beatriz.
três semanas depois
Fazia acho que umas três semanas desde que o Lennon veio dormir aqui. Depois também dele ter postado o meu bilhete nos storys e a internet ter falado o quanto éramos um casal bonito e blá-blá-blá. Acabou que o Lennon adiou o lançamento da música por conta disso, então minha consciência pesou. Fiz um vídeo no story dizendo que eu só tinha brincado com ele e pra não sair por baixo ele acatou se passar por um casal na internet. Não expliquei o que éramos, mas garanti que estávamos bem distantes de um casal de namorados.Até então tudo normalizou. Sem dezenas de pessoas mandando mensagem no direct. Sem gente enchendo a merda do saco nas minhas publicações.
E nesse um mês que o Lennon vai passar longe eu jurei que teria um pouco de afastamento dele com a Nicole. Mas foi bem diferente disso. Quase todos os dias dessas semanas ele liga por chamada de vídeo pra falar com ela, ele pra mim que não queria que ela tivesse a sensação de ter sido "abandonada" por ele também. Nem preciso dizer o quanto me deixou fraca ouvir isso dele.
Minha filha passou a dar importância pro pai tanto quanto ele da pra ela. E no começo eu achei que fosse só uma projeção dela do que seria um "pai" no Lennon, por isso acabou não ligando pro Felipe. Mas com o tempo eu fui entendendo que o Lennon não era uma projeção, ele realmente dava o amor que ela precisava receber. E aquelas coisas, né? Quando se tem o suficiente não se sente falta de ter mais.
[...]
— Tchau, gente. Até segunda! — Dei tchau pro povo sentado nas mesas do corredor.
— Tchau, gatinha. — Babi falou alto.
Apertei o térreo no botão do elevador e agradeci por mais uma sexta. O ruim é que não teria lugar nenhum pra ir, passaria a sexta sozinha em casa. Tomando cerveja e assistindo filmes de ação. E pra falar a verdade, no cansaço que eu estou nesses últimos dias pra mim tá perfeito.
Guardei o meu crachá na minha mochila e sai assim que as portas abriram pra mim. Sai pra fora do prédio enorme da Liberty Seguros.
Como sempre eu fiz minha rotina até pegar o ônibus que parava um pouco pra baixo da minha casa.
Coloquei meu fone e fechei os olhos sentindo meu corpo doer em partes específicas. Minha mente começou rodar em coisas como todos os dias; Contas, Nicole, casa, Nicole, Férias do meio do ano da Nicole. Mas minha cabeça me pregou uma brincadeira bem da de mal gosto. Acabei pensando nele de novo. Me repreendi pela quinta vez no dia por isso.
[...]
— Tchau, Lelê! Agora eu vou lá na minha vovó, tá bom?
Lennon concordou mandando um beijo.
— Tchau, princesa! Beijo.
— Te amo. — Ela falou simples e desceu do meu colo.
Gelei e olhei pro Lennon. Ele não tava diferente. Apesar da cara de surpresa tinha um sorriso lindo.
— Ela falou isso mermo? — Ele perguntou ainda bobo.
Assenti sorrindo.
— Caraca, essa menina vai me matar do coração ainda. — Vi os olhos dele lacrimejarem. — Bia? Deixa eu falar que eu amo ela também!
Senti meu coração falhar.
— Beleza. Nicole? — Chamei a pequena de volta.
— O que foi, mamãe? — Ela apareceu com a mochilinha azul dela.
— O Lelê quer te falar uma coisa. — Virei o celular pra ela.
— Pequena? O Lelê também te ama, muito mesmo. Assim que eu chegar aí de viagem a primeira coisa que eu vou fazer é ir te dar um abraço. — Ele falou com a voz quase falhando.
— Tá bom, Lelê! Tô com a saudade desse tamanho. — Ela estendeu o braço.
— Eu também. Mas agora falta bem pouquinho, eu juro!
Os dois se despediram de novo e eu virei a tela de novo pra mim e vi os olhos dele ainda cheios de lágrimas. Eu sei qual era a sensação que ele tava sentindo agora, senti isso uma vez também.
— Meu coração ficou pequeninho de saudade, Bia. — Ele sorriu.— Ela já não se aguenta mais de saudade de você também.
Lennon revirou o olho limpando o canto dos olhos evitando que as lágrimas caíssem.
— Toda vez que eu falo que eu tô com saudade é de você também. Tu sabe disso.
Mordi o canto da boca. Inferno.
— Tá apaixonado, Ldez? — Joguei verde.
— Óbvio que não. Nossa relação tá muito além de um casal. Tu não acha não?
Eu não sei como explicar mas eu broxei. No fundo, no fundo eu tinha a expectativa dele poder estar gostando de mim. Ouvir ele dizer isso me comprova que o melhor era só pira da minha cabeça.
— Sim. Ldez, vou ter que desligar aqui. Preciso levar a Nicole na casa da minha mãe. Depois a gente se fala?
— Com certeza. Beijo, Eliza!
Revirei o olho.
— Tchau, Lennon!
Desliguei a chamada e fui realmente levar a Nicole pra casa da minha mãe.
Quando eu voltei pra casa tomei um banho, me coloquei dentro de um camisetão e peguei uma cerveja. Coloquei um filme de ação, mas não tava me distraindo o suficiente.
Eu tinha que ser madura pra assumir que eu estava criando algum sentimento pelo Lennon, sim. Mas também imatura pra fingir que não e seguir minha vida até isso parar de existir. Qual a probabilidade disso acontecer tendo ele no meu convívio e não podendo simplesmente ignorar ele? Exatamente, zero!
Acabei indo dormir pra não pensar mais nisso.
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precipício. | l7
Fanfictiono amor é como um precipício. as vezes a gente pensa que esta voando, mas na verdade esta caindo.