vai esconder isso do Lennon, né?

Olhei pra ela torcendo o rosto.

— Até parece que eu vou esconder uma coisa dessas, né Fernanda? Ele tem o direito de saber. — Dei de ombros.

Eu me preparei hoje o dia inteiro como eu falaria pra ele. Apaguei todos os rascunhos mentais, eu não tinha a mínima ideia de como contar. Mas com certeza não vai ser com uma caixa cheia de macacões brancos.

— Quer que eu fique quieta?

Assenti focando em algum canto da sala.

Eu tava grávida de cinco semanas e meia. Já fiz a conta e não tem como não ter sido no dia que a gente veio da praia e transamos no chuveiro. Foi também a única vez que a gente vacilou e não usou camisinha.

Eu me sentia uma imbecil. Queria voltar no tempo e mudar isso. Mesmo que eu esteja mais calma fisicamente, minha cabeça estava uma zona. E eu só queria dormir pra fingir que nada disso tava acontecendo. Só que eu não podia, ainda tinha a Nicole.

Eu tava fodida.

[...]

— Oi, amor. — Falei entrando na casa da minha mãe.

— Mamãe! — Ela veio me abraçar. Peguei ela no colo e enchi seu rosto de beijinhos.

— Eliza, tenho que falar com você. — Minha mãe falou aparecendo na sala com um pano de prato no ombros. — Nick, você pode por favor ir lá pro quintal rapidinho?

Desci a pequena e engoli seco. Iria acontecer de novo.

— Você tá grávida? — Ela me olhou semicerrando os lábios.

Meu corpo voltou a ficar trêmulo e eu sentia que iria ceder a qualquer momento.

— Mãe...

— De novo, Eliza. De novo... — Ela jogou o pano em cima do sofá me assustando.

Eu nunca na minha vida consegui bater de frente com a minha mãe. Ela era o meu pior pesadelo.

— Agora é diferente. — Falei com a voz falhada. Meu olhos começaram a marejar. Eu sentia que não aguentaria ficar firme por tanto tempo.

— Claro que é. Você só se esfrega com o pai da criança, não tá nem namorando pra relevar. — Ela suspirou. — Olha, quando a Nicole falou que você tava passando mal eu não quis acreditar. Mas aí eu lembrei da burra que você é.

Abaixei os olhos. Eu queria muito só revidar, mas não conseguia.

— Torce pra esse não te abandonar que nem o outro. Porque aí você vai criar duas crianças sozinhas e eu não vou ajudar em porra nenhuma.

Deixei as lágrimas caírem.

— Para, mãe. Por favor! — Implorei me sentindo perder o controle do meu corpo de novo.

— Olha se você tiver um pingo de neurônio ainda, você vai tirar isso.

Estava tudo se repetindo. Tudo. E talvez ela tenha razão, eu era uma burra.

— Nicole? — Chamei a pequena limpando as lágrimas.

— Oi, mamãe? — Ela apareceu animada na sala.

— Vamo? — Perguntei e ela assentiu indo dar um beijo na avó.

Não consegui olhar pra minha mãe. Só peguei na mão da pequena e fui pra casa.

— Mãe? Por que você tá com essa carinha? — Nicole subiu no sofra pra sentar no meu colo.

— Carinha de que, amor? — Forcei um sorriso.

— De triste. — Ela fez um carinho nas minhas bochechas e eu senti um pouco de conforto.

— A mamãe só não está tendo um bom dia. Mas depois eu melhoro. — Beijei a bochecha dela.

Nicole deitou a cabeça no meu peito e a gente ficou ali naquele chamego. Até meu celular começar tocar me fazendo voltar pra realidade insuportável.

Vi no visor o nome do Lennon e suspirei antes de atender.

— Oi, Ldez?

— Oi, doida. Como você tá?

— Cansada. — Dei um riso nasal. — E você?

— Preocupado. Sei que eu tô chato te perguntando toda hora como você tá. — Ele riu fraco também.

— Relaxa, entendo tua preocupação. E agradeço por ela!

— Não vou mais ir pro Rio depois amanhã cedo. Vou amanhã de noite. Tá bom?

— Não to te atrasando?

— Tá não. Assim que eu chegar no Rio eu vou direto pra Duque. Tá bom?

— Tá bom... Vou dar um banho na Nicole e tentar comer alguma coisa.

— Beleza. — Ele suspirou. — Bia? Eu te amo tá?

Perdi o ar.

— Não fala isso, Lennon. — Meus olhos marejaram.

— Me escuta. Eu sei que você não gosta deu falar essas coisas, mas essa viagem. Você passando mal me fizeram ver o quanto eu me preocupo com você. Eu te amo de verdade, Bia. E eu sei que eu tava confuso sobre o que eu sentia, mas tá bem claro. Eu tô apaixonado por você. Maluco, na verdade. — Ele riu fraco. — Não vejo a hora de ver vocês duas de novo.

Não percebi que estava chorando até as lágrimas molharem minha bochecha. E não era um choro alegre. Doía. A imagem dele voltando atrás em todas as palavras depois deu contar que estou grávida foi bem nítida pra mim. Eu tô fadada ao abandono.

— Lennon... Eu tenho que ir, tá bom?

$.$
dramático? sim. mas só quem já passou por coisa parecida entende.

precipício. | l7Onde histórias criam vida. Descubra agora