28| não to afim hoje

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lennon.

5 dias depois.

Eu tinha mais dois dias pra ficar livre no fim de semana em fortaleza, mas eu recusei. Eu precisava relaxar, e passar dois dias numa prainha daqui resolveria isso? Sim! Mas a minha saudade não me deixou ficar. Falei pro pessoal que se eles quisessem ficar por ali por mim de boa, e que eu dava meus pulos.

E realmente dei. Consegui passagem pro Rio de última hora, mas consegui chegar antes das nove no aeroporto. Peguei um táxi e fui direto pra Duque.

[...]

Desci do táxi e entrei pra dentro do quintal dela. Bati na porta com o coração na mão. Em um minuto Beatriz abriu.

A reação dela não foi como eu pensei. Ela tava pra mais assustada.

— Oi, né!? — Cobrei alguma reação dela.

— Mamãe, é o Lelê? — Ouvi a voz da Nicole atrás dela.

Beatriz saiu da minha frente me dando a visão da Nicole no colo do Felipe. Então eu entendi a reação dela.

Apertei a mordida sentindo um pouco de ódio de ver aquela cena. E o que me fazia não ter mais raiva era ver que a cara da Nicole estava tediosa. Mas quando me viu saiu correndo do colo do cara e veio me abraçar.

Abaixei apertando a pequena nos braços mas sem tirar os olhos dele. O desgraçado ainda tinha coragem de me olhar com um ar de deboche.

— Chegou quem faltava! — Felipe falou levantando do sofá.

— Felipe... — Beatriz disse entredentes como se repreendesse ele.

— É, eu sei que eu estava faltando. Né, princesa. Tu sentiu falta do Lelê? — Olhei pra Nicole que brincava com os meus cordões.

— Muita, muita!

— Eu também, meu amor. — Alisei o rostinho dela.

Vi o Felipe trincar a mandíbula e fiquei estranhamente satisfeito com isso.

— Lelê, quer ver o trabalhinho que eu fiz hoje?

Assenti animado.

— Vamo lá que eu quero ver. — Falei deixando minha mochila no canto.

— Eu não sei se você percebeu mas atrapalhou. Tava conversando com a minha filha. — Felipe me barrou de subir pro quarto dela.

— É, mas eu cheguei agora. A menos que ela queira continuar conversando com você. — Medi ele com indiferença. — Você quer terminar a conversa com ele e depois a gente vai ver seu trabalho, Cole?

Ela me olhou meio receosa. Por uns segundos eu senti medo dela dizer que preferia conversar com o Felipe, e não é por vaidade. Tô nem aí pra ele, mas doía de um jeito estranho ver ela com ele.

— Eu não quero mais conversar com ele. — Ela disse com um pouco de medo. Senti um alívio no meu peito.

— Nicole, volta aqui. Eu sou seu...

— Felipe!? Ela não quer falar com você. — A voz da Beatriz foi rude. — Lennon, pode subir com a Nicole. — Ela pediu olhando sério pra mim.

Assenti subindo com a pequena pro quarto dela.

[...]

— Aí aqui é eu e o Blue. — Ela mostrou dois rabiscos. Um marrom e o outro azul.

— Meu deus, você é uma artista. Isso aqui tá muito lindo. — Falei fazendo os olhos dela brilharem.

— Meu pai disse que isso era dois rabicosos

Meu ódio duplicou. Que cara filha de uma puta.

— Ele não entende nada de desenho. Você é incrível desenhando! — Alisei as trancinhas dela.

— Quer que eu faça um desenho pra você, Lelê? — Ela falou animada.

— Claro que eu quero. Posso te contar um segredo? — Falei baixo pra ela. — Daqui uma semana é meu aniversário.

Ela botou a mão na boca com a surpresa. Gargalhei deixando meu corpo todo relaxar em cima da cadeirinha de brinquedo dela. Quase quebra. Mas esse era um dos poderes dela sobre mim.

— Você vai me chamar pra sua festa semana passada? — Ela perguntou também como segredo.

Gargalhei. Eu tinha esquecido que ela confundia as semanas.

— Você vai ser a pessoa mais especial na minha festa semana passada.

— Lennon? — Ouvi a voz da Beatriz me chamar da porta. — Você pode vir aqui comigo? — Assenti. — Filha, você espera a gente aqui um pouquinho?

Nicole concordou.

Levantei da cadeirinha e segui a Beatriz até a cozinha. E pelo que eu vi o merda já tinha ido embora.

— Pode falar! — Falei assim que entramos.

— Olha, eu não gostei. Nós dois odiamos o Felipe com razão, adorei os fechos que você deu nele. Mas não na frente da Nicole. Eu não quero que ela cresça no meio de situações assim. Então eu peço humildemente que quando vocês três estiverem no mesmo ambiente, trata ele com educação. Eu sei que ele não merece, mas é pela Nicole. — Ela suspirou. — Ela é esperta, pega as coisas com toda facilidade.

Ela tinha toda razão. Mais um pouco e eu discutiria com ele ali mesmo e só me segurei mesmo pela Nicole. Mas mesmo assim, não é legal ela ver esse tipo de situação.

— Desculpa. Eu realmente não deveria ter falado com ele na frente dela. Não vai se repetir. — Suspirei. — Eu não sei explicar, Bia, o que eu senti. Tá ligada? Eu só... Mano, eu já sabia que um dia esse momento aconteceria, só não sabia que eu sentiria tanta raiva, ciúmes... E eu sei que eu não tenho nenhuma propriedade sobre ela pra sentir essas coisas. E que o pai dela é ele, mas...

— Não. Ele não é pai dela, e você tem todo direito de sentir isso. Quem cuida dela é você, quem ama e se preocupa de verdade é você. Então eu acho justo você sentir tudo isso.

Beatriz dizia tudo com uma certa seriedade que eu estranhei, mas deixei de lado. Ela tinha acabado de ver eu e o ex dela se estranhando, não era pra estar saltitando de felicidade. Ou talvez sim. Mas não naquela situação.

— Isso me dá mais um alívio e mais segurança. Mas sério, Bia. Me desculpa mesmo por ter feito aquela situação. — Me redimi mais uma vez com ela.

Me aproximei dela pra tentar dar um beijo, mas ela desviou.

— Não tô afim hoje.

precipício. | l7Onde histórias criam vida. Descubra agora