7| biscoito de sal

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beatriz.

Mamãe, quem é esse moço na sua cama? — Nicole sussurrou no meu ouvido me fazendo despertar.

  Encarei minha filha de olhos arregalados e depois pra mim e pro Lennon do meu lado. Merda.

— É um amigo da mamãe, filha. Você consegue descer lá embaixo pra assistir tv? eu já tô indo.

  Ela encarou o Lennon mais uma vez do meu lado. A cara dela estava fechada, porém com a curiosidade gritando. Logo ela saiu do meu quarto me fazendo suspirar.

  Logo agora que ela tá meio confusa com as coisas que o pai dela já disse pra ela. Era o que faltava, ela encontrar um homem desconhecido na cama da mãe dela.

  Virei pro outro lado vendo o Lennon dormindo pesado. Dava até dó de acordar, mas ela pra ele ter ido embora!

— Lennon? — Chamei e não tive nenhuma resposta.

  Sacudi o ombro dele fazendo despertar.

— Que? — Ele parecia confuso.

— Cara, por que você aí foi embora? — Levantei da cama fazendo o lençol sair do meu corpo.

  Fui pro armário pra pegar um vestido leve.

— Desculpa. Deitei aqui pra tirar um cochilo antes de ir. Perdi a hora. — Ele sentou na cama ainda meio perdido. — Aliás, que horas são? Cê sabe?

— Provavelmente umas dez da manhã. Minha filha já chegou e te viu.

  Eu tava brava por ele ter ficado, mas se a Nicole flagrou a gente foi culpa minha também. Eu quis trazer ele aqui pra casa. Quebrei uma regra que eu mesmo tinha imposto pra mim mesma, que era: nunca trazer homem pra casa.

— Mentira? — Ele arregalou o olho assustado.

  Assenti me olhando no espelho pra ver se tinha alguma coisa fora de ordem.

— Não. Lennon... Levanta e, por favor, vai embora. Não querendo te expulsar, só que... Você entende né?

— Imagina. Eu entendo, e te peço mil desculpas de novo. Juro pela minha vida que era só um cochilo.

— Relaxa. Só tenta ir rápido!

  Dei as costas pra ir atrás da Nicole. Eu não tinha ideia de como estava a cabeça dela, mas com certeza estava com mais dúvidas do que o normal. E eu não sei se tô preparada pra dar as respostas.

Desci e encontrei ela assistindo algum programa de desenho. Sentei do lado dela no sofá e suspirei pra me preparar.

— Era seu namorado, mamãe?

Namorado? Como ela sabe o que é isso com cinco anos de idade, gente?

— Namorado? De onde você tirou isso?

— A Fê também tem namorado.

Ah. Tinha esquecido que ela viu a Fernanda dando uns pegas em um carinha e pra explicar ela falou que era namorado dela.

— Não filha. Eu disse que ele era um amigo da mamãe.  — Me liguei que o Lennon desceria e ela veria ela de novo. — Vamo tomar café?

  Eu sei que essa conversa não tinha acabado, mas precisava tirar o L7 da visão dela.

— Mamãe, ele vai ser meu pai? — Ela perguntou confusa.

Eu sabia que ela misturaria isso com o que o pai dela falou.

— Não, amor. Seu pai vai continuar sendo o seu papai. Eu já disse que ele é só um amigo da mamãe e nada mais.

Olhei pro Lennon descendo as escadas e vi a merda piorando.

Nicole olhou pra ele desconfiada e com a sobrancelha erguida. Se não fosse uma situação tão ruim seria engraçado. Lennon tava sem graça, ele nem conseguia me encarar.

— Oi! — Ele acenou da escada pra Nicole.

— Quem é você? — Ela perguntou debochada.

Lennon me olhou sem saber o que responder. Silabei: amigo.

— Eu sou amigo da sua mamãe.

— E porque você tava dormindo com ela?

Meu Deus, Nicole.

— Filha. — Repreendi.

— Como é seu nome? — Ele perguntou.

Nicole me olhou como se pedisse permissão pra falar. Assenti.

Ela não conversava com nenhuma pessoa que ela se sentia insegura, precisava que eu permitisse. Eu não precisei dizer pra ela fazer isso, acabou vindo dela.

— Nicole.

— Nossa, que nome bonito. — Ele sorriu ainda nervoso. — Então, Nicole. Algum amiguinho seu já dormiu aqui com você?

Minha filha ficou um pouco pensativa, mas concordou. A Kamilly, amiga da creche dela vinha dormir aqui as vezes.

— Então. Eu vim dormir com a sua mamãe.

É, até que ele tinha se saído bem.

— E vocês assistiram desenho comendo biscoito? — Ela perguntou com empolgação por ser o programa favorito com a Kamily.

Ele assentiu.

— Sim, foi muito legal. — Eu senti o tom dele e neguei rindo.

Minha filha ficou cabisbaixa.

— Eu queria ter participado.

Arregalei o olho.

— Não, filha. Não queria não.

— Queria sim, mamãe. Eu gosto de assistir comendo biscoito.

— Você não ia gostar do biscoito e nem do desenho. Eram chatos. — Lennon fez careta.

— Era biscoito de sal?

Gargalhei e Lennon concordou. Ela odiava biscoito de sal.

— Você também não gosta de biscoito de sal?

Ela negou fazendo careta.

— Não. Fica grudando aqui. — Ela apontou pro céu da boca.

— É ruim, né? Gruda no dente também. — Lennon começou puxar assunto.

Que palhaçada. Era só pra se justificar.

— Como é seu nome? — Nicole perguntou curiosa.

— Eu sou o Lennon.

— Mamãe o Lennon pode ser meu amigo? Ele também não gosta de biscoito de sal. — Ela me olhou esperançosa.

Que vontade de matar o Lennon mas também de abraçar.

— Pode, filha. Mas acho que tá na hora dele ir. Né, Lennon? — Olhei pra ele.

— Ah, verdade. Eu tenho que ir, Nicole. Qualquer dia eu venho aqui pra gente falar mal do biscoito de sal.

Minha filha ficou animada.

— Mamãe, a gente não ia tomar café? O Lennon pode tomar com a gente? Por favorzinho? — Ela fez carinha de pidona. Aí era golpe baixo.

— Se ele tomar café da manhã com a gente, você vai me ajudar a limpar o quintal?

Ela ficou pensativa. Eu tava torcendo pra que ela falasse que não, já que ela odiava me ajudar a limpar o quintal.

— Tá bom, mamãe. — Ela falou meio triste. Mas correu na direção do Lennon e puxou ele pela mão pra cozinha.

— Rápido, por favor! — Falei pra ele baixinho.

precipício. | l7Onde histórias criam vida. Descubra agora